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7.2.13

ano novo, cara nova e mesa para muitos... está assim o flores do bairro

[Foram-se as toalhas de mesa e entrou a cor (foto de divulgação)]

Os anos passam. 

Até mesmo para os hotéis. 

Aberto em 2005, o Bairro Alto Hotel (BHA) depressa tornou-se um ponto de encontro, para lisboetas da gema e do coração, entre a elegância do Chiado e a boémia do Bairro. 

[Picar e partilhar são os verbos a conjugar nesta nova fase do Flores (foto de divulgação)]

Perdemos todos a conta às vezes em que o seu bar-terraço, perfeito ninho de cucos para ver a cidade ribeirinha de cima, foi eleito um dos mais desejados a nível internacional dentro do seu género. Mais abaixo, qual par de jarras a escoltar a menina e moça receção, o café-bar BA e o restaurante Flores também ajudaram a somar pontos e a amealhar, mais do que clientes, amigos. 

Mas porque um hotel não pode nem deve dormir na forma, o BHA achou por bem encerrar as portas entre o final de 2012 e o começo de 2013 para sacudir a poeira, renovar a pintura, substituir o que já acusava cansaço e adaptar-se às novas vontades. 

[Mudou a decoração, mas o homem ao leme continua a ser Vasco Lello (foto de divulgação)]

Reabriu dia 1 de fevereiro, sem alardes, mais contemporâneo e menos formal. O Flores do Bairro (como se passou a chamar) é disso a prova maior. As mesas libertaram-se das toalhas, a loiça e os tachos de ferro fundido remetem-nos, ainda que estilizadamente, para a tradição portuguesa e há luminárias, arranjos de flores, tecidos e até um aparador, a pièce de resistence, coloridos. 

Não se perdeu a classe. Ganhou-se foi uma maneira de estar mais adequada ao público que se pretende preservar e ganhar. 

Meses atrás, quando Vasco Lello, o jovem chef que se mantém ao leme do Flores do Bairro, introduziu na carta uma versão do bitoque (ler aqui) era já um prenúncio de mudança. 

[A loiça remete-nos à tradição portuguesa (foto de divulgação)]

De nada adiantaria mudar a forma sem mexer no conteúdo, por isso Lello marca a presente temporada do Flores do Bairro com petiscos e pratos que todos reconhecemos, na sua base, do receituário tradicional, a que ele deu a volta para os chamar de seus. 

Não é um propósito novo, convenhamos (sobretudo numa época de tanta tasca e taberna da nova geração em Lisboa), mas Lello consegue, sem a pretensão de ser mais do que é, algumas soluções que, helàs, não nos soam nem sabem a mais do mesmo. 

E se os hábitos mudaram e a Troika obriga a que muitos portugueses façam agora mais contas na hora de ir comer fora, o Flores dá provas de sensatez e apresenta fórmulas que incentivam, a bom custo, o petisco e a partilha à mesa. 

Sem choradinhos. 

[Cabeça de xara com saladinha de favas (foto de divulgação)]

Nas entradas, para picar (desde três euros), destaque para a cabeça de xara com saladinha de favas, os peixinhos da horta com molho romanesco ou a açorda de lascas de bacalhau, pimento vermelho e ovo escalfado. 

[Chips de corvina e arroz de berbigão (foto de divulgação)]

Nos peixes, provei e gostei do arroz de berbigão com chips de corvina.

[Cabritinho assado com alecrim (foto de divulgação)]
[Empada de perdiz (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Nas carnes, o meu coração bateu mais forte pela empada de perdiz, mas a perna de cabritinho assado com alecrim também não fez feio.
[Pêra com chocolate, requeijão e biscoitos de amêndoa (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Nas sobremesas, vale a pena reservar apetite para meter a colher na pêra com chocolate, requeijão e biscoito de amêndoa, no crumble de maçã e nos papos de anjo com frutos vermelhos. 

[Crumble de maçã (©joão miguel simões, todos os direitos reservados]

Escusado será acrescentar, à laia de conclusão, que a mesa comum no centro da sala não é mera figura de retórica. 

[Papos de Anjo com sorvete de frutos vermelhos (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Vá e leve um amigo. 

[Tarte de chocolate com ganache (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Ou dois. Ou três.

