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26.2.13

ainda é segredo, mas joachim koerper vai abrir o 12 by eleven, cozinha de bistrot, no dia 12 de março

[Joachim Koerper (foto de divulgação) e alguns dos pratos-teste que poderão ou não figurar na ementa do novo bistrot 12 by Eleven (©thema hotels, todos os direitos reservados)]

Aos poucos, numa operação de charme do tipo "for your eyes only", Miguel Júdice, o CEO dos Thema Hotels abro parêntesis se ainda não deram por isso, o grupo Lágrimas uniu-se aos Hotéis Alexandre Almeida e nasceu a designação Thema Hotels fecho parêntesis, tem vindo a "postar" fotos com a prova de pratos de um novo restaurante.

Um teaser, pois então, que as redes sociais como o Instagram servem, cada vez mais, para isso mesmo.

Mas não se descoseu a quem, pela mesma via, lhe tem perguntado do que se trata. Certo, certo, só mesmo a data de abertura do novo espaço em Lisboa: 12 de março.

[Alguns dos pratos-teste cujas fotos têm vindo a ser publicadas, como teaser, no Instagram dos Thema Hotels (©thema hotels, todos os direitos reservados)]

Mas, nestas coisas, o segredo nem sempre é a alma do negócio. E consegui saber o que queria.

No mesmo espaço onde funciona o Eleven, ou seja, no Jardim Amália Rodrigues, no cimo do Parque Eduardo VII com uma vista do tipo até-onde-vai-o-teu-olhar sobre a cidade, Joachim Koerper e os seus dez outros sócios voltarão a fazer numerologia.

12 by Eleven, assim se deve chamar, ficará no primeiro andar, até agora reservado a eventos, e será uma forma de Koerper se adaptar aos tempos que correm e, a preços que se adivinham mais friendly, servirá ali uma cozinha de bistrot.

É esperar para ver e provar.

30.5.12

as andorinhas anunciam a primavera e a reabertura do sky bar diz-nos que já não falta muito para o verão

[©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Ontem, via Instagram, postei a foto acima com a seguinte interrogação-certeza: como não amar Lisboa?

Numa cidade aos altos e baixos, que se gaba de possuir sete colinas como Roma — nunca as contei, num caso como noutro —, claro que não faltam miradouros e outros pontos mais ou menos altaneiros que nos permitem, qual pássaros, pairar sobre Lisboa.


[©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]
De entre as várias possibilidades, confesso que gosto particularmente da vista oferecida pelo Sky Bar, no cocuruto do hotel Tivoli Lisboa, que vira as costas à avenida da Liberdade e esparrama-se, mapeando o coração da cidade, até à outra margem do Tejo. 


[©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

[©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]
Sobre o Sky Bar, propriamente dito, não há grande coisa a acrescentar para lá do que já (des)escrevi aqui, pelo que a boa nova é mesmo a sua reabertura para mais uma temporada estival, entre maio e outubro.


[©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]
Os dias não serão sempre de Sol; nem as noites serão sempre estreladas. Mas conforta-me saber que, doravante e durante os próximos meses, recuperámos um terraço que nós, lisboetas (sintam-se incluídos todos os que o são de alma e coração), aprendemos rapidamente a rimar com a ideia de verão.


[©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]
As fotos que aqui mostro foram tiradas num dia de festa. Não vai ser sempre assim com esta mise-en-scène, é bom dizê-lo, mas o cenário é este: ar livre, bambus, almofadões e narguilés de inspiração marroquina, sofás, candeeiros de pé alto, dois bares e o restaurante Terraço de apoio.


[©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]
A animação, com Dj's, será focada nas noites fortes de quinta, sexta e sábado (altura em que ficará aberto até à uma da matina), mas durante os dias de semana o espaço estará aberto logo a partir das 17.00 — ideal para uma, duas, três, quantas horas felizes forem precisas para nos fazer esquecer a jornada de labuta e/ou prolongar o descanso. 


[©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]
Aos fins-de-semana, a informação que tenho é de que vai abrir a partir das 11.00, devendo manter-se a aposta de refeições ligeiras e/ou brunch. A confirmar.


