28.4.11

extra: jaime pérez no eleven (9 a 15-05)


[Panorâmica do restaurante Eleven, no alto do Parque Eduardo VII, em Lisboa, e o chef catalão Jaime Pérez fotografado no restaurante Vistas, Algarve (fotos D. R.)]

Não chega a uma hora o trajecto entre Albufeira e Vila Nova de Cacela. Por oposição a Cacela Velha, que permanece encantada a pairar sobre a ria Formosa, a Nova cresceu junto à estrada e à linha de comboio. A bem da verdade, ela é apenas um ponto de referência maior para encontrarmos Sesmarias, a localidade onde, ao abrigo dos olhares curiosos, se ergue, rodeado de um magnífico campo de golfe e primorosos jardins mediterrânicos, o resort Monte Rei.


Por esta altura do texto, quase aposto, já se estão a perguntar o porquê de, num blog dedicado a Lisboa (e arredores), me estar a afastar tanto do foco principal. Mas lá chegarei, prometo. Retomando o fio à meada, escrevia eu que no final do Verão passado fui até ao Algarve semi-profundo, entre a serra e o mar, para conhecer, no já citado resort, o restaurante Vistas e a excelência de Jaime Pérez, que passou pela “escola” de Ferran Adrià, Sergi Arola ou Oriol Balaguer e trabalhou no Ritz Carlton Arts Hotel, em Barcelona.


Ainda sem estrelas Michelin, a alta cozinha deste chef catalão de 37 anos não tem paralelo, até ver, naquele extremo algarvio. E, no entanto, não é uma novidade; ou melhor, até é, pois existe há cerca de quatro anos mas, pelo facto de ficar num resort, de esse resort trabalhar com clientes estrangeiros e de estar afastado do pólo Albufeira-Vilamoura, acabou por não ter até hoje a divulgação esperada. E merece. Peréz, como chef executivo, proporciona no Vistas uma experiência de fine dining. O termo, algo pomposo mas preciso, rapidamente é descodificado pela simplicidade de Peréz, que pratica uma cozinha de autor, mediterrânica mas assumidamente ibérica. 

 
[Espuma de batata, servida como amuse-bouche, e lombo de vaca Charolês (fotos de JMS)]

A boa nova é que, pelo menos na semana de 9 e 15 de Maio, não é preciso ir até ao Algarve para degustar as suas criações. Na mesma linha do "se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé", a cozinha de Pérez será dada a provar a quem estiver por esses dias em Lisboa graças a uma parceria como o restaurante Eleven


Firme no alto do Parque Eduardo VII, com uma vista que não é para todos, o Eleven, comandado pelo simpático e talentoso chef Joachim Koerper, está apostado em fazer de 2011 um ano ímpar, desdobrando-se em iniciativas gastronómicas, e a provar que há vida depois de ser ter perdido uma estrela Michelin — um duro revés, mas que não é, não pode ser, o fim do mundo.


A parceria com Jaime Pérez, como chef convidado, é uma delas. A fórmula escolhida assenta num almoço "executivo", totalmente a cargo de Pérez, que custará €35 por pessoa e incluirá amuse-bouche + prato de peixe + prato de carne + sobremesa (bebidas à parte), e num jantar de degustação, a quatro mãos (Koerper e Pérez), que custará €89 por pessoa e incluirá amuse-bouche + seis pratos, com sobremesa (bebidas, mais uma vez, à parte).

[Tártaro de atum com gelado de wasabi e chocolate em diferentes texturas (fotos D.R.)]

Tive oportunidade de provar, numa apresentação prévia, o menu de almoço e posso falar do que vi e saboreei. A abrir, espuma de batata com ovo escalfado e aroma de trufa, agradável à vista e ao palato; seguiu-se, no peixe, um tártaro de atum com gelado de wasabi e dois molhos, soja e maracujá, o meu preferido pelo contraste dos molhos e pela forma como o wasabi, em vez de invasivo, ficou acertadamente reduzido a uma nota de frescura que se casa muito bem com o atum cru; no prato de carne, lombo de vaca Charolês com tartelete Wellington, saboroso e bem executado, mas sem grande surpresa; e a terminar — se não contarmos as mignardises servidas com o café —, chocolate em diferentes texturas (sorvete, mousse, crocante, biscoito e molho), que perdura na boca.

