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25.9.12

na abertura do ano do brasil em portugal, josé avillez faz as honras da casa e prepara dois jantares para mais tarde recordar com os irmãos castanho de belém do pará.

[Felipe, José e Thiago, no Belcanto (©jorge padeiro)]

Tendo em conta que os jantares de hoje (dia 25) e de amanhã (dia 26) estão já mais do que esgotados, o que vou fazer em seguida é quase uma maldade. Redimo-me, ou assim quero pensar, ao acrescentar duas coisas:
— A primeira é que a ocasião e os intervenientes merecem que se fale no assunto.
— A segunda é que ainda há esperança. Por conta das desistências de última hora, o Belcanto de José Avillez criou uma lista de espera.

Dito isto, e de consciência mais aliviada, passo, para quem anda distraído, a explicar do que se trata.

[Thiago e José na cozinha do Belcanto (©jorge padeiro)]

Até junho de 2013, Portugal e Brasil vão celebrar-se mutuamente através de uma programação cheia, de um lado e de outro do Atlântico. A gastronomia, óbvio, não poderia ter ficado de fora.

[Thiago, Felipe e José testam pratos na cozinha do Belcanto (©jorge padeiro)]

Resumindo, a ideia é que vários chefs brasileiros da primeira linha — e na calha estão já nomes como Roberta Sudbrack, do Rio de Janeiro, que entrou este ano para a lista dos 100 Melhores Restaurantes do Mundo segunda a revista britânica Restaurant, ou Beto Pimentel, do celebrado restaurante Paraiso Tropical de Salvador, na Bahia — sejam recebidos por colegas portugueses e, juntos, criem um menu de degustação a várias mãos para darem a conhecer o seu trabalho e provarem, também na cozinha, o entrosamento entre Portugal e Brasil.

[Belcanto (©nuno correia)]

Uma espécie de duetos improváveis que só mesmo acontecimentos especiais como este permitem que aconteça. Neste sentido, coube aos irmãos Castanho, de Belém do Pará, a honra de abrir o Festival Gastronómico, tendo por cicerone nada mais nada menos que José Avillez e o seu restaurante Belcanto, ao Chiado.

[Thiago e Felipe Castanho (©taiana laiun)]

Por mais de uma vez até escrevi sobre os Castanho, não só no blog mas igualmente numa entrevista recente que será publicada na edição de outubro da revista Volta ao Mundo (em breve nas bancas e e-paper), mas para situar acrescento apenas isto: a escolha não teve nada de aleatória. Thiago, o mais velho, e Felipe, o mais novo, ainda que na casa dos vinte e (muito poucos) anos, são já tidos como valores seguros da nova geração de chefs brasileiros que dá que falar dentro de portas e contribui para uma visibilidade nunca antes vista da gastronomia brasileira no exterior.

[Remanso do Bosque, o restaurante dos Castanho aberto em finais de 2011 em Belém do Pará)]

Instalados em Belém do Pará, na região amazónica, onde a família possui os restaurantes Remanso do Peixe (o pai, Francisco, começou o negócio numa sala da própria casa quando eles eram ainda crianças) e Remanso do Bosque (aberto em finais de 2011), os dois irmãos têm-se mostrados incansáveis na pesquisa de ingredientes e na recuperação do receituário local (para muitos cozinheiros, Belém, graças a mercados como Ver-o-Peso, é uma fonte quase inesgotável de inspiração, aprendizagem e abastecimento), provando que o potencial da cozinha não está apenas no futuro, mas também no passado.

[O amuse-bouche dos Castanho: tucupi, carimã, aviú e jambú (©jorge padeiro)]

Thiago está em Lisboa pela terceira vez desde que, há poucos anos, estagiou por seis meses com Vítor Sobral no extinto Terreiro do Paço. Para Felipe é a primeira vez, pelo que depois de uma passagem pela Cervejaria Ramiro — levados por Avillez, que já a tinha elegido para mostrar a Anthony Bourdain no No Reservations dedicado à capital—, espera ainda ter tempo, até quinta, para cumprir outros rituais como uma ida aos incontornáveis pastéis de Belém.