Bairro Alto Hotel | Praça Luís de Camões, 2, almoços das 13.00 às 15.00 (menu executivo a € 18,50) e jantares das 19.30 à`s 23.00 

8.8.12

e o verão já vai a mais de meio, mas o novo menu de degustação do 100 maneiras ainda cheira (e sabe) a novo

[Ljubomir Stanisic e o novo menu de degustação, que também se come à mão (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Entre as gravações televisivas que o obrigam a viagens constantes por Portugal continental e insular — já falei aqui do livro, "Papa-Quilómetros", na origem do programa com o mesmo nome que passa no canal a cabo 24 Kitchen e que ganhou, não faz assim tanto tempo, uma versão para a Sérvia, país de origem do chef —, as noites mal dormidas por conta do seu mais novo rebento — Ljubo foi pai, pela segunda vez, e, consta, tem aproveitado as vigílias noturnas com o filho para o iniciar olfativamente no mundo da cozinha... — e as demandas constantes dos seus três restaurantes (fora as solicitações, sempre mais do que muitas, da imprensa), Ljubomir Stanisic encontrou ainda tempo para se sentar bem à minha frente, uma noite destas. 

Sentado à mesa, ele mesmo fez questão de apresentar o mais novo menu de degustação do 100 Maneiras (45 euros por pessoa, mas 35 para quem quiser fazer a maridagem de cada prato com os vinhos).

[É assim o 100 Maneiras, o restaurante (foto de divulgação)]

Não vou apresentar o Ljubo. Já escrevi várias vezes sobre ele — ou a propósito dele, como aqui —, e por se ter tornado uma figura mediática, sobretudo depois da participação como júri no MasterChef, é sobejamente conhecido do grande público. Direi apenas que, mesmo cansado, não perde o ar de miúdo traquina (apesar de trintão) e que, mais conhecedor das coisas de Portugal que muitos portugueses aqui nascidos e criados, ele, à moda do Norte, faz do palavrão não uma agressão mas um modo livre de expressão.

[O ambiente e os detalhes da sala (foto de divulgação)]

Também não vou falar do 100 Maneiras, ao Bairro Alto (e não muito longe do irmão do meio, o Bistro), o primeiro da série, que se mantém, no espaço acanhado mais intimista, ideal para quem quer degustar ao jantar, e só ao jantar, a cozinha mais autoral de Ljubo.

[O pão do couvert em saca de sarapilheira (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Na verdade, e como ele mesmo confessa, Ljubo já pouco vai para a cozinha. Daí a importância de um braço direito como, no caso do restaurante 100 Maneiras, o seu chef-executivo João Simões (meu quase homónimo que passou, entre outros, pelo extinto Unique Chiado). Mas, o seu toque está lá e não perde nada de vista — durante a noite, por várias vezes, chamou à atenção o pessoal que servia às mesas, alertando para um prato colocado ao contrário e para outros pequenos detalhes que escapariam a olhos menos treinados.

[Sempre presente... (foto de divulgação)]

Mas vamos ao novo menu de degustação. Por estarmos (ainda) no verão, este apresenta-se, necessariamente, mais leve — Ljubo admite que, se pudesse, incluiria apenas peixe e deixaria de fora a carne —, mas não abre mão de certos "clássicos" da casa que ninguém quer ver de fora.

[... o estendal de bacalhau (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

É o caso do Estendal do Bairro Português, uma ideia de truz que Ljubo teve há anos e que, parece, não cansa quem ali vai. No fundo, explicando aos que não provaram, são pequenos chips de bacalhau desidratado, presos por minimolas como se de roupa se tratasse. Por enquanto, o estendal ainda vem nas armação de inox, mas uma parceria com a Vista Alegre deve trazer, não tarda muito, uma outra versão em porcelana (assim acertem com o molde...).

[A sardinha (foto de divulgação)]

Ainda nos entreténs de boca ou palato, segue-se uma sardinha marinada com guacamole em espetada de pão alentejano e pimento padrón.

[Salmão em carpaccio (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Bem como um carpaccio de salmão com ervas, sorbet de lima, lascas de espargos, funcho e aneto em pickle — que Ljubo ordena que se coma com as mãos.