Semana Gastronómica com o chef Jaime Pérez, de 9 a 15 de Maio, rua Marquês de Fronteira, Jardim Amália Rodrigues, 1070, tel. 213 862 211, almoços de seg. a sáb, entre as 12.30 e 15.00, e jantares de seg. a sáb., entre as 19.30 e as 23.00
Experimente também fazer a sua reserva através da Best Tables, aqui 

27.4.11

trigo latino

[Ambiente retro, sem chegar a ser castiço, é a tónica dominante do Trigo Latino que ocupa as instalações de uma antiga dependência bancária (fotos D.R.)]

Quem nunca desesperou na hora de achar um restaurante à altura das expectativas e necessidades de um jantar de grupo que atire a primeira pedra. A questão torna-se tão mais complicada quando à disponibilidade e localização somamos ainda outros quesitos básicos como um preço aceitável e um menu capaz de saciar, e satisfazer, gregos e troianos.


Serve isto tudo para dizer que, apesar de ter as portas abertas desde Julho de 2009, um jantar recente de aniversário foi o pretexto para ficar a conhecer o Trigo Latino. Há quem se baralhe e hesite entre dizer que fica no bairro da Sé ou de Alfama. Certo mesmo é que se encontra — ou melhor, encontrei-o eu numa noite de chuva forte, em que caminhava quase às cegas e sem ver por onde punha os pés — numa paralela à avenida Infante Dom Henrique, na esquina da rua e do largo que respondem pelo mesmo nome: Terreiro do Trigo.


Antiga sede de um banco, como o comprova até hoje a caixa-forte, a sala apresenta-se com uma decoração intencionalmente retro que dá ares de café de tertúlia ao restaurante. Chão preto e branco, mesas quadradas e cadeiras de madeira, painéis pintados de verde a cobrir meia parede, deixando o resto livre para acomodar um sem-número de quinquilharias, entre fotografias e objectos, que nos remetem para outras histórias. O todo resulta à vista, conseguindo ser, ao mesmo tempo, acolhedor e confortável.


Na ementa, a que o crítico José Quitério deu o seu aval, as entradas, as saladas, as massas frescas, risottos e bruschettas, a carne, o peixe e as sobremesas alinham por uma tónica contemporânea que outros preferem descrever como cozinha de raiz latina com um toque de fusão. Mas dela falaria se tivesse comido à la carte. Não foi o caso. Num jantar de grupo nada como optar pelo menu de grupo que, a €25 por cabeça (pode ser negociado para €20 se se abdicar de um prato), inclui couvert (bom o patê de azeitonas), bacalhau desfiado com presunto gratinado e queijo mozzarella, peito de frango recheado com farinheira e, a encerrar, brownie de chocolate com bola de gelado ou gelado artesanal com duas bolas à escolha.


Um menu pré-definido nunca é o ideal para avaliar o talento de um chef, por isso não o farei, mas direi que cumpriu e que satisfez sem chegar a ser banal, que é um risco que se corre nestas coisas. Onde o jantar falhou, na minha perspectiva e de outros convivas, foi no capítulo bebidas. A casa, nas suas contas, calcula uma média de meia garrafa de vinho por pessoa (um tinto alentejano bastante razoável) ou meio jarro de sangria (esta, de rosé e açucarada, veio a revelar-se muito sem graça) ou dois refrigerantes ou ainda duas cervejas, fora as águas e café. Num jantar de família, talvez chegue; num jantar de amigos, acaba por se revelar insuficiente e dar azo à situação sempre desagradável, mas nem por isso inédita, de ter de pagar mais do que o previsto. Fora este pequeno-grande detalhe, nada mais a acrescentar ou a apontar.