[A horta da galinha dos ovos de ouro de Avillez (©nuno correia)]

Detalhe curioso, mas não inédito, nem um nem outro conhecia Avillez pessoalmente, mas hoje as redes sociais tornaram tudo mais fáceis. Inclusive o intercâmbio e a troca de conhecimentos entre chefs.

[Cherne, leite de coco e dendê dos Castanho (©jorge padeiro)]

Esta parceria começou a tomar forma há coisa de dois meses, à distância e com várias viagens de uns e outros pelo meio — Thiago e Felipe vieram há pouco de um festival em Quito, Equador, e Avillez passou recentemente pelo País Basco, por São Paulo (onde lhe coube, juntamente com Luís Baena, mostrar a sua cozinha na abertura do Ano de Portugal no Brasil) e por Copenhaga, onde foi conhecer finalmente o Noma de René Redzepi, o melhor do mundo segundo a já citada revista Restaurant). 

[O bombom de cupuaçu dos Castanho (©jorge padeiro)]

Conhecidos por nunca viajarem sem os seus famosos "isopores" (geleiras em esferovite), os Castanho tentaram trazer à socapa o máximo de ingredientes de Belém para Lisboa — em hipótese alguma, confidenciaram-me divertidos, eles abrem mão do tucupi (caldo preparado a partir da raiz da mandioca brava), das farinhas, do jambú (por falar nesta flor, também conhecida por szechuan, que provoca uma certa dormência na boca, eles trouxeram na bagagem uma cachaça artesanal de jambú cujo segredo de fabrico nem mesmo eles conseguem deslindar) ou cumaru (vagem de polpa fibrosa) — mas um bom quinhão ficou retido na alfândega. Tiveram por isso de improvisar.

[Avillez na cozinha do Belcanto (©nuno correia)]

No caso de Avillez, que assume ter-se impressionado sobretudo com o tucupi ou com uso diferente que dão às farinhas, o desafio maior foi o de incluir no menu dos dois jantares alguns pratos que serve no Belcanto e que melhor se prestariam a esse diálogo entre culturas, sabores e texturas.

Já os Castanho, na falta dos peixes amazónicos de rio com que estão mais habituados a trabalhar, aceitaram a sugestão de Avillez para substituir numa dos pratos o filhote por cherne. E parece que deu certo.

Nos dias que antecederam os dois jantares no Belcanto, os Castanho e Avillez estiveram enfurnados na cozinha do restaurante a testar pratos e a harmonia entre os mesmos. Foi um processo interessante, e rico, que fê-los inclusive mudar de ideias e enveredar por outras soluções que no início nem sequer tinham cogitado. Mas essa é a beleza da coisa.


[Thiago, José e Felipe no Belcanto (©thiago castanho, todos os direitos reservados)]

A outra, sem dúvida, será a oportunidade de degustar, prato a prato, o que preparam para as duas noites. Ao contrário de outras cozinhas brasileiras, a paraense não é a que tem mais influências portuguesas, mas ela está lá, como me contou Thiago, em pormenores como as caldeiradas ou o hábito da salga dos peixes. 

Ao todo serão oito pratos. A saber: tucupi, carimã (farinha de mandioca), aviú (camarão pequeno de rio) e jambú, um amuse-bouche dos Castanho; chibé (farinha d'água, camarões secos, frescos), uma entrada dos Castanho; nhoque de banana terra, manteiga queimada e castanha do pará, outra entrada dos Castanho; a horta da galinha dos ovos de ouro, uma entrada já famosa de Avillez; cherne, leite de coco e dendê (óleo de palma), um prato dos Castanho; leitão revisitado, prato de Avillez; "Terra" e citrinos, uma pré-sobremesa dos Castanho; Bombom de cupuaçu (fruta amazónica), sorbet de chocolate da Amazónia, cupuaçu, toffee de cumaru, sobremesa dos Castanho.