[©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]
Hotel Tivoli Lisboa | Av. da Liberdade, 185, tel. 213 198 832

28.2.12

o novo "astral" da avenida da liberdade | fotoblog


Não sei se já deram conta, mas a principal avenida da cidade, a da Liberdade, está diferente.


Dir-me-ão que, com esta Primavera temporã, está mais florida e que acrescentou a Gucci ao seu lote de lojas de luxo, mas não é disso que estou a falar.


Já repararam nos pilaretes?


Nos bancos de jardim? Nos Candeeiros?


E, já agora, nos mupis?


Confesso, quando li a respeito, estava à espera de algo que desse mais no olho e quase temi isso.


Mas não.


É preciso prestar atenção para não passar batido.


A iniciativa conta-se em poucas linhas e outras tantas fotos: a Avenida da Liberdade aderiu ao Feng Shui e coloriu-se.


Happy Liberdade é um projeto conjunto da Câmara Municipal de Lisboa e a Dyrup (tintas, decoração e arquitetura).


Seguindo os ensinamentos milenares do Feng Shui, a avenida passou a estar dividida em oito áreas energéticas, com zonas propícias às mais diversas atividades.


A Dyrup criou e afinou tonalidades para estimular, ao máximo, sensações em cada uma das oito áreas energéticas.

Entre bancos, gradeamentos, pilaretes e candeeiros, a Dyrup recuperou e reparou mais de 2000 peças de mobiliário urbano, que depois foram pintadas e decoradas segundo a sua respetiva área energética.


No final de 2012, a avenida voltará à sua cor original, também pelas mãos da Dyrup.


4.1.12

de olho nas cartas de inverno e no que promete a abrir o novo ano

[José Avillez, o homem mais falado do momento graças à abertura do Belcanto (foto de divulgação)]
Por estes dias, o assunto, por mais voltas que se dê ao texto, é quase só um: abriu ontem, finalmente, o tão aguardado Belcanto de José Avillez.

E se dúvidas houvesse de que o assunto extravasa este pequeno retângulo à beira-mar plantado, bastaria ver como a notícia depressa se propagou — muito graças às redes sociais — e atingiu em cheio o milieu gastronómico brasileiro e espanhol, onde Avillez já conquistou o seu séquito de seguidores atentos. Não são todos que se podem gabar do mesmo. Não mesmo.

[Uma das primeiras imagens conhecidas do novo Belcanto (foto de divulgação)]

Como ainda não fui até lá — mas conto fazê-lo muito em breve —, não me vou alongar muito mais; não resisto, porém, à laia de teaser, a reproduzir abaixo a ementa já divulgada do Belcanto:

Entradas:
Cavala marinada e braseada, confettis de legumes avinagrados e pinhão (2011) 
No bosque depois da caça, cremoso de perdiz, perdiz em escabeche e legumes (2011) 
Quente e frio de castanhas e sapateira (2010) 
A horta da galinha dos ovos de ouro, ovo, pão crocante e cogumelos (2008) 
Paisagem alentejana, pezinhos de porco de coentrada à nossa maneira (2008)
Arroz de “cabidela vegetal” com enguia fumada (2010)

Peixes:
Mergulho no mar, robalo com algas e bivalves (2007)
Salmonete, molho dos fígados, ovas vegetais, raízes e tubérculos (2011) 
Lavagante em 2 serviços (2011) 
“Açorda” de bacalhau com ovo BT (2011) 
Raia - Jackson Pollock (2011)

Carnes: 
Cordeiro com puré de escabeche de legumes e pequeno ensopado (2010) 
Bife à Belcanto (2012)
O cubismo da vitela, bochecha, lombinho e mãozinhas, feijão papo de rola e creme de alho (2011) 
Pombo à “Convento-de-Alcântara” (2011)

Sobremesas: 
Tangerina 
Laranja e Xisto, merengue, chocolate, castanha trufada, limão, rum, peta zetas e milho lyo 
Outono de chocolate e avelã 
Pastel de nata em mil-folhas com gelado de canela
Degustação de gelados e sorvetes
Prato de queijos portugueses

Apenas mais um lamiré, só para dar uma ideia dos preços. Além do à la carte, o chef concebeu dois menus de degustação, com três e seis pratos, que estão disponíveis por um valor de €55 e €72,50 respetivamente.