Largo Terreiro do Trigo, nº1, tel. 218 821 282, almoços de seg. a sex., entre as 12.30 e as 14.30, e jantares, de seg. a dom., das 19.30 às 00.00 

20.4.11

pastel de belém vs. melhor pastel de nata 2011

[Descubra as diferenças entre os pastéis de Belém (no topo, à dir., e em cima, à esq., fotos D.R.) e os pastéis de nata da Chique de Belém, eleitos os melhores de 2011 (no topo, à esq./foto JMS, e em cima, à dir./foto de Bruno Rezende)]

Não sendo um profundo entendido na matéria, sou um apreciador confesso, e assumido, do pastel de nata em quase todas as suas variantes e cambiantes. O que não quer dizer que seja incapaz de distinguir o bom do acessório ou que me contente com gato por lebre. 


Vem isto a propósito da recente eleição, pela Confraria do Pastel de Nata, do melhor exemplar digno desse nome em 2011, tendo cabido à pastelaria Chique de Belém — como anunciei aqui previamente — a honrosa distinção.


Ao lado do antigo Museu dos Coches — e virada para o novo e não isento de polémica, com desenho do prémio Pritzker Paulo Mendes da Rocha (arquitecto brasileiro), que se ergue a olhos vistos —, a Chique de Belém está muito longe de ser uma novidade para quem frequenta o bairro lisboeta; do mesmo modo, há muito que se comentava a boa fama dos seus pastéis de nata. A distinção vem apenas gerar uma maior curiosidade entre os que não conheciam e que agora podem ficar na dúvida entre jogar pelo seguro e ir directo à Antiga Confeitaria de Belém, que fica apenas a uns metros de distância, ou dar o benefício da dúvida à Chique.
O meu palpite é que, passado o efeito-novidade, tudo volte ao que sempre foi, ou seja, os pastéis de Belém, conhecidos em todo o mundo, continuarão imbatíveis e a Chique continuará a não ter mãos a medir para a sua clientela fiel.


Sempre se disse que, por muito bom que seja o pastel de nata, este jamais se confunde com o pastel de Belém, cujo sabor é, de facto, diferente. Confesso que já comi, e não devo ser o único, alguns pastéis de nata que nada ficam a dever — em termos de consistência da massa folhada, textura e gosto do creme ou tempo certo de forno, só para citar os quesitos óbvios de avaliação — aos pastéis de Belém, mas, reconheço, o sabor nunca é igual.


Munido das melhores intenções — mas desprovido de qualquer rigor científico —, um dia destes passei por Belém e fui a um tira-teimas. A conclusão foi a de que a massa, estaladiça, é mais fina no pastel de nata da Chique, mas a dos pastéis de Belém é mais saborosa; no creme, não consigo notar diferença assinalável na textura, apenas no gosto (sendo de frisar que o nata da Chique está ao melhor nível daquilo que se pode esperar do género, e logo uns bons pontos acima da média dos comuns natas que se encontram um pouco por todo o lado).  


Os dois chegaram-me às mãos quentes e fiz questão de os degustar da mesma forma, que é como quem diz polvilhados com canela (dispenso o açúcar em pó), pelo que, surpresa, surpresa, só mesmo a conta final: o pastel de Belém (€0,95) é mais barato do que o nata da Chique (€1,05).

Antiga Confeitaria de Belém | Rua de Belém, nº 84 a 92, tel. 213 637 423, todos os dias, entre as 8.00 e as 23.00 (até às 00.00 de Junho a Setembro)
A Chique de Belém | Rua da Junqueira, 524, tel. 213 637 995, todos os dias, entre as 6.00 e as 21.00

17.4.11

solar do vinho do porto lisboa

[Os dois ambientes do Solar do Vinho do Porto, ao Bairro Alto, depois da intervenção do designer Paulo Lobo (fotos D.R.)]


