27.4.11

trigo latino

[Ambiente retro, sem chegar a ser castiço, é a tónica dominante do Trigo Latino que ocupa as instalações de uma antiga dependência bancária (fotos D.R.)]

Quem nunca desesperou na hora de achar um restaurante à altura das expectativas e necessidades de um jantar de grupo que atire a primeira pedra. A questão torna-se tão mais complicada quando à disponibilidade e localização somamos ainda outros quesitos básicos como um preço aceitável e um menu capaz de saciar, e satisfazer, gregos e troianos.


Serve isto tudo para dizer que, apesar de ter as portas abertas desde Julho de 2009, um jantar recente de aniversário foi o pretexto para ficar a conhecer o Trigo Latino. Há quem se baralhe e hesite entre dizer que fica no bairro da Sé ou de Alfama. Certo mesmo é que se encontra — ou melhor, encontrei-o eu numa noite de chuva forte, em que caminhava quase às cegas e sem ver por onde punha os pés — numa paralela à avenida Infante Dom Henrique, na esquina da rua e do largo que respondem pelo mesmo nome: Terreiro do Trigo.


Antiga sede de um banco, como o comprova até hoje a caixa-forte, a sala apresenta-se com uma decoração intencionalmente retro que dá ares de café de tertúlia ao restaurante. Chão preto e branco, mesas quadradas e cadeiras de madeira, painéis pintados de verde a cobrir meia parede, deixando o resto livre para acomodar um sem-número de quinquilharias, entre fotografias e objectos, que nos remetem para outras histórias. O todo resulta à vista, conseguindo ser, ao mesmo tempo, acolhedor e confortável.


Na ementa, a que o crítico José Quitério deu o seu aval, as entradas, as saladas, as massas frescas, risottos e bruschettas, a carne, o peixe e as sobremesas alinham por uma tónica contemporânea que outros preferem descrever como cozinha de raiz latina com um toque de fusão. Mas dela falaria se tivesse comido à la carte. Não foi o caso. Num jantar de grupo nada como optar pelo menu de grupo que, a €25 por cabeça (pode ser negociado para €20 se se abdicar de um prato), inclui couvert (bom o patê de azeitonas), bacalhau desfiado com presunto gratinado e queijo mozzarella, peito de frango recheado com farinheira e, a encerrar, brownie de chocolate com bola de gelado ou gelado artesanal com duas bolas à escolha.


Um menu pré-definido nunca é o ideal para avaliar o talento de um chef, por isso não o farei, mas direi que cumpriu e que satisfez sem chegar a ser banal, que é um risco que se corre nestas coisas. Onde o jantar falhou, na minha perspectiva e de outros convivas, foi no capítulo bebidas. A casa, nas suas contas, calcula uma média de meia garrafa de vinho por pessoa (um tinto alentejano bastante razoável) ou meio jarro de sangria (esta, de rosé e açucarada, veio a revelar-se muito sem graça) ou dois refrigerantes ou ainda duas cervejas, fora as águas e café. Num jantar de família, talvez chegue; num jantar de amigos, acaba por se revelar insuficiente e dar azo à situação sempre desagradável, mas nem por isso inédita, de ter de pagar mais do que o previsto. Fora este pequeno-grande detalhe, nada mais a acrescentar ou a apontar.

Largo Terreiro do Trigo, nº1, tel. 218 821 282, almoços de seg. a sex., entre as 12.30 e as 14.30, e jantares, de seg. a dom., das 19.30 às 00.00 

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