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8.1.13

domingo é dia de brunch em la boulangerie by stef

[Fachada da LBBS (foto de nuno santos editada por jms)]

Ano novo, post novo. E já não era sem tempo. Os meus afazeres como coordenador editorial da revista Volta ao Mundo complicaram a minha rotina nos últimos meses de 2012, mas, entrado 2013, prometo maior disciplina e assiduidade por aqui :)

Recuando aos últimos dias de 2012, precisamente, cumpri por duas vezes um ritual que aprecio bastante: o do brunch.

Às vésperas do Natal, incauto, achei por bem aproveitar o começo frio de uma tarde de sábado para ir finalmente conhecer o brunch do Pão de Canela, ponto assente na Praça das Flores, ao Príncipe Real.

Assumo que não terá sido a melhor altura para o fazer — lotação esgotada nos dois primeiros turnos, mesas e mais mesas de grupos e famílias que ali quiseram brincar ao amigo oculto; uma ideia simpática, não fosse o facto de atravancaram tudo e de se tornarem para os demais clientes "amigos de Peniche" —, mas não fiquei convencido. O preço é realmente interessante (não chega aos 14 euros por pessoa), com direito a repetir o que se quiser no buffet, mas, embora farto, a qualidade da maioria dos produtos é sofrível, o serviço pouco atento. Resumindo: senti falta de algo mais artesanal e personalizado. Entendo que muitos elogiem a sua relação qualidade-preço, mas, por mim, prefiro pagar um pouco mais e comer um pouco menos, mas melhor. 

Uma questão de escolha (e de gosto).

[A mesa mais disputada junto à janela (foto de nuno santos editada por jms)]

E foi assim que, no domingo seguinte, em vésperas de Réveillon, aportei em La Boulangerie by Stef, numa esquina providencial da Baixa Lisboeta, na rua da Madalena.

[Atmosfera vintage na Baixa lisboeta (foto de nuno santos editada por jms)]

Aberta há pouco mais de um ano, esta padaria com ares parisienses mas sem tiques de grandeza (uma mania que tomou conta de outras suas congéneres espalhadas pela capital), não é uma novidade-novidade. Quer dizer, ainda o é para muito boa gente, mas para muitos tornou-se, por mérito próprio, um porto seguro. Daqueles onde, consoante a hora, pode não ser fácil conseguir uma mesa porque quem chegou antes simplesmente não tem pressa em partir (e nem a isso se sente obrigado).

[À janela, num domingo em que não era tarde nem cedo (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Conhecia a casa — e a fama dos seus croissants, provavelmente (digo eu e não serei o único) dos melhores de Lisboa e arredores, nada "massudos" —, mas não conhecia o brunch, servido apenas aos domingos (das 11.00 às 16.15) e nos feriados (das 10.30 às 19.30).

[Em dia de brunch, melhor reservar mesa (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Para grandes males, pequenos remédios. Telefonei na véspera para marcar e foi a própria Stef (Stephanie Alves) quem me atendeu. Manda a regra que se façam apenas reservas para grupos a partir das quatro pessoas, mas em LBBS, e tratando-se da simpática Stef, isso pode ser um recurso de circunstância. Mesmo estando a dois, não só me fez marcação para a uma da tarde (hora de ponta, portanto), como me perguntou se queria a mesa junto à janela. Claro que queria! Escusado será dizer que me conquistou de supetão. E antes que se apressem a tirar conclusões, esclareço: na altura, a Stef estava longe de me saber jornalista; tão-pouco interessado em escrever sobre ela e a sua LBBS. Isso foi só depois.

[Dandy, mas sem mania das grandezas (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)

Antes, a preocupação era a de não chegar atrasado e desmerecer tanto cuidado. Parisiense, mas radicada no nosso país, Stef deixou-se levar por um sentimento bem conhecido dos portugueses: a saudade. No seu caso, a saudade de comer uns bons croissants e pain au chocolat. Da cidade de Lille, onde estagiou numa das maiores padarias, trouxe o conhecimento e o traquejo que precisava não para meter a mão na massa mas para saber exigir e manter o padrão de qualidade dos pães e dos doces de LBBS —  entretanto essa mesma exigência e saber-fazer fez que, falhada a tentativa de ter um padeiro português à altura da missão, Stef passasse a assumir também a confeção.