[A vieira, como uma jóia (foto de divulgação)]

Nas entradas, primeiro vem o que ele diz ser uma tentativa de desconstruir um prato oriental. Traduzido? Uma gorda vieira, escondida num prato-sarcófago com ares de porta-jóias, corada com salicórnia (é ela que dá, no caldo onde também vai gengibre e soja, um toque mais salgado), cogumelos e caldo asiático. 

[O ravioli de pato (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

E entra o ravioli de pato, cogumelos e amendoim em massa de arroz com fricassé de espargos e salsa. Aqui, como no resto servido até então, leveza e uma aposta na sutileza, preferindo notas perfumadas a contrastes muito marcados.

[Bacalhau à brás. mas não como conhecemos (foto de divulgação)]

Nos peixes, Ljubo brinca com o tradicional bacalhau à brás. Como? Apresenta um naco de bacalhau escalfado com brás de batata, couve e coentros (e tomate, que introduz uma nota mais ácida). 

[Limpa-me o palato, por favor (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Nem carne nem peixe: o granizado de limão confitado com citronella (parente da nossa erva cidreira) gengibre e hortelã a servir de intermezzo. Entre o peixe e a carne.

[O leitão, macio por dentro, estaladiço por fora (foto de divulgação)]

Chega-me então um leitão cozinhado a baixa temperatura com maçã Granny Smith caramelizada e nabo. É uma tendência, decididamente. Nos últimos meses tenho comido, não só em Portugal, pratos em que sobretudo a barriga do porco (neste caso é leitão) é cozinhada por horas a fio, para se apresentar depois muito macia por dentro, com uma nota fumada, e com a pele estaladiça por fora.

[Fruta, mas não só (foto de divulgação)]

Para encerrar o repasto que já ia longo, duas sobremesas. Fruta com sabayon de amêndoa e crumble e cacau e, a que me ficou no goto (porque se trata de uma coisa aparentemente simples, mas que resulta em cheio): espuma de queijo com sorbet de goiaba e nougat de medronho, numa releitura muito feliz do "clássico" brasileiro Romeu e Julieta (queijo e goiabada).

["Romeu e Julieta" segundo Ljubo (foto de divulgação)]

Numa época de crise, em que muitos restaurantes (comerciais, mas também de alta gastronomia, perecem), acho que entendo cada vez melhor o sucesso de Ljubomir. Sabe promover-se, aliar-se aos parceiros certos e tem-se mostrado certeiro em juntar ao prazer convivial de estar à mesa uma cozinha autoral, mas com sabores, texturas e harmonizações que são fáceis de assimilar pela maioria dos comensais. 

[Yummy! (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Parece simples de fazer, mas não é.

Rua do Teixeira, 35, tel. 910 307 575, todos os dias, entre as 19.30 e as 02.00

22.3.12

maravilhas gastronómicas dos açores inspiram o flores, no bairro alto hotel, a criar semana do mar (até 25.03)

[A temerária Bicuda, também conhecida por barracuda ou Sphyraena viridensis, (©jp barreiros, todos os direitos reservados)]

Prestes a completar um ano de casa, o jovem chef Vasco Lello (falei dele aqui e aqui) tem feito um percurso discreto, sem muito alarido à sua volta, mas interessante; sobretudo se levarmos em conta que um restaurante de hotel obriga sempre a um compromisso (nem sempre fácil de gerir, diga-se) entre a cozinha mais autoral e uma série de pratos pièce de resistance (os mais "clássicos" que, por se tratar de um hotel, todos esperam encontrar ali).

[A decoração do Flores alusiva à Semana Gastronómica do Mar dos Açores (©sofia simões, todos os direitos reservados)]

Premiado, não faz muito tempo, com “2 Garfos” no concurso Lisboa à Prova, o restaurante Flores, comandado por Lello, tem feito um esforço assinalável para não ficar fechado na sua concha, nem limitado a quem se hospeda no hotel, e continua a apostar em iniciativas e eventos gastronómicos para atrair os lisboetas (e não só) até si.

[Pequeno e intimista, o Flores deixa entrar um pouco do Chiado a caminho do Bairro Alto pelas suas janelas (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


É o caso da Semana Gastronómica do Mar dos Açores, a decorrer até ao próximo domingo (dia 25), que corrobora a preocupação de Lello em incluir, cada vez mais (e isso nota-se igualmente a cada nova carta sazonal), produtos portugueses como tortulhos, zimbro, castanhas e, claro, o bom peixe da nossa costa.