Quem já estava no mercado, felizmente, não dormiu no ponto e, mais do que reclamar do aumento do IVA para 23% na restauração, tratou de pensar em novas cartas de Outono-Inverno para manter a clientela pelo beicinho.

E já que este post não se trata, confessamente, de um test drive, vou continuar a destacar o que só vi, mas ainda (salvo um caso ou outro) não provei — mais por falta de tempo do que por falta de vontade, por mais que os últimos dias tenham sido, para todos, de comilança exagerada.

Mas vamos lá.

100 Maneiras | Ljubomir Stanisic

[Carpaccio de pato com foie gras, redução de vinho Madeira, sementes de abóbora e uvas (foto de divulgação)]

Começo pelo incansável Ljubomir Stanisic e seus três — sim, já são três! — restaurantes 100 Maneiras em Lisboa. Com livro novo nos escaparates (falei dele aqui), Ljubo não tem tido parança desde que se deu a conhecer como jurado do MasterChef, mas, juntamente com os seus braços direito e esquerdo (os chefs João Simões e Filipe Lourenço), renovou as cartas de Inverno.

[Vieira corada com flor de sal, espuma de batata e chips de topinambur (foto de divulgação)]

No cabeça de cartaz, o menu de degustação a €40 (mais €35 para quem quiser fazer a maridagem dos pratos com vinhos)  inclui cinco entradas, dois pratos principais e duas sobremesas, reproduzido abaixo:


No Bistro, as coisas mantêm o seu curso natural, mas com uma abordagem mais invernal, e no Nacional o destaque vai para os seis menus de degustação, com preços entre os €30 e os €60, de que reproduzo abaixo o mais em conta:


Bocca | Alexandre Silva

["A Rúcula, a Chufa, o Salmão e a Maçã": salmão curado com óleo de noz e pimenta rosa, maçã caramelizada, chufa torrada e vichyssoise de rúcula (foto de divulgação)]

Ao longo do último ano, escrevi inúmeras vezes sobre o Bocca (aqui e em revistas) e nunca escondi que admiro a forma como ali se trabalha — não é à toa que é procurado por cada vez mais jovens cozinheiros para estagiar. Não sou o único a notá-lo, pois muitos outros colegas, bem mais entendidos nestas lides do que eu, também o tem destacado entre as melhores mesas de Lisboa e Portugal neste momento.

["A Cavala Fumada, o Ananás e os Pickles": filete de cavala fumado com molho de ananás e limão, pickles suaves de legumes (foto de divulgação)]

Com uma presença constante nas redes sociais, Alexandre Silva foi dos poucos chefs portugueses que se deu ao trabalho de ir assistir ao festival Gastronomika 2011, um dos mais importantes do género; faz ainda questão de ser ele mesmo a fotografar os seus pratos (são suas as fotos que aqui publico para ilustrar a carta de Inverno) e vai agora, de meados de Janeiro a meados de Fevereiro, passar uma temporada a investir na sua formação no seio do mega-estrelado El Celler de Can Roca, na vizinha Espanha.

[Amuse-Bouche, umas das hortas comestíveis criadas por Alexandre Silva seguindo tendência atual (foto de divulgação)]

O Bocca, que partir do dia 10 passa apenas a servir jantares mas fica aberto de segunda a domingo, continua a apostar na cozinha tecnoemocional, logo experimental, mas muito abordável pela forma como trabalha os produtos portugueses e brinca com a memória sensorial que temos dos mesmos. A  nova carta pode ser consultada aqui. Nela, noto que Alexandre Silva seguiu a tendência atual, tão cara a superchefs como o britânico Heston Blumenthal, e criou igualmente a sua versão de hortas comestíveis.