[Compotas biológicas de Azeitão e Nutella à discrição (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A casa é acolhedora. Lembra uma padaria de bairro. Muita madeira, movéis antigos recuperados, candeeiros das décadas de 1940 e 1970, louça em grés da Costa Nova, bules em ferro, revistas para ler, apontamentos rústicos mas cheios de charme, bem como algumas soluções simples, mas inspiradas. A classe está lá, em pequenas doses, mas sem complicações e sem se armar ao pingarelho.

E são simpáticos.

[Brunch na mesa, parte I (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A ementa do dia é escrita na ardósia e costuma haver tartines, hambúrgueres, saladas, vinhos e pães, claro. A manteiga usada na produção dos pães (duas fornadas por dia) vem de França; o chocolate (70% de cacau) do pain au chocolat da Bélgica. Detalhes que fazem a diferença. Mas também há coisas portuguesas, como os frascos de compota biológica de Azeitão (que estão sempre à disposição nas mesas, bem como a Nutella).

[Brunch na mesa, parte II (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

entre os 15 e os 17 euros por pessoa, a fórmula de brunch dá direito a uma cesta de pães, uma bebida quente (café, chás, galão ou cappuccino), um copo de sumo de laranja (a minha única ressalva: achei que em vez de um copo por pessoa poderiam dar um pequeno jarro para duas pessoas e colocar menos água no sumo...), um croissant ou um pain au chocolat (são enormes, um e outro) e um prato a eleger entre cinco opções de saladas que se combinam, caso a caso, com diferentes tipos de queijos, ovos mexidos, salmão, quiche e charcutaria — a última novidade a chegar foi a Salada com toasts e ovo cocotte com foie gras.

Por volta das duas e pouco da tarde, as mesas estavam já todas praticamente ocupadas. E nunca, em momento algum, me senti coagido a deixar livre o meu poiso privilegiado à janela. Ponto para a Stef. E para nós, lisboetas e não lisboetas, que ganhámos um cheirinho bom a Paris num dos trechos mais castiços da cidade.


Rua da Madalena, 57, tel. 936 155 742, de ter. a sex., entre as 09.00 e as 20.00; ao sáb., entre as 10.00 e as 20.00; ao dom., entre as 11.00 e as 17.00

31.5.12

fora de portas: reviver a pompa e circunstância de seteais a pretexto dos bons vinhos de colares

[Fachada do Tivoli Palácio de Seteais (foto de divulgação)]

As horas, os dias, as semanas, os meses, e até os anos, passam a correr e, quando damos por eles e por nós, já passou um bom tempo desde que estivemos pela última vez num lugar de que gostamos.

[A piscina (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

É o caso do Palácio de Seteais, na encosta da serra de Sintra, onde funciona desde há muito um hotel do grupo Tivoli que soube manter a sua aura palaciana e valorizar um tipo de arquitetura civil e residencial neoclássica típica do século XVIII que, não há volta a dar, pede requinte, serviço sem mácula e toda uma série de ornamentos — das pinturas e frescos às tapeçarias, passando pelo mobiliário de época, luminárias ou porcelanas — que lhe façam inteiramente justiça.

[Um dos salões nobres (foto de divulgação)]

Entre fevereiro de 2008 e fevereiro de 2009, o hotel-palácio esteve fechado para um restauro profundo que envolveu, entre outras, a Fundação Ricardo Espírito Santo. Não foi coisa pequena e o resultado vê-se até hoje.

[A escadaria na entrada (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Pour le plaisir des yeux — um regalo para os olhos.

Mas, para lá da pompa e circunstância das suas áreas nobres, que sempre me levam a reservar alguns minutos para as passar em revista (nem que seja de fugida), o que me trouxe de volta ali, dias atrás, foi a paparoca.

[Chef Luís Baena (©joão miguel simões todos os direitos reservados)]

O chef Luís Baena, um discípulo assumido da cozinha tecnoemocional sempre que o faz num registo mais autoral (e tentou fazê-lo no seu restaurante lisboeta Manifesto que, ao que tudo indica, encerra as portas no mês de junho...), ocupa — desde 2007, se não me falha a memória — o cargo de chef executivo do grupo Tivoli Hotels & Resorts.

[O restaurante Seteais (foto de divulgação)]

Não é pêra doce e obriga a um bom jogo de cintura, já que tem de estabelecer, constantemente, um compromisso entre o que é a sua linha de cozinha e as necessidades práticas dos hotéis.

No caso de Seteais, onde funciona um restaurante com o mesmo nome de amplas vistas para os maravilhosos jardins, o chef em funções é António Santos, mas Baena, claro, tem uma palavra a dizer.