[Queijo fresco com pimentão e manteiga temperada com flor de sal, o couvert (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


O peixe português, para quem ainda não reparou, está em alta; em especial o que nos chega do arquipélago açoriano. Mais do que as teses, os argumentos e o interesse de saber se é ou não o melhor do mundo — este tipo de afirmações envolvem sempre alguma subjetividade, mas, neste caso, pode ter o mérito de gerar maior discussão em torno do tema e com isso agregar novas adesões à "causa" —, importa saber que, de dia para dia, ganha adeptos na alta gastronomia nacional e internacional, sendo já vários os chefs que não o dispensam nos seus cardápios.

[Na entrada, creme de caranguejo e pimenta da terra com croutons de massa sovada (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)] 

Voltando à proposta temática do Flores, Lello não se limitou, como seria de esperar, ao peixe açoriano. Este foi, digamos, a base, o ponto de partida para criar, diariamente e ao longo de uma semana, uma série de entradas e pratos (além das sobremesas, que não levam peixe nem mariscos) que deitam mão a outros ingredientes típicos dos Açores como o inhame, o maracujá ou a batata doce. E não só.

[Outra opção de entrada, queijo da serra da Estrela
marinado em carpacio e queijo da ilha (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A ementa de inspiração açoriana muda todos os dias, até domingo, e está a ser servida numa fórmula de menu executivo (€21 por pessoa) com direito a escolher uma entrada, um prato e uma sobremesa. A exceção é a sexta-feira, dia 23, em que o Flores mantém o seu habitual buffet (mas que neste caso alinhará pelo tema, mantendo o valor de €27,50 por pessoa).

[Nos pratos, peixe-espada assado com batata-doce, ananás e maracujá (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Peixes como a moreia, o encharéu, a bicuda, o rocaz, a abrótea, o peixe-porco, o atum, a cavala, o peixe-espada ou o espadarte (só para citar alguns) são as estrelas do menu, que ainda assim manteve, em paralelo e numa versão mais reduzida, outras propostas da estação. Estive ali ontem, ao almoço, e Lello, com quem troquei algumas impressões no final da refeição, pareceu-me, não obstante a sala a meio-gás,  satisfeito com a adesão das pessoas ao menu-temático.

[Ainda outro prato, bicuda com inhame, linguiça e espinafres (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Confesso, fiz coincidir a minha ida com um dia em que a ementa me agradou mais e a ideia é mesmo essa; mesmo não sobrando muitas mais oportunidades para o fazer, vale a pena chamar a atenção para o próximo fim-de-semana, altura em que, por razões óbvias, concentraram alguns dos pontos mais altos desta semana.

[Nas sobremesas, um créme brûlée pouco convencional, pois leva anona e biscoito crocante (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)] 

Para facilitar a escolha, copio abaixo o menu:

Quinta-Feira 
Entradas – Abrótea e funcho em sopa ou Lula em ceviche, de alhada e assada com manteiga de ervas
Pratos - Espadarte Burger ou Boca-negra em caldo miso e aipo
Sobremesa – Tomate capuchinho

Sexta-Feira 
Buffet

Sábado
Entradas – Atum braseado com creme de ouriço ou Salada de cavaco, flores e maracujá
Pratos - Bicuda braseada com arroz de lapas ou Bagre numa massada 

Domingo 
Entradas – Escolar com côco lima e malagueta ou Safio/enguia assado/a e caviar de Czar
Pratos - Alfonsim com ostras, ervilhas e xeróvias ou Anchova com polvo estufado em vinho de cheiro

[As trufas servidas com o café, um apontamento sempre simpático para encerrar o repasto (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Já agora, antes de encerrar o post, não custa acrescentar que, numa parceria entre o Bairro Alto Hotel e a Sata, foi ainda criado um passatempo alusivo à semana gastronómica. Tudo o que precisa fazer, além de almoçar ou jantar por estes dias, é escrever uma frase inspirada que inclua as palavras "restaurante Flores", "Açores" e "peixe". A frase vencedora,  selecionada pelo Bairro Alto Hotel e Sata, será anunciada no dia 26 de Março e dá direito a uma viagem para duas pessoas a Ponta Delgada, em São Miguel.