Quando moramos numa cidade, é comum acabarmos por deixar de fora lugares e actividades que, com ou sem razão, rotulamos de "coisa para turista". Comigo não foi, não é, excepção, mas o facto de ter vários amigos de fora que me visitam com alguma regularidade obriga-me, de quando em vez, a repensar certas escolhas e a considerar programas que, de outra forma, jamais faria. Foi assim que, há uns bons anos, descobri o Solar do Vinho do Porto, ao Bairro Alto, cuja entrada se faz pelo Palácio do Ludovice, mesmo em frente ao Elevador da Glória e ao miradouro de São Pedro de Alcântara, dois outros pontos turísticos que já perdi a conta de ter mostrado. 


Na época, sempre achei o ambiente "cavernoso" do solar algo soturno e pesado, mas em mais nenhum lugar da cidade se conseguia provar a copo, e por preços muito aceitáveis, praticamente todos os tipos e categorias de vinho do Porto e do Douro.


A verdade é que, passado um certo tempo, nem mesmo os meus amigos gringos foram mais pretexto para incursões esporádicas ao solar. Fui deixando de ir até que, inevitavelmente, me esqueci dele.


Não devo ter sido o único. Tudo bem, a clientela nacional nunca foi o forte desta casa, que conta com 85% de frequência estrangeira, mas o espaço tinha potencial para mais e os responsáveis acabaram por rever a sua filosofia. E eis que, com 65 anos recém-completados, o Solar do Vinho do Porto, mais do que virar a página, se repaginou e me fez ali voltar sem sequer precisar — detalhe importante — da desculpa de estar a fazer as vezes de cicerone.


Reaberto no começo do ano, o solar diz-se agora um "bar de luxo" e recorreu ao designer Paulo Lobo — com loja própria no Porto, onde assina alguns dos restaurantes mais emblemáticos da Invicta — para ficar à altura das intenções. Na sala principal, o mobiliário original foi restaurado e mantiveram os tectos abobadados e com vigas, mas a decoração é  assumidamente contemporânea e salta à vista o verde-inglês aplicado nas novas garrafeiras que revestem praticamente todas as paredes do espaço (além de bar, o solar também é loja). Mais escondida, mas muito impactante, a sala de provas mistura, do chão às paredes, diferentes tons de azul, pois o designer tomou como mote os bonitos azulejos do século XVIII ali existentes.


Voltando ao salão principal, que acaba por ser a sala de visitas, devo dizer que, ao vivo e a cores, não é tão bem conseguido como as fotos nos levam a supor, mas a mudança foi, sem dúvida, para muito melhor. A lista de vinhos disponíveis ascende aos cerca de 300 rótulos (estando representadas 60 empresas da região), com preços que vão de €1,50 a €26,20 por cálice. Para acompanhar, produtos de fumeiro (€6-€16) ou queijos (€4,50-€8) tipicamente portugueses.


Por mim, elejo doravante o solar para uma happy hour ou começo de noitada no Bairro, pois continuam a não ser muitos os bares onde se consegue beber um Porto Tónico por €2,30 ou uma Caipiporto por €2,50. Mas fica um último reparo: se a ideia é atrair mais locais, talvez seja bom os empregados se absterem de falar entre si, e em voz alta, de assuntos particulares. Informalidade sim; sem noção, nunca.

Rua São Pedro de Alcântara, 45, tel. 213 475 707, de seg. a sex., das 11.00 às 00.00, aos sáb., das 14.00 às 00.00. Encerra aos dom. e feriados.

15.4.11

extra: george mendes (16-04) e caldeirada dos chefs (17-04) encerram peixe em lisboa

[George Mendes, chef luso-americano com uma estrela Michelin, é um dos trunfos reservados para os últimos dias do Peixe em Lisboa (fotos D.R.)]


São os últimos dias do evento que tem animado a Baixa lisboeta e atraído muita gente ao Pátio da Galé. Há quem diga que o final de festa sempre traz algum amargo de boca, mas, neste caso, não tem de ser assim. Bem pelo contrário.


Dir-me-ão, com razão, que o bom tempo — e que regalo tem sido esta Primavera-com-aspiração-a-Verão — levará a que muitos se afastem da capital durante o fim-de-semana, mas não vejo que uma coisa seja impedimento para a outra. 