[O restaurante Seteais (foto de divulgação)]

Ainda que os hóspedes sejam a prioridade, o hotel sabe que atrair clientela de fora é fundamental nos dias que correm. Tanto mais porque Sintra continua a ser um destino incontornável para os passeios de fim-de-semana de muito boa gente.

Nesse sentido, e ajuizadamente parece-me, têm vindo a apostar em cartas mais nacionais, com uma degustação preparada no famoso trolley da Christofle nos jantares de sexta e sábado ou ainda um carro-buffet de 18 acepipes servido nos almoços de domingo. Igualmente tentadores são os lanches à portuguesa, outra tradição recuperada aos fins-de-semana, entre as 16.00 e as 18.30, que incluem pães, queijos e charcutaria regionais, além de bebidas mais adequadas ao verão (sumos naturais, capilé...) e inverno (chás da TWG e chocolate quente).

[A postos para a maridagem com os vinhos de Colares (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

No almoço em que estive, uma ocasião especial, Baena assumiu a cozinha e veio inúmeras vezes à sala para explicar o casamento que realizou entre os vários pratos e os vinhos selecionados da Adega Regional de Colares.

[A salada de mexilhões (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Assumo: do que comi — salada morna de mexilhão com legumes temperados com vinagrete de ananás, maracujá e goiaba, de entrada; robalo recheado com cogumelos e tomate, puré de batata, crosta de salsa e molho de camarão da costa; carrilheira de novilho confitada, arroz cremoso de beterraba fumada; e travesseiro de Sintra com gelado de chá preto dos Açores de sobremesa —, nada me entusiasmou por aí além, mas entendo que se tratava de um menu mais abrangente, com limitações de ordem prática e a obrigação, provável, de cumprir um orçamento.

[O Robalo (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Por outro lado, foi interessante ouvir o Aníbal Coutinho, enólogo, crítico de vinhos e consultor da carta de bebidas da rede Tivoli, a explicar porque se impõe uma maior atenção às novas colheitas (e não só) que estão a sair da mais antiga cooperativa do país — a Adega de Colares foi fundada em 1931 —, integrada numa região demarcada que leva a denominação de origem e a indicação geográfica de Vinho Regional Lisboa.

[O travesseiro com o gelado de chá preto, a acompanhar o licoroso Conde de Oeiras (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Curioso é que muitos não saibam, mesmo os portugueses, que na região de Lisboa se produzem bons vinhos desde há muito. A prová-lo, não só os de Colares — de que fazem parte os do Senhor d'Adraga, do Casal de Santa Maria e de quem já falei aqui —, mas também o Conde de Oeiras, para dar outro exemplo. Este vinho licoroso, muito associado ao Marquês de Pombal, foi-nos aliás servido com a sobremesa, numa manobra de charme que atesta bem a vontade em recuperar também o Vinho de Carcavelos.

À falta de outras oportunidades, ficam a saber que em Seteais alguns destes vinhos estão na carta e podem ser desfrutados por quem ali for. 

Tivoli Palácio de Seteais | Rua Barbosa do Bocage, 8, Sintra, tel. 219 233 200

21.5.12

confirma-se: depois das amoreiras, a eric kayser vai abrir, até agosto, uma segunda loja no chiado


Há uns meses — não muitos, mas o tempo passa rápido —, quando comecei a falar aqui da Eric Kayser em versão lisboeta, disse logo que na calha estaria já uma segunda loja em Lisboa.

Não deu outra.

Até agosto, os sócios Laurent d'Orey e Julien Letartre esperam ter a casa arrumada para abrir as portas da sua nova localização na rua do Carmo (à Baixa Chiado, na esquina com o elevador de Santa Justa), num espaço que já foi da Livraria Portugal.

A segunda Eric Kayser lisboeta ocupará cerca de trezentos metros quadrados, repartidos pelos dois primeiros pisos de um edifício que deverá incluir ainda apartamentos para arrendar.

Até onde apurei, a Eric Kayser do Amoreiras Plaza está a correr muito bem, mas não conseguiu, até ver, fazer vingar como desejado a sua linha de refeições leves. Por isso mesmo, o Chiado, que tem outro tipo de movimento (de locais e turistas), deve revelar-se providencial nesse sentido.


Para lá da linha de pães e bolos que são sucesso garantido da marca (e cuja produção será partilhada com a unidade das Amoreiras), os dois sócios prometem inovar (fala-se num segundo andar destinado às refeições da hora do almoço). Entre as novidades já avançadas, destaca-se uma uma linha própria de sanduíches embaladas para levar e produtos como uma club sandwich de salmão e creme de queijo em pão de açafrão, um croq monsieur com queijo gratinado e molho bechamel, um gaspacho fresco ou ainda o "bolero", um doce de limão com cobertura de frutos vermelhos.