Bairro Alto Hotel, Praça Luís de Camões, 2, tel. 213 408 252, almoços, todos os dias, entre as 12.30 e as 15.00; jantares, de dom. a qua., entre as 19.30 e as 22.30; de qui. a sáb., entre as 19.30 e as 23.30

4.2.12

O brunch de domingo do the decadente restaurante & bar

[O bar que antecede o restaurante The Decadente (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Estive uns dias ausente de Lisboa, mas antes disso encontrei tempo (e disposição) para ir finalmente experimentar (e conhecer) o brunch de domingo do The Decadente Restaurante & Bar, um dos mais recentes a aportar por estas bandas.



Do brunch, propriamente dito, ouvi uma coisa ali, outra acolá. Nada de muito sólido, ou conclusivo, para criar (demasiadas) expectativas.

[É preciso atravessar a entrada do albergue para ir ao restaurante, nas traseiras (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)

Já enquanto restaurante, The Decadente (suponho que a intenção do nome seja por-nos a gaguejar, em modo repeat, no "de de") tem gerado um certo sururu, com muito boa gente a queixar-se da dificuldade em conseguir uma mesa para jantar nas noites mais concorridas.

[Ante-câmara do The Decadente (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)] 

Não deixa de ser um feito apreciável. Sem acesso direto à rua, para ir ao "De'Decadente" é preciso entrar e atravessar o mais novo albergue de Lisboa — à velocidade vertiginosa com que abrem hostels-geração-Ikea na capital (e não só, o Porto já vai pelo mesmo caminho), arrisco-me a pecar por desatualização... —, que responde pelo igualmente sugestivo nome de The Independente Hostel & Suites.

[A "esplanada", aberta mesmo em pleno Inverno (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Instalado de mala e cuia num palacete antigo, com o Bairro Alto a dar-se ares de Príncipe Real, o albergue fica virado para o mirador de São Pedro de Alcântara. Já o restaurante abancou nas traseiras do edifício, mas tira proveito do facto de possuir um pequeno quintal, entre prédios, ideal para os dias de Sol mesmo em pleno Inverno.

[Ambiente retro, mas não muito (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A cozinha está entregue a uma equipa jovem, comandada pelo chef Nuno Bandeira de Lima e o sous-chef Thomas Manchini (que coloca no currículo Alain Ducasse e a Tasca da Esquina de Vítor Sobral), mas isso acaba por não ter grande peso no serviço domingueiro de brunch.

[Clientela jovem, mas não só, no brunch domingueiro (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Aproveitei a largueza de horário, entre as 12 e as 17 horas, para chegar um pouco depois das três da tarde. Salas compostas (são duas, mais umas quantas mesas e bancos corridos de madeira no tal quintal), Pop como barulhinho de fundo e uma clientela urbana e informal, na faixa dos 20 e 30, sobretudo (mas não só, contei uns quantos pais acompanhados de filhos adolescentes ou já adultos).

[O brunch tornou-se um ponto de encontro de Lisboa aos domingos (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Base neutra, cadeiras desirmanadas, luminárias de diferentes estilos ao pendurão sobre as mesas de fórmica e toques revivalistas, mas non troppo, remetem-nos para as décadas de 1950, 1960.

[A mesa do bufete (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

De caras, achei a mesa do bufete meio "pobrinha", com cereais, dois tipos de pães (de Mafra e de sementes), queijo, fiambre, compotas, mel, fruta da época, salada, massa fria com frutos secos, bebidas quentes (café e chocolate) e frias (leite, sumo de laranja, limonada e ice tea caseiro com hortelã), duas sobremesas (uma delas não reposta)... Também não fiz vista grossa aos cereais derramados no chão que, enquanto ali estive, nenhum empregado se dignou a apanhar.

[O prato "Americano" (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

O bufete é para todos e depois há que eleger um prato entre três propostas: British (pão de Mafra tostado, bacon, feijões, salsicha, tomate assado e ovo), Americano (pão de Mafra tostado, panqueca de frutos vermelhos com xarope de chá verde e mel, salchicha picante com especiarias, batata com paprika e molho picante, ovo e bacon) e Mediterrânico (pão de Mafra tostado, cogumelo Portobello, tomate assado, ovo, morcela assada e espinafres).