Sobretudo quando, pelo menos, duas grandes atracções do programa desta edição do Peixe em Lisboa ficaram para o fim. Falo de George Mendes, mais um chef de ascendência portuguesa que brilha em Nova Iorque, à frente do restaurante Aldea. Com pinta de galã, George conseguiu recentemente a sua primeira estrela Michelin e deu nas vistas como um dos 12 participantes no reality show "Top Chef Masters". Pratica uma cozinha moderna e muito "visual", mas não deixa de acusar alguma influência lusa nas suas escolhas. Depois de Nuno Mendes e Serge Vieira (de quem falei em posts anteriores), é uma boa aposta para encher o auditório no sábado, dia 16, pelas 20.00. 


No domingo, dia 17, o almoço final é de celebração e nada melhor do que uma caldeirada — ou não fosse o peixe o grande mote deste evento — para encerrar os trabalhos e o convívio com chave de ouro. Até porque a mesma será feita a várias mãos, unindo o talento dos 13 restaurantes presentes.

Pátio da Galé, Terreiro do Paço, até 17 de Abril, das 12.00 às 00.00 (16.00 no último dia, 17), entrada desde €15/pax

14.4.11

extra: os acepipes do peixe em lisboa

[Vieiras marinadas com guacamole e pão crocante, do chef José Avillez; tosta de sapatareira, do  Spazio Buondi-Nobre (fotos de JMS)]


Confesso. Nos últimos dias, sempre que posso, dou um salto até ao Pátio da Galé, ao Terreiro do Paço, onde está a decorrer, até ao próximo domingo, o certame gastronómico Peixe em Lisboa. Na maior parte das vezes, tenho-me servido do pretexto de querer conhecer este ou aquele chef, de assistir a um ou outro evento do programa, mas também o faço, como hoje, só pelo simples prazer de passar ali ao final da tarde para, aproveitando o ambiente e a temperatura amena, petiscar. De bom grado substituo o jantar pela oportunidade de petiscar nos vários stands montados pelos 13 restaurantes participantes.


A quem não chegam as duas senhas de degustação, no valor de €5 cada, oferecidas com a primeira entrada, não resta outro remédio senão comprar mais — além das de €5, geralmente usadas para entradas e sobremesas, há também as de €8, para pratos principais, embora alguns dos restaurantes estejam ainda a cobrar €13 por criações mais sofisticadas. É um princípio lógico. 


O que já não acho tão bem, embora seja cada vez mais prática corrente em eventos de degustação, é o facto de termos de andar com um copo de vidro para trás e para a frente. É a única forma de podermos provar os vários vinhos à disposição no Peixe em Lisboa. Quem só vai por um dia, menos mal; agora quem repete a dose, arrisca-se, como eu, a esquecer-se do dito em casa e a ter de desembolsar €3 por um outro se quiser beber. Parece-me excessivo. Sobretudo se pensarmos que boa parte do vinho a copo custa ali desde €1,50.


Feito o aparte, pertinente, volto ao ponto de partida. Enquanto dura o Peixe em Lisboa, o Pátio da Galé, que pretende ser um novo ponto de encontro na cidade, ganha um atractivo extra para a happy hour ou mesmo para quem vá jantar. Ao fim e ao cabo, não é sempre que se tem à escolha diferentes propostas (ainda que em versão reduzida e adaptadas à circunstância) de alguns dos melhores restaurantes de Lisboa e arredores.


Como escrevi antes, a maioria deles anuncia o menu do dia numa ardósia, mas, para facilitar a tarefa, posso destacar alguns dos acepipes que deve mesmo provar:
- as vieiras com espuma de caril ou o caril verde thai com camarão do Umai; a coca, espécie de pizza mediterrânica à base de farinha de trigo e servida com salada de rúcula, que é uma das novidades do Arola; os búzios gratinados da Tasca do Joel; o ceviche e as vieiras da Fortaleza do Guincho; o bacalhau à brás com azeitonas explosivas ou o torricado de sapateira com abacate do José Avillez; a sopa de santola ou a tosta de sapateira do Spazio Buondi-Nobre; o caldo verde com cavala fumada do Assinatura; o risotto do Eleven; ou ainda, sem poder citar tudo e todos, a sopa fria de tomate com espuma de parmesão e sapateira ou a trouxa de camarão com couli de pimentos do 100 Maneiras.