["Horta Doce": pudim de cenoura com gelado de aipo, abóbora caramelizada, tomate cristalizado e terra de chocolate (foto de divulgação)]


Flores | Vasco Lello

[Creme de Castanhas com tortulhos e lascas de queijo São Jorge (foto de divulgação)]

Tive oportunidade de narrar aqui o almoço em que o jovem chef Vasco Lello se deu a conhecer como a nova aposta do restaurante Flores, ao Bairro Alto Hotel.

Desde então, confesso, perdi-o um pouco de vista, mas acho que não aconteceu só comigo. Claro que um restaurante de hotel tem de atender a outras necessidades, e imposições de ordem prática, que dificultam a sua afirmação no campo mais autoral.

[Naco de Vitela Maronesa frito com alho e louro, batata ponte nova, nabiças, cogumelos e gema de ovo (foto de divulgação)]

Mas não há outra forma de dizê-lo: até hoje, de todos os que por ali passaram, foi Henrique Sá Pessoa quem deu maior visibilidade ao Flores. Ainda assim, o Bairro Alto Hotel, justiça lhe seja feita, não cruza os braços e mantém uma dinâmica muito própria com a movida do Chiado e do Bairro [Alto].

 
[Novilho assado com zimbro, molho de vinho tinto, acelgas e escorcioneira (foto de divulgação)]

Para a carta agora vigente, a de Outono-Inverno, Lello escolheu sabores robustos e texturas crocantes, misturando coisas tão portuguesas como os tortulhos, o zimbro, a compota de marmelo ou as castanhas, que se repartem pelo cardápio reproduzido abaixo: 

Entradas:  
Creme de Castanhas com tortulhos e lascas de queijo S. Jorge | 6,5 €  
Abóbora Assada com mel de Urze, requeijão temperado com Serpão | 8 €  
Cavala Fresca e Fumada com Castanhas com erva-doce e um travo de Jeropiga | 9 €  
Vieiras numa espuma de crustáceos com Ovas de salmão, algas nori em puré de xeróvias | 8€  
Lombo enguitado com queijo de cabra e pêra rocha | 10,5 €  
Foie Gras com flor de sal e pimenta sobre folhas verdes | 12,5€ 

Peixes: 
Bacalhau em Azeite e cebola, Guisado de sames e feijão papo de rola | 23€  
Cherne braseado com Coentros e amêijoas, milho cremoso e algas | 24,5€  
Salmonete assado com batata-doce e sumagre, almôndega de camarão com bisque e espargos do mar | 21,5€  
Lombo de tamboril com naco de fígado, limão e cominhos, abóbora e piso de agriões | 18,5€ 

Carnes:  
Novilho assado com zimbro molho de vinho tinto, acelgas e escorcioneira| 21€  
Bochecha de porco preto e “manta” assada com feijoca, couve, enchidos e compota de marmelo | 22,5€  
Pato sobre massa fresca de legumes, gengibre, soja e molho de ameixas | 18,5€  
Naco de Vitela Maronesa frito com alho e louro, batata ponte nova, nabiças, cogumelos e gema de ovo | 24€ 

Sobremesas:  
Bolo de chá verde com creme de jasmim e gomos de dióspiro | 7,5€  
Bolo de chocolate, Mousse de café, gelado de caramelo | 9,5€  
Tarte de maça com gelado de frutos secos | 7€  
Arroz doce com torta de laranja e gelatina de canela | 8€ 

O menu de degustação, que inclui os vinhos e cinco pratos escolhidos pelo chef a partir do menu, sai por €45. 

Ipsylon | Cyril Devilliers

[Cyril Devilliers, o próprio, senta-se à mesa com os convidados numa proposta "The Chef's Table" (foto de divulgação)]

No final do ano passado, a pretexto do "Diner du Chef" (contei tudo aqui), acabei por ir conhecer o projeto The Oitavos, já fora de portas.


Na altura, gabei uma série de coisas, percebi o esforço em fazer do Ipsylon (e demais restaurantes dentro do resort) uma proposta de maior público, sem perder o seu toque autoral, e não me passou ao lado a bonomia do chef Cyril.