Mas não é tudo. A Santini, mesmo ali ao lado, terá a concorrência dos gelados da Artisani — ler aqui —, que será uma das parceiras da Eric Kayser Chiado.

Agora é só esperar para ver e (com)provar. 

29.11.11

poison d'amour

[Maria Antonieta é uma das imagens de marca associadas à Poison d'Amour, a mais nova pastelaria fina do Príncipe Real; abaixo: a fachada (foto de divulgação)]
Antes que alguém diga que já vou tarde para falar da Poison d'Amour, eu adianto-me e explico.

Eu sei que a Poison d'Amour abriu em Agosto, mas quando isso aconteceu eu estava em vésperas de passar uma longa temporada fora de Lisboa e, tout court (e o francês neste caso calha bem), não deu tempo.

[A primeira coisa que vemos, mesmo antes de entrar, é o balcão das guloseimas (foto de divulgação)]

Enfim, mais vale tarde do que nunca, não é mesmo? Para mais, quero acreditar que, tal como foi para mim, a Poison d'Amour ainda seja não digo uma novidade, mas pelo menos um lugar a descobrir para muito boa gente.

[Barroco, mas não muito... (foto de divulgação)]

Quem escreve por último arrisca-se a não acrescentar nada de verdadeiramente novo ao que já foi dito, mas a vantagem é que, esfriado o entusiasmo, podemos também ser mais objetivos e menos passionais.

[Tons claros, paredes quase nuas para que sobressaia o que realmente interessa e também o que não interessa, como o extintor (foto de divulgação)]

Serve isto para dizer, a propósito da mais nova pastelaria-salão de chá-cafetaria do Príncipe Real, num dos trechos mais disputados da rua da Escola Politécnica, que tenho lido coisas maravilhosas e rasgados elogios. É, a fazer fé nos relatos praticamente unânimes, um pedacinho do céu de Paris em Lisboa.

[Outra perspetiva do salão principal (foto de divulgação)]

Mas ai, não sei bem porquê, eu só me consigo lembrar daquele fado de Amália em que ela, como ninguém, cantava "Lisboa não sejas francesa/ Com toda a certeza / Não vais ser feliz / (...) / Lisboa não sejas francesa / Tu és portuguesa".

[Arquitetura do atelier Alma Quadros e design de interiores de Susana Camelo (foto de divulgação)] 

A Poison d'Amour inspirou-se nas mais finas pâtisseries parisienses e não o esconde. Pelo contrário, faz gala nisso.


[O pátio traseiro, para os dias de sol, rodeado pelo Jardim Botânico (foto de divulgação)]


A fachada rosa, com largos janelões rasgados de cima a baixo, dá logo o mote e ninguém entra ali ao engano, até porque pela montra já dá para ir espreitando os macarons, os brioches, as tartelettes, as bavaroises, os pains aux raisins, entre outras coisas igualmente boas.


Ponto para a forma como as várias guloseimas estão expostas, num longo balcão com tampo de vidro, sem outros artifícios para nos desviarem a atenção do que realmente interessa. Os olhos não comem, mas são eles que nos fazem morder a isca.


Achei igualmente interessante a solução das paredes praticamente nuas, e brancas, em contraponto com o chão e o teto negros. À vista, arcos de pedra preservados e apontamentos barrocos.


[As tartelettes são as criações que mais dão nas vistas (©enric vives-rubio/público, todos os direitos reservados)]


É óbvia a intenção da decoradora de serviço — Susana Camelo — de não fazer da Poison d'Amour uma caricatura barroca. As referências estão lá, como o grande retrato da desafortunada rainha Maria Antonieta — incontornável patrone, sobretudo depois do filme de Sofia Coppola com o alto beneplácito da Ladurée —, os espelhos, as banquetas capitonadas, os lustres ou as cadeiras estilo Luís XVI, mas não são mais do que detalhes. 

Acho que resulta (só) até certo ponto. Como em tudo, há coisas mais bem conseguidas do que outras — divertido, por exemplo, o pormenor dos tabuleiros antropomórficos, na parede, com animais em poses reais —, mas, para começar, teria pensado numa outra solução para o extintor. Sei que é um "mal" necessário, imposto por lei inclusive, mas colocá-lo, à vista desarmada, num ponto estratégico do salão principal, nah, não me conformo.