[De Belém para Lisboa, a cachaça de jambú (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Como estarei na Colômbia por estes dias, não terei o prazer de ver como resultou, no todo, o menu desenhado a seis mãos, mas, para quem ainda tiver oportunidade (e sorte), parece-me ser coisa a não perder.


[Chocolate 100% cacau de Combu (©thiago castanho, todos os direitos reservados)]

Ficou-me o consolo de ter estado nos bastidores nas vésperas e, entre outras coisas, de me ter sido dado a provar a cachaça artesanal de que falei acima e algo que só tinha visto em fotos dos Castanho: o chocolate 100% cacau de Combu (Amazónia), também totalmente artesanal, que estes começaram a usar. De gosto muito intenso, mas de textura agradável e apresentação inusitada (vem embrulhado em folhas), ele será um dos ingredientes-chave de uma das sobremesas apresentadas.

E que venham mais cinco.

31.5.12

fora de portas: reviver a pompa e circunstância de seteais a pretexto dos bons vinhos de colares

[Fachada do Tivoli Palácio de Seteais (foto de divulgação)]

As horas, os dias, as semanas, os meses, e até os anos, passam a correr e, quando damos por eles e por nós, já passou um bom tempo desde que estivemos pela última vez num lugar de que gostamos.

[A piscina (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

É o caso do Palácio de Seteais, na encosta da serra de Sintra, onde funciona desde há muito um hotel do grupo Tivoli que soube manter a sua aura palaciana e valorizar um tipo de arquitetura civil e residencial neoclássica típica do século XVIII que, não há volta a dar, pede requinte, serviço sem mácula e toda uma série de ornamentos — das pinturas e frescos às tapeçarias, passando pelo mobiliário de época, luminárias ou porcelanas — que lhe façam inteiramente justiça.

[Um dos salões nobres (foto de divulgação)]

Entre fevereiro de 2008 e fevereiro de 2009, o hotel-palácio esteve fechado para um restauro profundo que envolveu, entre outras, a Fundação Ricardo Espírito Santo. Não foi coisa pequena e o resultado vê-se até hoje.

[A escadaria na entrada (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Pour le plaisir des yeux — um regalo para os olhos.

Mas, para lá da pompa e circunstância das suas áreas nobres, que sempre me levam a reservar alguns minutos para as passar em revista (nem que seja de fugida), o que me trouxe de volta ali, dias atrás, foi a paparoca.

[Chef Luís Baena (©joão miguel simões todos os direitos reservados)]

O chef Luís Baena, um discípulo assumido da cozinha tecnoemocional sempre que o faz num registo mais autoral (e tentou fazê-lo no seu restaurante lisboeta Manifesto que, ao que tudo indica, encerra as portas no mês de junho...), ocupa — desde 2007, se não me falha a memória — o cargo de chef executivo do grupo Tivoli Hotels & Resorts.

[O restaurante Seteais (foto de divulgação)]

Não é pêra doce e obriga a um bom jogo de cintura, já que tem de estabelecer, constantemente, um compromisso entre o que é a sua linha de cozinha e as necessidades práticas dos hotéis.

No caso de Seteais, onde funciona um restaurante com o mesmo nome de amplas vistas para os maravilhosos jardins, o chef em funções é António Santos, mas Baena, claro, tem uma palavra a dizer.

[O restaurante Seteais (foto de divulgação)]

Ainda que os hóspedes sejam a prioridade, o hotel sabe que atrair clientela de fora é fundamental nos dias que correm. Tanto mais porque Sintra continua a ser um destino incontornável para os passeios de fim-de-semana de muito boa gente.