Não é uma tarefa fácil; por inúmeras razões, mas posso ficar-me por uma: a localização, junto ao mar, num dos trechos mais cobiçados da Quinta da Marinha, é esplêndida, só que não há ainda em Portugal, salvo raras exceções, a cultura de nos deslocarmos a locais isolados, e ainda para mais envoltos numa aura de exclusividade, apenas com o nobre propósito de comer.


Lá chegaremos, como me confidenciou um dia destes o Chefe Cordeiro (mais isso fica para outro post), mas, para já, não são favas contadas.


Seja como for, e tirando partido da tal veia de anfitrião de Cyril, o Ipsylon passa, a partir do dia 12 deste mês, a proporcionar, nas noites de quinta, sexta e sábado (mediante reserva antecipada), a experiência "The Chef's Table".


Para um mínimo de duas pessoas e um máximo de seis, a boa ideia consiste em partilhar a mesa — e não é uma mesa qualquer, é uma mesa na cozinha, onde tudo acontece — com o próprio Cyril, que não se fará rogado em escolher o vinho ou em sugerir os pratos confecionados com o que de melhor, e  mais fresco, encontrou nesse dia no mercado.


Com um custo de €70 por pessoa, esta fórmula de jantar inclui várias entradas, um prato principal, uma sobremesa  e até uma garrafa de vinho por cabeça. 

30.6.11

novo menu de degustação do bocca prato a prato (e explicado pelo chef)

[Algodão-doce eléctrico, uma das criações do restaurante Bocca (©alexandre silva, todos os direitos reservados)]
Na origem deste post está uma conversa, via Twitter, que iniciei há uns tempos com o restaurateur Pedro Aragão Freitas, proprietário do Bocca, e que foi despoletada pela foto de uma criação de Alexandre Silva, o chef do restaurante, reproduzida acima.


Nela aparecem botões de szechuan, mas eu, que estive no final do ano passado em Belém do Pará (Brasil), achei que seriam flores de jambú (também conhecido por agrião do Pará), utilizadas na confecção de um prato que me ficou na lembrança, o pato no tucupi. Descobrir que um dos mais conhecidos restaurantes da capital estaria a usar um parente do ingrediente amazónico foi algo que não deixei, claro, passar em branco.


Conversa vai, conversa vem, acabámos por concluir que szechuan e jambú seriam, senão a mesma coisa, pelo menos da mesma família (até pelos efeitos de dormência que ambas produzem quando trincadas) e isso abriu caminho para que me fosse lançado o repto de ir ao Bocca não só provar o algodão-doce eléctrico, mas o novo menu de degustação.


Um desafio muito simples de aceitar.


[Uma das salas do Bocca (foto de divulgação)]


aqui falei antes do Bocca, por isso não me vou alongar muito mais neste preâmbulo. Importa, no entanto, dizer que, com cerca de três anos de existência e uma localização agradável nas imediações da Avenida da Liberdade (ainda que afastado da sua maior "movida" e fora do eixo do Chiado, que parece ter-se tornado na zona mais desejada da capital pelos chefs e restaurateurs), este restaurante tem feito um caminho muito discreto, sem excesso de modismos nem tiques novo-ricos, mas coerente. 


Numa rápida leitura das críticas especializadas, percebe-se facilmente que a maioria lhe é muito elogiosa, o que se traduz igualmente no reconhecimento através de prémios importantes a nível nacional como o recente Garfo de Ouro pelo guia "Boa Cama, Boa Mesa 2011".


Falta-lhe, quiçá, uma maior visibilidade fora de portas, o que lhe garantiria, porventura, um outro lugar na constelação internacional. O Bocca pode ir mais longe. Tem ingredientes para isso: uma equipa jovem e motivada, um espaço contemporâneo e de bom gosto, praticando, detalhe fundamental, uma cozinha que acusa a influência molecular — na forma como redesenha sabores e testa a nossa memória gustativa —, mas que acompanha a tendência mais actual de voltar à raiz e de não cair na tentação do experimentalismo pirotécnico.