Pátio da Galé, Terreiro do Paço, até 17 de Abril, das 12.00 às 00.00 (16.00 no último dia, 17), entrada desde €15/pax

13.4.11

extra: o melhor pastel de nata de lisboa em 2011

[E o melhor pastel de nata de Lisboa, em 2011, é... o da pastelaria A Chique de Belém (foto D.R.)]


O prometido é devido. Tal como avancei no post de ontem, a Confraria do Pastel de Nata, à boleia do evento Peixe em Lisboa, elegeu hoje o melhor de 2011 nesta categoria tão apreciada dentro e fora de portas. E o grande vencedor é o pastel de nata da pastelaria A Chique de Belém, à rua da Junqueira, junto ao Museu dos Coches e ao Palácio. Belém, que já conta com a mais emblemática casa da especialidade (mas os célebres pastéis de Belém, sabemos, são hors-concours), ganha assim um outro cartão de visita para quem aprecia o mais cotado e conhecido dos doces portugueses.


A concurso estavam 11 estabelecimentos e o júri que deu o veredicto final era composto pelo gastrónomo Virgílio Gomes (Presidente), o enólogo Domingos Soares Franco, o escanção Manuel Moreira, o chefe de cozinha André Magalhães e ainda por Rita Cupido, das Edições do Gosto.

Rua da Junqueira, 524, tel. 213 637 995, todos os dias, entre as 6.00 e as 21.00

12.4.11

extra: serge vieira no peixe em lisboa (dia 13-04, às 20.00)


[Chef luso-francês Serge Vieira, uma estrela Michelin, e uma das suas criações: Souvenir da Barreira de Coral, à base de crustáceos e bivalves com uma fina geleia de água mineral (fotos D.R.)] 


O certame gastronómico de que mais se fala nos últimos dias — bom sinal — já vai quase a meio, mas esta quarta-feira, 13,  vou voltar ao Peixe em Lisboa (ler post anterior aqui) por três razões de peso:
1. Quero aproveitar para continuar a degustar os acepipes. São 13 restaurantes presentes e é preciso repetir a dose para ter tempo, e oportunidade, para os correr a todos.

2. Serge Vieira, jovem chef de ascendência portuguesa, estará no auditório, às 20.00, para preparar algumas receitas e dar a conhecer ao público português o seu trabalho. O seu restaurante, que também é um pequeno hotel de charme, está instalado em Chaudes-Aigues, uma comarca francesa, famosa por suas águas termais, na região de Auvergne. À semelhança de Nuno Mendes (ler post anterior), também Serge está a fazer furor por ter ascendido à categoria dos super-chefs graças à sua estrela Michelin. 
Aos interessados, um aviso: reservem com antecedência o vosso lugar no auditório.

3. Ainda no auditório, mas às 15.00, a Confraria do Pastel de Nata vai eleger quem tem o melhor pastel de 2011 entre 11 concorrentes. A saber: ltis, Casa da Comida, Casinha do Pão, Estabelecimento Prisional do Linhó, Hotel Palácio, Hotel Ritz, Pastelaria Alcoa, Pastelaria Aloma, Pastelaria Chique Belém, Pastelaria Cristal e Pastelaria Suíça. Em 2010, a grande vencedora foi a Pastelaria Suíça, ao Rossio, em Lisboa.

Pátio da Galé, Terreiro do Paço, até 17 de Abril, das 12.00 às 00.00 (16.00 no último dia, 17), entrada desde €15/pax

10.4.11

extra: peixe em lisboa (até 17-04)

[Pátio da Galé, ao Terreiro do Paço, durante o evento Peixe em Lisboa e o chef Nuno Mendes (à dir.), do restaurante londrino Viajante, durante a sua apresentação no auditório (fotos de JMS)] 


A quarta edição do Peixe em Lisboa arrancou na passada quinta-feira, mas é provável que muitos tenham feito como eu e esperado pelo fim-de-semana para ir até ao Pátio da Galé, ao Terreiro do Paço. 