[Doces tentações (©enric vives-rubio/público, todos os direitos reservados)]


Com o Inverno à porta, é provável que não se dê muito uso à esplanada nas traseiras, com direito ao entorno bucólico do Jardim Botânico, mas, tratando-se de Lisboa, é sempre bom tê-la à mão para uma eventualidade. No resto, as duas salas interiores servem lindamente.

Por falar em servir, a Poison d'Amour abre para o pequeno-almoço, quer ser uma alternativa para o brunch de sábado e aos almoços tem, pelo menos, duas opções de saladas muito fiáveis (e com uma boa relação qualidade-preço).


[Maria Antonieta, a patrone da Poison d'Amour lisboeta (©enric vives-rubio/público, todos os direitos reservados)]


Mas vou falar apenas do que sei. Fui ali, a uma hora do fecho, para lanchar. Hesitei, fiquei tentado a experimentar os macarons — mas lembrei-me que não tenho sido muito feliz nesse quesito em Lisboa; talvez o problema seja meu... —, acabando por me decidir por um clássico da pâtisserie française: uma tartelette de morangos (€3,80). 

Linda por fora, pareceu-me a escolha perfeita para acompanhar um chá Frais Fruite (€2,30), servido em porcelana azul. Tiro ao lado. Massa muito dura e um creme algo desenxabido. Melhor sorte teve um amigo, cuja bavaroise de ananás estava, essa sim, de comer e chorar por mais.


[Os macarons da Poison d'Amour (©enric vives-rubio/público, todos os direitos reservados)]



Um empate, pois então. 

Na verdade, não me custará dar o benefício da dúvida à Poison d'Amour. Pedro Pouseiro, o dono, regressou a Lisboa depois de viver em Paris. Com fabrico próprio, a casa segue à risca o receituário de doçaria francesa, pelo que, quer o chefe pasteleiro, quer todo o material, vieram de França.


Para a próxima, vou escolher melhor. Quem sabe, não será dessa que me vou render aos macarons made in lisboa?

Rua da Escola Politécnica, 32, tel. 213 476 032, de seg. a sex., entre as 10.00 e as 20.00; ao sáb., entre as 09.00 e as 20.00. Encerra ao dom.

16.3.11

confraria lx (casa de chá)

[Entrada na rua do Alecrim, serviço de chá e aspecto geral da sala; abaixo: scones; fotos de JMS]


Testado (e aprovado) o conceito em Cascais, os sócios decidiram tentar também a sua sorte em Lisboa, pelo que da soma nasceu a Confraria Lx.
A recuperação de muitos edifícios, a par da abertura de lojas, restaurantes e cafetarias, está a dar um segundo fôlego à rua do Alecrim, e foi precisamente ai, logo no início para quem vem do Cais do Sodré, que o restaurante assentou arraiais. Não está sozinho, pois partilha o prédio azul — que por isso não passa despercebido — com o Lx Boutique Hotel, mas tem porta aberta para a rua e está pensado para servir quem passa, independentemente de estar ou não a pernoitar.
Ao almoço e jantar, à imagem e semelhança do que acontece na matriz, reinam o sushi, as saladas, as tapas e as sobremesas, mas disso, se for o caso, falarei numa outra oportunidade. É que me apeteceu ir à Confraria Lx a meio da tarde e testar até que ponto não se anuncia igualmente como casa de chá só da boca para fora.
À chegada, o anúncio de que vinha para lanchar causou na funcionária atrás do balcão uma momentânea hesitação... Confirmado que vinha, mesmo, para o chá e scones, tratei de me instalar junto a uma das janelas. O espaço é bonito, em tons de azul, rosa, lilás e castanho, com várias opções e recantos, além de apontamentos como candelabros ou aplicações pontuais em papel de parede inglês.
A fórmula chá (à escolha entre preto, preto perfumado, verde e vermelho sem teína, todos à €3) mais torrada ou scone, que sai por €5, pareceu-me perfeita, mas apreciei saber que, se quisesse, poderia ter antes optado por um simples café (que é como quem diz cappuccino, chocolate quente, galão, meia de leite ou até mazagran, que eu prefiro continuar a chamar de capilé) e que não receberia um redondo não caso me apetecesse uma salada, uma quiche ou um doce. E tudo, acrescento, a preços razoáveis.
Feito o pedido, tratei de puxar das minhas revistas (não me lembro de ter visto no local à disposição) e deixei-me ficar, confortável e sossegadamente, no meu canto, entretido da vida. O chá veio primeiro (detalhe: um bule inteiro para um e não a caneca ou chávena que muitos, sovinamente, começaram a adoptar); o scone demorou mais um pouco, mas a espera foi amplamente compensada pelo facto de vir aos pares e a fumegar. Ponto para eles, que acabaram assim por ganhar mais um freguês.