Nesse sentido, e ajuizadamente parece-me, têm vindo a apostar em cartas mais nacionais, com uma degustação preparada no famoso trolley da Christofle nos jantares de sexta e sábado ou ainda um carro-buffet de 18 acepipes servido nos almoços de domingo. Igualmente tentadores são os lanches à portuguesa, outra tradição recuperada aos fins-de-semana, entre as 16.00 e as 18.30, que incluem pães, queijos e charcutaria regionais, além de bebidas mais adequadas ao verão (sumos naturais, capilé...) e inverno (chás da TWG e chocolate quente).

[A postos para a maridagem com os vinhos de Colares (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

No almoço em que estive, uma ocasião especial, Baena assumiu a cozinha e veio inúmeras vezes à sala para explicar o casamento que realizou entre os vários pratos e os vinhos selecionados da Adega Regional de Colares.

[A salada de mexilhões (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Assumo: do que comi — salada morna de mexilhão com legumes temperados com vinagrete de ananás, maracujá e goiaba, de entrada; robalo recheado com cogumelos e tomate, puré de batata, crosta de salsa e molho de camarão da costa; carrilheira de novilho confitada, arroz cremoso de beterraba fumada; e travesseiro de Sintra com gelado de chá preto dos Açores de sobremesa —, nada me entusiasmou por aí além, mas entendo que se tratava de um menu mais abrangente, com limitações de ordem prática e a obrigação, provável, de cumprir um orçamento.

[O Robalo (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Por outro lado, foi interessante ouvir o Aníbal Coutinho, enólogo, crítico de vinhos e consultor da carta de bebidas da rede Tivoli, a explicar porque se impõe uma maior atenção às novas colheitas (e não só) que estão a sair da mais antiga cooperativa do país — a Adega de Colares foi fundada em 1931 —, integrada numa região demarcada que leva a denominação de origem e a indicação geográfica de Vinho Regional Lisboa.

[O travesseiro com o gelado de chá preto, a acompanhar o licoroso Conde de Oeiras (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Curioso é que muitos não saibam, mesmo os portugueses, que na região de Lisboa se produzem bons vinhos desde há muito. A prová-lo, não só os de Colares — de que fazem parte os do Senhor d'Adraga, do Casal de Santa Maria e de quem já falei aqui —, mas também o Conde de Oeiras, para dar outro exemplo. Este vinho licoroso, muito associado ao Marquês de Pombal, foi-nos aliás servido com a sobremesa, numa manobra de charme que atesta bem a vontade em recuperar também o Vinho de Carcavelos.

À falta de outras oportunidades, ficam a saber que em Seteais alguns destes vinhos estão na carta e podem ser desfrutados por quem ali for. 

Tivoli Palácio de Seteais | Rua Barbosa do Bocage, 8, Sintra, tel. 219 233 200

6.12.11

6ª edição do príncipe real live: city lights (8-10.12.11)


Não tenho memória de uma época pré-natalícia tão animada como esta.

Tendo em conta a conjuntura atual, o facto pode parecer um contra-senso; para muitos, estou certo, será mesmo até encarado como uma espécie de provocação.

Eu, chamem-me otimista, prefiro encarar tudo isto como uma demonstração de inconformismo, de criatividade e de, porque não?, de espírito solidário.

[AR-PAB Antiques, uma das lojas participantes no Príncipe Real Live (foto de divulgação)]

Porque não se trata de um mero apelo ao consumismo, vai mais além. O pretexto das compras de Natal (privilegiando o comércio local) é, neste e noutros casos, aproveitado para levantar o ânimo da cidade, proporcionando aos seus moradores e aos seus visitantes animações de rua, bem como nas lojas participantes, alusivas à quadra.

Temos o costume de dizer que a adversidade espevita e estimula os sentidos. Pois bem, isso só aumenta a minha curiosidade em relação à 6ª edição do Príncipe Real Live.

[O jardim da Praça do Príncipe Real (foto de divulgação)]

O tema escolhido foi "City Lights" e o evento natalício vai tomar conta das principais artérias do Princípe Real durante os dias 8, 9 e 10 de Dezembro.