À semelhança do que aconteceu com a Moda Lisboa, também este evento gastronómico escolheu juntar às suas novidades um espaço ainda recente (inaugurado em Fevereiro) que, aos poucos e poucos, se vai dando a conhecer a locais e forasteiros. Para já, e fora as ocasiões especiais, o Pátio da Galé, na esquina da Praça do Comércio com a rua do Arsenal (numa área outrora ocupada por um parque de viaturas dos Correios), tem pelo menos duas esplanadas em funcionamento, mas dele, propriamente, falarei um outro dia.


A decorrer até ao dia 17 de Abril, entre as 12.00 e as 00.00, o Peixe em Lisboa, para quem não sabe, não tem só a ver com o dito. O seu primeiro grande atractivo, para um público atento mas não necessariamente gourmet, está precisamente na diversidade, pois reúne no mesmo espaço 13 restaurantes de primeira linha da Grande Lisboa: de Arola ao Eleven, passando pela Fortaleza do Guincho, José Avillez, Assinatura, sem esquecer o 100 Maneiras, o Umai, o Ribamar ou a York House.


Mas, a proposta é significativamente diferente, pois a ideia é que dêem a conhecer (e a provar) a sua cozinha de uma forma mais informal e a um custo mais acessível. Instalados em pequenos stands dispostos ao redor do pátio, todos os dias, cada um destes restaurantes prepara uma pequena lista de acepipes (entre pratos e sobremesas) que anuncia na respectiva ardósia negra.


Degustação é a palavra-chave, logo não espere porções XL, mas os preços também não vão além dos €5 a €8 (durante a semana, aos almoços, o bilhete de entrada por pessoa custa €15 e dá direito a 2 degustações de €5 cada; aos jantares, só dá direito a uma; grupos e/ou quem for mais vezes ficam a ganhar). As bebidas, por regra, saem a €1,50.


Outro atractivo está, a meu ver, no facto, de, em paralelo, haver uma programação que, consoante os dias, inclui provas de vinhos, cervejas e águas, aulas culinárias, workshops, harmonizações eno-gastronómicas, concurso do melhor pastel de nata, um mercado muito razoável de produtos regionais gourmet ou a caldeirada final da praxe.


O pequeno auditório, por seu turno, cumpre uma função mais direccionada para os amantes da alta gastronomia, entendidos ou não no assunto, pois recebe, à vez, um lote de chefs portugueses e estrangeiros de gabarito que, durante mais ou menos uma hora, preparam à frente da plateia vários pratos, enquanto explicam os mesmos e falam um pouco sobre si e sobre o seu percurso. Por lá já passou o catalão Sergi Arola (de que falei no post anterior), duas estrelas Michelin, ou o português Nuno Mendes, que, ao serviço do restaurante londrino Viajante, conquistou este ano a sua primeira estrela Michelin e está a despertar muita atenção. 


Não serão os únicos, pelo que vale a pena consultar o programa e confirmar quem serão os senhores que se seguem. É o que farei nos próximos dias e disso darei aqui conta.


Pátio da Galé, Terreiro do Paço, até 17 de Abril, das 12.00 às 00.00 (16.00 no último dia, 17), entrada desde €15/pax

5.4.11

extra: arola na lisboa restaurant week (até 09-04)

[Da esq. para a dir.: Sergi Arola (foto D.R.), entrada e recanto do Arola (fotos de JMS) no Penha Longa Spa & Golf Resort, em Sintra]

Num blogue dedicado à cidade de Lisboa faz também sentido que, uma vez por outra, a entendamos em sentido lato, de forma a poder sugerir coisas e lugares que, estando um pouco mais além, não deixam de constituir uma alternativa de passeio e evasão para quem está, de passagem ou não, na capital.

É o caso do restaurante Arola, instalado na Club House do Penha Longa Spa & Golf Resort, nos arredores da vila de Sintra. Ainda para mais quando há o pretexto de uma nova carta e a benesse do mesmo estar a propor, por ocasião da Lisboa Restaurant Week a decorrer até dia 9 de Abril, um menu especial de almoço e jantar — servido na esplanada, com vista para o campo de golfe — por apenas €20/pessoa. 