Rua do Alecrim, 12-A, tel. 213 426 292, o salão de chá encerra à seg. e funciona das 15.00 às 19.30

11.3.11

ice dreams

[A Ice Dreams propõe a degustação de gelados e vinho (foto de José Carlos Carvalho, D.R.) e está instalada no Princípe Real]


A tarde chuvosa convidava, porventura, a outro tipo de aconchego, o que pode explicar, em parte, o facto de ter ido encontrar a Ice Dreams vazia. Mas, a ser essa a razão, não partilho dela, pois nem tudo ali gira à volta dos gelados — embora sejam eles, e muito bem, o principal chamariz —; e mesmo se assim fosse há muito que está ultrapassada, felizmente, a ideia de que gelados e Inverno não combinam.
Foi por pensar assim que João Martinho, sócio-gerente, abriu as portas, em finais de Janeiro, na rua da Escola Politécnica, a meio caminho entre o Largo do Rato e a Praça do Príncipe Real. Nos últimos meses, muitas são as novidades que têm sacudido o pacato, mas cada vez mais desejado, bairro lisboeta, mas faltava-lhe uma geladaria de conceito personalizado, inspirada no que se faz em Buenos Aires, onde João Martinho viveu por dois anos.
Da capital argentina, por certo devido à influência da imigração italiana e pela grande variedade de frutas frescas, chega-nos uma outra forma de degustar e entender os gelados e sorvetes. De lavra artesanal, na primeira categoria encontramos sabores como o chocolate, a nata, o queijo de figo, a baunilha do Taiti, o mascarpone com frutos do bosque, a mousse de limão com gengibre, o doce de leite ou o zambaglione (estes dois últimos são dos mais apreciados na Argentina), ao passo que nos sorvetes, mais leves, temos a tangerina, a amora, o morango ou o maracujá.
No total, são cerca de 20 variedades (1 sabor: €2,30; 2 sabores: €3,80; 3 sabores: €5,10; frutas e/ou toppings à parte), mas aconselho a optar por um dos menus de degustação que permitem saborear trios (a €3,80). Optei pela Colecção Silvestre (amora ou morango, alfazema e alecrim), que não me fez esquecer os do Santini, mas dar-lhes-ei uma nota de crédito e qualquer dia regresso para provar o Gourmet Dreams (queijo de cabra, queijo de figo e mousse de limão com gengibre) e a Tentação (três variedades de chocolate).
O propósito de fazer da Ice Dreams uma proposta para todo o ano sai ainda reforçada com a possibilidade de degustar gelados combinados com um copo de vinho (€4) ou um cálice de Porto Tawny (€4,60) — acredito que possa resultar, mas não foi desta ainda que o (com)provei —, de os levar para casa (embalagem de 0,5l a €10 e embalagem de 1l a €19) ou ainda de os beber em versão de batido (€4,50).
O espaço, sob o comprido, é desafogado sem ser grande, mas dá para nos sentarmos, folhearmos uma revista e ficarmos um pouco à conversa ou até simplesmente a ver quem passa na rua. Não fiquei deslumbrado, mas é agradável e reserva mesmo uma área na parte traseira para exposições temporárias. Ajuizada, e oportuna, parece-me a ideia de não terem limitado a oferta aos gelados e seus derivados, apostando igualmente na vertente de pastelaria (além de brownies, gaufres, crepes, há também chocolate para beber, smoothies e bombons de autor). É que estamos em Lisboa, e não em Buenos Aires, e é bom ter em conta os nossos hábitos e manias.

Rua da Escola Politécnica, 21, de seg. a qui., das 10.30 às 21.oo, aos sáb., das 10.00 às 22.00, e aos dom., das 10.00 às 20.00

28.2.11

a padaria portuguesa areeiro


[Bolas de Berlim, interior da loja do Areeiro (foto de Joaquim Gromicho), e pães-de-Deus, fotos D.R.]