Mais do que ruas engalanadas (o que já não seria mau, tendo em conta os cortes introduzidos pela CML a reboque da crise), as principais lojas, galerias e outros espaços de interesse público no eixo Praça do Príncipe Real-Rua da Escola Politécnica-Rua D. Pedro V vão ficar abertos até às 23.00 e acolher eventos tão diversos como exposições de arte, pintura, jóias, música ao vivo, degustações, entre outras coisas.

[Um dos quiosques que animam a Praça do Príncipe Real (foto de divulgação)]

Em resumo, a ideia é passar um bom bocado e levar as pessoas a passear num bairro que tem sabido reinventar-se. 

A programação é extensa, mas posso destacar as que me ficaram mais debaixo d'olho:

* Iluminação das árvores do Jardim na Praça do Príncipe Real  e montagem de uma árvore de Natal de grandes dimensões, que terá a particularidade de ser feita com materiais recicláveis e de ter como autor o artista plástico Alexandre Bobone. 
*Angariação de roupa e bens de primeira necessidade para a associação sem fins lucrativos Riso, que apoia a população carenciada da freguesia das Mercês.

[Fachada da loja Carla Amaro (foto de divulgação)]

*Carla Amaro (Rua de São Marçal,107): apresentação da colecção "Jingle Bells"; campanha troca de Natal (troca de peças antigas por vales de desconto); oferta de bebidas espirituosas e amuse-bouche sucrée.

[Convite do Orpheu Caffé (foto de divulgação)]

*Orpheu Caffé (Praça do Príncipe Real, 5-A): nos três dias, "Ophélia no Orpheu Caffé" (a partir das 17.00); no dia 8, apresentação do "Chá das 5" e Cocktail Hendricks (das 19.00 às 21.30); no dia 9, "Vinyl Seesions" com Dj Joaquim (a partir das 20.00) e degustação de caipirinhas (das 17.00 às 19.00); no dia 10, contador de histórias da "Orpheu Mini" (16.00), mini feira do livro (parceria do Orpheu Caffé com as edições "Orfeu Negro") e mercado vintage (até às 18.00).

[D'ici et Là (foto de divulgação)]

*D'ici et Là (Rua D. Pedro V, 93-95): cocktail de inauguração do Evento Principe Real "City Lights" (dia 8, às 18.00); Promoção Especial "d'ici et là” oferece um voucher de €25 por compras superiores a €250 (só pode ser usado só em Janeiro 2012); exposição de Fotografia -LOVE-, de Sabrina Strauss.

[Fabrico Infinito (foto de divulgação)]

*Montra viva @Fabrico Infinito/Babel (Rua D. Pedro V, 74): Sancha Trindade escolheu a Livraria Babel Fabrico Infinito, ou mais precisamente a sua montra, para criar um espaço vivo e à mostra de todos, onde, entre outras coisas, serão servidos jantares num espírito de partilha (convidados para jantar às 20.00, demais ações entre as 18.00 e as 23.00).

8.9.11

go arte urbana by citroën ds3

[Os dois Citroëns DS3 personalizados (foto divulgação)]

A iniciativa começou em Agosto, mas dura três meses, e só agora tive tempo para falar aqui dela.

Não sei como está a correr na prática, mas, como ideia, tem tudo para dar certo e para constituir uma forma diferente de ver e desfrutar a cidade.

Passo a explicar.

Nos últimos anos, a chamada arte de rua passou a ser encarada com maior seriedade e vista com outros olhos — muito graças à projeção internacional de artistas como Banksy —, mas, ainda assim, há quem insista em não enxergar as diferenças entre estas intervenções e o simples vandalismo.