Na minha última visita fui a convite (por uma questão de isenção, insisto em dizê-lo sempre que tal acontece) com intuito de experimentar o novo menu de degustação (existe uma primeira versão, a €33/pessoa, com três entradas, um prato principal e três sobremesas; e uma segunda, a €45/pessoa, com seis entradas, um prato principal e três sobremesas), uma proposta a somar ao serviço habitual à la carte (mais informal e em conta na esplanada) e pontual, só nas noites de domingo, do Arola Tapas (selecção de tapas e de vinhos a €42/pessoa). 


[No topo, da esq. para a dir.: tostas catalãs; sardinhas portuguesas marinadas com maracujá e pimenta Calabresa; batatas bravas, servidas como entradas frias e quentes; em cima, da esq. para dir.: lombo de bacalhau com favas salteadas, puré de batata e emulsão de pimentão; trio de sobremesas com arroz doce de morango, sorbet de laranja e mousse de pistache; café com biscoitos (fotos de JMS)]


A boa notícia é que muito do que provei no Menu Sergi Arola II pode agora ser saboreado, a título excepcional, pelos tais €20 à cabeça, mas sem bebidas incluídas, o que torna o Arola, por regra mais exclusivo, acessível a um público maior. E ainda que a oferta se limite à esplanada — por sinal, muito agradável com a chegada do bom tempo —, nada o impede de apreciar o espaço no seu todo e de usufruir de uma experiência que inclui lascas de porco ibérico com rúcula, abóbora, queijo parmesão e molho de toranja ou uma Coca (uma das grandes novidades desta temporada são estas pizzas de massa de trigo, originárias das ilhas Baleares) com vegetais e azeite virgem como entradas; o lombo de bacalhau com favas salteadas, puré de batata e emulsão de Pimentón de la Vera (a minha escolha, tendo apreciado a inclusão da morcela) ou lombo de borrego com beringelas fritas e salada de citrinos como prato principal; e, para rematar como sobremesa, um arroz doce de morango, que traz a companhia de um sorbet de laranja e de uma mousse de pistache. 

Não quero terminar, sem falar um pouco de Sergi Arola. Durante anos a fio, deixou-se fotografar na sua moto, vestido de cabedal, de brinco na orelha e a palavra COOK tatuada nos dedos da mão direita. Arola não só tem look de estrela rock, como convive de perto com elas, sendo famosas estórias como a de que, certa noite, terá levado os REM a jantar à cervejaria Santa Barbara, em Madrid, para espanto dos que lá estavam. 

Encontrei-o, a última vez, na cozinha do madrileno Gastro, o restaurante que abriu depois de deixar o La Broche, e hesitava em apresentar-se com o seu traje de motard. Arola tem consciência de que a sua responsabilidade aumentou. Não se trata de fazer apenas jus às suas duas estrelas Michelin — foi o primeiro chef espanhol a conseguir arrecadar duas de uma só assentada —, mas de passar uma imagem credível enquanto empresário (depois de Barcelona, de Madrid e de Sintra, seguiu-se São Paulo e o Chile está nos seus planos mais imediatos). Arola sabe que muito do seu sucesso, que passa também pela televisão e pelos livros, assenta no seu ar de pop star, mas leva a cozinha muito a sério e, mesmo que muitos   continuem a apontá-lo entre os discípulos de Ferran Adriá, soube fazer a sua própria escola. 

Por isso mesmo, vale a pena experimentar a sua abordagem — ainda para mais a um preço especial se o fizer a propósito da Lisboa Restaurant Week — em território nacional, onde mantém a identidade catalã e a criatividade de sempre, mas com um toque mais atlântico.

Estrada da Lagoa Azul, Linhó, 2714-511 Sintra, tel. 219 249 028, de seg. a ter., das 07.00 às 19.00, e de qua. a dom., das 07.00 às 23.00
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