Haja alguma coisa que corra bem e gente com motivos para estar contente nestes dias de famigerado desânimo nacional. O mapa da mina, para quem ainda não descobriu ou não ouviu falar — o que começa ser difícil, tamanha é a leva de comentários e artigos abonatórios —, fica na avenida João XXI, a meio caminho entre as praças do Areeiro e de Londres.
A Padaria Portuguesa abriu "apenas" em Novembro de 2010, mas o sucesso é tanto que já abriu caminho para uma réplica em Vila Franca de Xira. E não vai ficar por aqui. O conceito é simples: uma padaria de bairro que faz a ponte entre o melhor de uma padaria francesa e o melhor que recordamos (quem tem memória, é claro) das antigas leitarias portuguesas. A ideia é tão boa que até custa a acreditar que ninguém se tenha lembrado antes de a pôr em prática. O mérito fica, por isso, por conta de Nuno Carvalho, que largou o seu trabalho como gestor na rede de supermercados Pingo Doce para abrir este negócio.
Com a chegada da Primavera, é possível que a esplanada, instalada na calçada, seja cada vez mais disputada, mas as cestas de pães apetitosos na montra são um chamariz mais do que eficaz, atrever-me-ia a dizer, para continuar a atrair, como um íman, quem passa ao seu interior. Lá dentro, não se sentam mais do que 20 pessoas, mas, a par dos pormenores que nos remetem propositadamente para uma certa portugalidade — o mosaico hidráulico, as cestas de vime, os provérbios, a foto da ceifeira, as ardósias negras... —, a nossa atenção depressa se fixa nos dois balcões onde se alternam as fornadas de mais de trinta tipos diferentes de pães — saídos directamente do forno, as variedades vão desde os enfarinhados até às broas de milho, os com sementes e por ai fora — e a linha própria de pastelaria (produzida numa fábrica de Samora Correia) que inclui croissants (em massa de brioche ou estaladiços), caracóis, pastéis de nata, bolas de Berlim, pãezinhos de leite, pães-de-Deus (um dos cartões de visita da casa) ou as queijadas, mas também bolos médios (em quatro sabores) ou grandes (como a tarte de limão merengada) vendidos à fatia.
A qualquer hora do dia, A Padaria Portuguesa quer ser uma alternativa, por isso, e além das compotas que vende a €3 o frasco, criou fórmulas a bom preço para o pequeno-almoço (€2,50), o almoço (€4,90 com sopa, sumo natural, dois salgados e uma sanduíche ou quiche) e o lanche (€2,50 com chá, torrada e um bolo médio). Por €2,90 é igualmente possível provar dois bolos. Enfim, várias combinações e possibilidades que enchem a casa, esgotam diariamente muitos produtos e não dão descanso aos quatro empregados que atendem ao balcão.
À hora tardia a que fui já se lia em algumas travessas vazias "Era tão bom que acabou". Para rematar, apetece-me acrescentar: esta padaria é tão boa e faz já tão parte da vida deste bairro que nem parece que nasceu só ontem.

Avenida João XXI, 9, todos os dias, das 8.00 às 20.00

14.9.10

quinoa

[Detalhe do balcão, foto de JMS, aspecto geral da sala, foto D.R., e close-up de alguns produtos à venda, foto D.R.)]


Abriu no último mês de 2009, mas há quem, como eu, só tenha começado a dar por ela, nos últimos tempos, quando se sobe ou desce a rua do Alecrim. E, no entanto, a Quinoa, frente ao quartel dos Bombeiros, não passa despercebida, pois a sua enorme porta encarnada - a que se juntou um layout atractivo a condizer - destaca-se na fachada do prédio centenário.
Projecto de duas irmãs, Filipa e Alexandra Borges, a casa tomou o lugar de um antiquário e, entre outras coisas, recuperou para seu uso e deleite de quem entra, uma escadaria, que dá acesso ao mezanino, do século XIII.
Como loja gourmet, confesso que não me convenceu (ainda). A meia dúzia de prateleiras e uns quantos expositores, apesar da boa apresentação e de exibirem marcas como a Fauchon, a Mariage Frères, a Kusmi ou a Choc-o-lait, não chega para impressionar e sabe a pouco. Como cafetaria ou salão de chá, elogio o bom gosto do espaço, dividido pelo rés-do-chão e pelo mezanino, mas não pude deixar de registar que tive de me contentar com a terceira escolha, pois não tinham nem pão de Deus nem croissants "normais", apesar de mencionados várias vezes na carta - tal como ouvi outra cliente, resignada, perguntar se não havia mais salgados para além de umas empadas (de doces pareceram-me mais prevenidos).
Seja como for, quem for lanchar tem, supostamente, à sua disposição vários tipos de chás (da já citada Kusmi), iogurtes, cafés, leite, achocolatados, torradas, scones e croissants. Do mesmo modo, servem, segundo apurei (mas não comprovei), refeições ligeiras (bem como brunchs aos fins-de-semana, entre os €9 e os €14) com propostas saudáveis de sanduíches incrementadas e saladas, e apostam em dois turnos de happy hour (das 12.00 às 15.00 e das 16.00 às 20.00), com destaque para cervejas (belgas, alemãs e irlandesas) e vinhos.
Como padaria, o verdadeiro cartão de visita da Quinoa, o caso é diferente - e lá está uma frase pitoresca "roubada" a Mia Couto, por cima do balcão, para o reforçar. Ai sim, e até a avaliar pelas pessoas que passaram unicamente para buscar pão enquanto ali estive, vê-se que a casa está a fazer uma reputação na zona. Com fabrico próprio e a garantia de que todos os seus pães, num total de 10 variedades, são 100% biológicos (ou seja, sem fermentos ou aditivos), a ideia é não só vender ao público, mas também usá-los na cafetaria.
No geral, achei os preços razoáveis - os pães, por exemplo, custam entre €0,30 e €4,50 a unidade. Por um cappuccino e um croissant de cereais com fiambre paguei €3,50.