Precisa, atrevo-me a acrescentar, um nada mais de ousadia. Um toque extra de génio. Mas, o essencial, parece-me, já está lá. Por outro lado, entendo perfeitamente que, na presente conjuntura, importe também, antes de tudo mais, assegurar a viabilidade económica do projecto.


Adiante.


Aproveitei a presença do chef Alexandre Silva, que não limita os seus dotes à cozinha e faz também ele as fotos das suas criações, para me explicar, prato a prato, o principal menu de degustação. A ementa muda duas vezes por ano. Com a carta nova, estreada um pouco antes do início do Verão, o Bocca chega à maturidade, depois de reflectir sobre as suas orientações, e mantém-se firme na sua intenção de, antes de tudo o resto, enaltecer os produtos que utiliza no seu receituário — não é por acaso que os nomes dos pratos, em vez de invenções pomposas, ostentam os ingredientes, tout court


Como muitos outros chefs, Alexandre Silva aspira pelo dia em que conseguirá encontrar no nosso mercado, e junto dos nossos produtores, uma regularidade, uma qualidade e até uma estabilidade de preços que lhe permita depender mais da sua oferta. Para já, e tirando algumas honrosas excepções, tal ainda não é possível, mas a sua proposta de apresentar cada vez mais uma cozinha contemporânea executada ao melhor nível, de matriz assumidamente portuguesa, é uma aposta para continuar. Disso, não abre mão.


[O chef Alexandre Silva (foto com direitos reservados)]


Já na mesa, depois do couvert, com vários tipos de pães de fabrico próprio e azeite, abro o menu de oito pratos com um amuse-bouche: salmão, maçã Granny Smith e ervas finas. Muito fresco, ideal para esta altura do ano, apresenta o salmão em rolinhos, curado em ervas, numa vichyssoise de maçã. E não fica por aqui, noto ainda o gosto da maçã no sorvete e nos cubos caramelizados.


[©alexandre silva, todos os direitos reservados]


Segunda entrada fria: a sardinha assada e a salada algarvia. Mais uma vez, um excelente prato de Verão, que revisita clássicos da gastronomia popular de uma forma igualmente simples, mas com o seu quê de sofisticação. Alexandre Silva regressou há pouco do Algarve e isso inspirou-o a criar uma salada em forma de sopa fria, ao passo que em vez da sardinha assada no carvão, apresenta antes o peixe num filete marinado. A parte lúdica do prato fica por conta dos flocos de carvão a boiar na sopa. A fazer as vezes do carvão uma base de pão adocicado tingido com tinta de choco.


[©alexandre silva, todos os direitos reservados]


Na terceira, e derradeira, entrada fria, um teste à minha curiosidade. Não faço segredo que não sou apreciador de carnes de gosto mais intenso, como o borrego. Mas, em casos muito especiais, abro excepções e deixo-me levar pela curiosidade. Alexandre Silva, por tudo o que faz, merece-me esse voto de confiança. E não me arrependi. 
O borrego e a hortelã é uma re-leitura da receita tradicional do guisado de borrego com ervilhas e hortelã. Logo de caras, o chef eliminou as ervilhas, que na versão original mal se sentem, e tratou de trabalhar os outros elementos ao seu gosto. O borrego chega-me assim como um delicioso tártaro com sorvete de hortelã, puré de gema de ovo cozinhado a uma temperatura muito baixa (65ºC) e folha de arroz, ervas e flores (a tirinha na foto). O segredo para o gosto suave da carne consiste em usar apenas o lombo e em raspar completamente todos os ossos para assegurar que não transmitirão mau sabor. 


[©joão miguel simões, todos os direitos reservados]


Mantém-se, já nos pratos principais do menu, o elemento marinho: pregado, pinhão e mexilhão. Neste prato, Alexandre usa e abusa da técnica francesa para conseguir, como base, um aveludado de mexilhão, cozinhado no seu caldo e suco. Como é seu apanágio, mistura o doce, o salgado e o ácido para conseguir um todo equilibrado, pelo que o filete de pregado é salteado sobre legumes da época e os cogumelos são salteados com pinhões.