Com graffitis premiados — só para dar um exemplo recente, o jornal britânico The Guardian elegeu o graffiti num prédio devoluto da avenida Fontes Pereira de Melo (que reproduzo abaixo), realizado por OsGemeos (dois irmãos de São Paulo), o italiano Blu e o espanhol Sam3, como um dos 10 melhores trabalhos de arte urbana do mundo —, a cidade de Lisboa está debaixo de mira e por isso a agência Torken, em colaboração com a Câmara Municipal, desenvolveu para a GAU (Galeria de Arte Urbana) um conjunto de ações das quais destaco o programa "Reciclar o olhar".

[O graffiti num prédio devoluto de Lisboa que chamou a atenção do The Guardian (foto com direitos reservados)]

Para o efeito convidaram um conjunto de autores — Dalaiama, Diogo Machado, Edis One, Glam, I am from Lisbon, Kebekua, Maria Imaginário, Miguel Brum, Nurea, Pantónio, ParizOne, Recan, Rui Ventura, STU, Travis, Vanessa Teodoro e CHURE — a deixar o seu registo plástico em vidrões "Iglo" espalhados pela cidade.

[Um tour de arte de rua exige dois carros à altura, personalizados por street artists (foto divulgação)]

Só isso já seria interessante, mas o mais giro é que qualquer pessoa, turista ou não, se pode inscrever no sítio da Gau e nas redes sociais (estão previstas também aplicações para iPhone e iPad) para, com guia e a bordo de um Citroën DS3 personalizado por ParizOne e Vanessa Teodoro, passar em revista as várias obras seleccionadas nas ruas de Lisboa. 

Deixo-vos aqui o vídeo e também o link para quem se quiser inscrever nos tours.

7.9.11

nuno baltazar pop store na fno lisboa 2011 (8 a 10.09)


Não me vou alongar muito sobre a Fashion's Night Out, mas entre todos os eventos que vão tomar conta da cidade, acho que vale pena falar um pouco da Nuno Baltazar Pop Up Store.

Sei que muita boa gente já perdeu a paciência para esta coisa das lojas pop up, que pipocam ao sabor das modas, mas, tendo em conta o foco da FNO e que a iniciativa do designer Nuno Baltazar não se vai limitar à tarde e noite do dia 8 — a loja tem prazo de validade, mas prolonga-se até dia 10 de Setembro, entre as 10.30 e as 19.30 —, justifica que se lhe dê ao menos o benefício da dúvida.

Instalada no nº60 da rua Garrett, ao Chiado, a loja temporária  vai trazer até à capital portuguesa aquilo que, por regra, só se encontra na matriz do Porto. À venda estarão peças da coleção feminina, mas também velas, acessórios, perfumes para a casa e até livros de lifestyle. A preços de amigo, prometem.

Ah, e quem os visitar no dia 8, entre as 19 e as 23 horas, vai ser recebido com uma bebida de boas-vindas.

22.7.11

a nova duque d'ávila

[Snoopy Parade, na Duque d'Ávila até 15 de Agosto (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Depois de anos e anos — tantos que lhes perdi a conta — entaipada, a avenida Duque d'Ávila foi finalmente devolvida à cidade e está, aos poucos e poucos, a apanhar o ritmo e a encher-se de vida.

As obras de alargamento da rede do Metropolitano, neste caso entre as estações do Saldanha e de São Sebastião, levou  muitos lisboetas  a evitarem-na e a procurarem alternativas, o que só penalizou ainda mais os comerciantes da zona. Muitos deles não aguentaram e fecharam as portas. 

[Snoopy Parade, na Duque d'Ávila até 15 de Agosto (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]
 
[Snoopy Parade, na Duque d'Ávila até 15 de Agosto (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A quem resistiu, um merecido prémio. A Duque d'Ávila, além da ciclovia em pleno coração de Lisboa — luxo inédito por cá —, tem agora mais bancos para ficar a ver a cidade passar, novas esplanadas e, de dia para dia, miúdos e graúdos que se rendem às suas vantagens para passear, fazer jogging e andar de bicicleta ou patins em linha.