Rua do Alecrim, 54, tel. 213 473 926, de seg. a qua., das 08.00 às 20.00, de qui. a sex., das 08.00 às 22.00, aos sáb., das 10.00 às 22.00, e aos dom., das 10.00 às 20.00

10.9.10

fábulas

[Exterior, na calçada (foto D.R.), e duas das salas interiores (fotos de JMS)]


Sexta-feira, ao final da tarde, no Chiado. Munido de vários suplementos de jornal e um livro de Bret Easton Ellis, sinto-me tentado a aterrar num dos lugares do costume - no caso, o Vertigo ou o Kaffehaus, de quem ainda hei-de falar convenientemente neste blogue; não agora -, mas resisto e vou antes matar a curiosidade várias vezes adiada.
O Fábulas abriu em finais de 2008 (se não me falham os cálculos), ainda assim, sempre que o menciono a amigos ou a conhecidos, a resposta varia entre os que não deram por ele - escondido que está, a meio da Calçada Nova de São Francisco, ao lado do Amo-te Chiado, entre as ruas Nova do Almada e Ivens -, e os que já lá foram e, por uma ou outra razão que não me souberam explicar, não ficaram totalmente convencidos.
Quem o vê de fora - e vim a descobrir a posteriori uma segunda entrada no pátio que dá directamente para a rua Garrett -, imagina um espaço acanhado e escuro. De acanhado tem pouco, pois o termo certo é mais labirinto, ou gruta, de salas e corredores, em número suficiente para abarcar o conceito de restaurante, cyber-café, galeria de arte e bar de vinhos; de escuro, e pesado, tem um pouco, sobretudo nas salas de arcos e tectos abobadados com as paredes pintadas de encarnado vivo a alternarem com outras descarnadas, tornando-se todavia mais claro à medida que se vira para o pátio interior.
Magicado por um casal luso-polaco, que se conheceu em Itália, nota-se que o Fábulas nasceu do improviso e que vai somando pontos com quem conta um conto. A decoração é prova disso, num estilo agora muito em voga, a que eu chamo "miscelânea", misturando móveis e peças (como velhas máquinas de costura Singer) catadas em feiras de velharias com outros de design mais clean. A ementa também tem sofrido, ao que sei, ajustes. O espaço começou por fechar ao domingo, o que se revelou uma má decisão para quem queria fazer do brunch uma das suas apostas. Questão resolvida. Fui ali para lanchar, mas uma olhadela rápida na carta deu para perceber que há refeições leves, tostas, crepes doces, gelados e outras sobremesas, saladas, cafés, chás, vinhos, aperitivos e cocktails.
Por um sumo de melancia e uma tosta de presunto com queijo Brie paguei €7,10 (verdade seja dita: a tosta dava à vontade para duas pessoas). Consegui ler (embora também haja revistas no local para o efeito) e estar à vontade num dos seus sofás XXL. Senti, quiçá, que lhe faltava "ambiente", mas talvez a hora não fosse, com o tempo bom lá fora, a mais acertada. Seja como for, voltarei um dia destes para um tira-teimas; de preferência quando fizer frio.

Calçada Nova de São Francisco, 14, tel. 216 018 472, de seg. a qua., das 10.00 às 00.00, de qui. a sáb., das 10.00 à 01.00, aos dom., das 10.00 às 20.00
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