[©joão miguel simões, todos os direitos reservados]


Estou pronto para a etapa seguinte: o borrego, os padróns e as especiarias. Neste prato, Alexandre Silva acusa a influência da Índia e da América Latina. Mais uma vez, a carne do borrego, um lombo grelhado, surpreende-me pela sua suavidade. Os pimentos padrón, assados no forno, dão uma nota acre, as três especiarias um tom apimentado, mas sem excesso, quebrado pela doçura, mas non troppo, do puré de cenoura.


[©joão miguel simões, todos os direitos reservados]


Antes de passarmos para a etapa final, impõe-se um limpa-palato. É-me servido, finalmente, o famoso algodão-doce eléctrico. Alexandre Silva continua a brincar com o nosso imaginário. Em vez de uma nuvem espetada num pau, como nos habituámos a vê-lo nas barraquinhas de feira, a versão do Bocca é servida num copo de cocktail, enrolada numa colher. Primeiro fica-me na boca o gosto açucarado, até que, a posteriori, os rebentos de szechuan, em pequenas pitadas, provocam-me a já conhecida dormência, seguida de uma sensação refrescante idêntica à de um chiclete mascado. Excelente jogada.


[©joão miguel simões, todos os direitos reservados]


A pré-sobremesa traz um elemento que Alexandre Silva, de uma forma ou de outra, arranja sempre maneira de incluir nas ementas: o arroz doce. Mas, como seria de esperar, não é o arroz doce na sua forma mais convencional. O prato fundo, que lembra os de sopa, serve para que na base desta re-leitura haja um creme gelado de arroz doce, polvilhado com bolacha de canela e aromatizado com zestes de limão — ou seja, os elementos habituais da receita estão aqui todos, para assegurar que a nossa memória gustativa identifica os sabores que associamos ao arroz doce, mas o chef redesenhou a sua apresentação. O toque final, para dar a nota de acidez que Alexandre tanto aprecia, é conseguido pelo gelado de limão.


[©joão miguel simões, todos os direitos reservados]


A última sobremesa: o chocolate e o tiramisú. O chocolate fica por conta de um bolo quente, ao melhor estilo de um soufflé, ao passo que a framboesa se apresenta na forma de uma espuma muito leve, mas que dá ao conjunto uma bem-vinda nota de acidez para cortar o doce. O crocante de banana é o toque mais subtil.


[©joão miguel simões, todos os direitos reservados]


O tiramisú (na foto, é o rolo café-creme) chega-nos como um gelado, mas o curioso, como me explicou o chef, é que para atingir o ponto é preciso fazer um tiramisú de raiz para depois, numa máquina própria, o processar até adquirir a consistência desejada.


Uma nota final para os vinhos. No meu caso, cada prato foi "maridado" (que é como quem diz harmonizado) com um vinho diferente, o que implica um acréscimo de €25 a €20 ao preço do menu de degustação. Vale a pena, pois o Bocca possui uma excelente garrafeira — entre as várias propostas, foi-me servido um Senhor d'Adraga, uma marca nova da região de Colares de que já falei num post anterior, o que prova que estão sintonizados com o mercado —, mas, não se acanhe se quiser beber apenas a copo, pois este é um restaurante que cumpre perfeitamente esse requisito. 


Saliento ainda que os menus de degustação — o de oito pratos aqui descrito custa €52 e o de cinco pratos sai por €43 — são servidos quer ao almoço, quer ao jantar. Os pratos podem também ser pedidos à la carte (consulte o menu actual aqui), sendo que nos almoços há ainda a possibilidade de optar pelos menus executivos (entre €21 e €27).

Para terminar, deixo o vídeo "caseiro", realizado pelo chef, para dar a conhecer o novo menu do Bocca:


Rua Rodrigo da Fonseca, 87-D, tel. 213 808 383, almoços de ter. a sex., entre as 12.30 e as 14.30, e sáb., entre as 13.00 e as 15.00; jantares, de ter. a sex., entre as 19.30 e as 23.00, e sáb., entre as 19.30 e as 23.00
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