[Snoopy Parade, na Duque d'Ávila até 15 de Agosto (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

[Snoopy Parade, na Duque d'Ávila até 15 de Agosto (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

[Snoopy Parade, na Duque d'Ávila até 15 de Agosto (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Isto sem contar com a Snoopy Parade, que, até 15 de Agosto, está a fazer as delícias de todos os que passam por ali e não resistem a interagir com as versões "customizadas" do célebre cachorro. As 20 estátuas, com 2,6 metros de altura, foram criadas por figuras como o humorista Herman José ou as decoradoras Graça e Gracinha Viterbo e vão ser leiloadas no final da iniciativa.

9.6.11

as quintas, sextas e sábados do terreiro do paço

[Os finais de tarde de sexta e sábado e as noites de quinta da Praça do Comércio estão mais animadas graças ao Terreiro do Paço (fotos de divulgação)

Não sei se serei só eu — acho que não —, mas sempre que passo pela Praça do Comércio continuo com a sensação de que ainda falta ali qualquer coisa. Qualquer coisa que lhe faça maior justiça e que a encha de vida à imagem e semelhança do que acontece praticamente em todas as Plazas Mayor na vizinha Espanha.

A inauguração do Pátio da Galé, de que já falei aqui, trouxe-lhe, bem sei, eventos como a Moda Lisboa ou o Peixe em Lisboa, além de restaurantes e esplanadas, também sei; mas, ainda assim, falta-lhe qualquer coisa. Insisto.

Isto não quer dizer, no entanto, que não reconheça mérito a algumas das coisas boas que aconteceram à praça nos últimos meses. Aliás, uma elas foi, precisamente, a reabertura do restaurante Terreiro do Paço.

[A sala de refeições do Terreiro do Paço com o seu mapa-mundo formado por postais (foto de divulgação)]

Espero, de verdade, que desta vez seja para valer. Aquele espaço merece. O Grupo Lágrimas, que começou nos hotéis antes de se lançar na restauração, é da mesma opinião, tanto que, lograda uma experiência anterior com Vítor Sobral no comando, não desistiu. 

[A decoração, despretensiosa, brinca com a ideia do "Portuguese Kitsch" (foto de divulgação)]

Manteve-se a intenção, mas, felizmente, alterou-se o conceito e a forma de estar. Porventura, perceberam, e bem, que não faz sentido ter num local eminentemente turístico e comercial um restaurante de alta gastronomia.

[O Terreiro do Paço divide-se em cinco ambientes distintos, nesta foto a sala de refeições, mais casual, e o mezanino, mais formal (foto de divulgação)]

Mas, como já outros provaram e vêm provando, um restaurante com os pés na terra não precisa ser pior. Nem menos inspirado (e inspirador, já agora). Nem lhe caem os parentes na lama por assumir uma veia mais popular, que não tem nada a ver com ser popularucho.

[A zona do bar, mais irreverente, a provar que pode haver vida nocturna na Baixa Pombalina (foto de divulgação)]

Este Terreiro do Paço assume que está num ponto turístico de Lisboa e, como tal, resolveu brincar com vários chavões associados a isso do "very typical" e do "é uma casa portuguesa, com certeza". Daí o chão branco e preto, as toalhas de plástico com padrões castiços, os copos de água das mais variadas procedências trazidos pelos funcionários do grupo — mas que fazem conjunto com os Schott Zwiesel, os copos que misturam cristal e titânio e são, pela sua resistência, o último grito para a hotelaria —, os mapas-mundo do tempo da outra senhora a contrastar com um outro gigante que se formou na parede, a pedido de Miguel Júdice, CEO do grupo, utilizando os postais trazidos pela sua avó de inúmeras viagens. 


É assim o novo Terreiro do Paço, onde se misturam ainda frigoríficos retro da Smeg, peças contemporâneas exclusivas escolhidas a dedo na Vandoma Design, caso das mesas do bar, ou que levam a assinatura de designers ilustres como os irmãos brasileiros Campana, de quem são os candeeiros (para a Skitsch).


[É no mezanino, onde só há serviço à la carte, que mais se sente o peso da história desta construção, integrada no Pátio da Galé, outrora arsenal da Marinha (foto de divulgação)]

A ementa é, também ela, uma miscelânea. Mas não uma miscelânea qualquer, bem entendido. Em vez de um chef, o grupo recorreu aos vários chefs das suas outras casas — Albano Lourenço do Arcadas da Capela, em Coimbra, Luís Casinhas da Cantina da Estrela, Miguel Oliveira dos restaurantes do Casino, sem esquecer Joachim Koerper do Eleven, todos em Lisboa — e pediu-lhes as suas melhores contribuições para criar uma carta de "Comfort Food" de inspiração lusa digna de uma tasca fina, com clássicos, releituras e algumas novidades. 

[A vista a partir do mezanino (foto de divulgação)]

Os preços, detalhe importante, são acessíveis. Dividido nas áreas de bar, mezanino, sala de refeições e duas esplanadas (uma virada para o Pátio da Galé e outra para a Praça do Comércio), o Terreiro do Paço contempla diferentes opções. Ao almoço, há serviço à la carte no mezanino e buffet (a €12) na sala de refeições; aos jantares, só há serviço à la carte; nas esplanadas e bar, além de beber, pode-se igualmente comer e petiscar durante todo o dia.

Fica, desde já, prometido para um outro post maiores detalhes sobre a ementa. Isto porque, o meu propósito é agora outro.

Apresentado o Terreiro do Paço, interessa neste momento dizer que o restaurante-bar, que já possui desde o início a presença de um Dj nas noites de fim-de-semana, se associou à ideia de elevar o fado à categoria de Património da Humanidade, criando para o efeito, todas as quintas-feitas do mês de Junho, a partir das 21 horas, uma noite temática.

[Durante o mês de Junho, as noites de quinta vão ter a fadista Cláudia Picado, acompanhada à guitarra e à viola, ao jantar (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Por 35 euros por pessoa, nesses dias, ou melhor, nessas noites de quinta, o menu inclui de entrada uma pissaladière (uma tarte de massa folhada, mas muito fina, típica da França) de pesto com salada e queijo parmesão; como prato principal ou polvo com migas de batata e broa ou lombinho de porco com puré de cogumelos e legumes salteados; e a finalizar, na sobremesa, o emblemático leite creme da Quinta das Lágrimas. As bebidas estão incluídas, além da actuação, ao vivo, da fadista Cláudia Picado, acompanhada à guitarra e à viola, como manda a tradição.

[Pissaladière de pesto com salada (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Às sextas e sábados, a partir de amanhã, dia 10, a novidade é outra e vai durar até 30 de Setembro. Rui Pregal da Cunha, ex-Heróis do Mar, é o responsável pela programação da iniciativa "Sunsets-Paço Música". 

[Polvo com migas de batata e broa (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Traduzido por miúdos, isto quer dizer que, entre as 18 e as 21 horas, às sextas e sábados, repito, vão passar pela Praça do Comércio vários músicos já confirmados como Maria Liz com Tiago Pais Dias (Amor Electro), Armando Teixeira, Gomo, Nuno Mendes (Foge Foge Bandido), João Branco Kyron com Bernard Sushi (Hipnótica), Miguel Angelo ou Lengedary Tigerman com Rita Redshoes.
 A iniciativa conta ainda com o apoio do Licor Beirão, que vai servir a bebida oficial do evento (o Morangão, pois então), e a ideia é que, após os concertos, as pessoas possam jantar no Terreiro do Paço. 

Pátio da Galé, Praça do Comércio, tel. 210 995 679, de seg. a sáb., almoços entre as 12.oo e as 15.30 (a esplanada funciona todo o dia); jantares entre as 20.00 e as  00.00 (das 00.00 às 02.00 com uma carta especial)
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