Optei pelo prato Americano e não me arrependi.

Mas também não me entusiasmei. Ao contrário de quem embirra com esta coisa do brunch, que não é carne nem peixe para alguns, eu gosto e cultivo o ritual preguiçoso.

[Arroz doce porque o bolo já tinha acabado... (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Talvez por isso, e porque tenho inúmeros pontos de comparação, achei este, no conjunto, fraco.

Mas ai, na hora de pagar, apresentaram-me uma conta de €14 (e é possível fazê-lo a partir dos €8 por pessoa) e fiquei um pouco desarmado.

Sim, está longe de ser um grande brunch, mas estamos a falar de um albergue e de uma relação qualidade-peço muito razoável.

Por isso, e só por isso, dou-lhe o benefício da dúvida.

Rua de São Pedro de Alcântara, 81, tel. 213461381, aos dom., entre as 12.00 e as 17.00. Serve ainda almoços e jantares

21.6.11

a carta de verão e o novo chef do flores

[Vasco Lello, o novo chef do restaurante Flores, ao Bairro Alto (foto de divulgação); abaixo: ementa do almoço de apresentação da carta de Verão (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


Carta nova. Chef novo. Dois motivos de peso para voltar ao Flores, o pequeno mas sempre simpático restaurante do Bairro Alto Hotel, e ficar a par das novidades que chegaram com o Verão.

Vasco Lello teve cerca de dois meses para se adaptar à casa e imprimir a sua marca no menu que, a partir de hoje e durante todo o Verão, será o principal cartão de visita do restaurante.

Bastante jovem ainda, Lello teve oportunidade de passar já por alguns hotéis de peso, como o Le Méridien (onde teve por mestre o chef Eduardo Mello) ou o Pestana Palace (onde trabalhou directamente com Aimé Barroyer), o que lhe dá, à partida, um bom jogo de cintura para lidar com as particularidades de um desafio deste género — porque há diferenças num restaurante de hotel.

[O Flores em clima assumido de Verão (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A sua cozinha é de matriz assumidamente portuguesa, com influências mediterrânicas, e isso fica claro ao passarmos os olhos pela carta que preparou para esta estação.

Num primeiro almoço de degustação, fiquei bem impressionado com o que vi e saboreei. Combinações menos óbvias, mas ainda assim consistentes e abordáveis para a maioria dos palatos; um bom equilíbrio entre os vários ingredientes, o que torna os pratos leves (detalhe importante, sobretudo no Verão); e um empratamento contemporâneo, agradável à vista e bom de comer.

Mas vamos ao prato a prato.

[A entrada: trio de terrine de foie gras, compota de cereja e gelatina de ginjinhas (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Nas entradas, seis propostas — a saber: creme de Topinambur; vieiras coradas com salada de rúcula e laranja, ficando o toque salgado por conta do presunto e Sumagre; sardinha assada com flor de sal e orégãos, num gaspacho com tomate, pepino e pimentos; queijo de cabra e figo tépidos, acompanhados por salada de três alfaces; cachaço em lascas, queijo de Nisa derretido e "Galegas"; trio de terrine de foie gras, compota de cereja e gelatina de ginjinhas. 

[O prato de peixe: bacalhau confitado  com Ras-el-hannout, papas de grão, harira, briouat (com recheio de tâmaras) e óleo de Argan (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Seguiu-se, como peixe, um bacalhau confitado  com Ras-el-hannout, papas de grão, harira, briouat (o canudinho crocante no topo, com recheio de tâmaras) e óleo de Argan. Um prato com um toque magrebino que cai muito bem e que tira o máximo partido da versatilidade do bacalhau. Sem dúvida, um "must" da nova carta.

As outras propostas no mesmo capítulo são um salongo no sauté de ostras e limão; peixe-espada com uma crosta de camarão e ervas frescas; e atum na chapa com sésamo e molho "Ponzu".

[O prato de carne: novilho enrolado com alecrim, pimenta preta, lentamente estufado sobre legumes de uma "Jardineira" (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Nas carnes, chegou-me um novilho enrolado com alecrim, pimenta preta, lentamente estufado sobre legumes de uma "Jardineira". Muito tenro e irrepreensivelmente leve.

As outras escolhas são cordoniz frita com alho, louro e vinho branco; sela de coelho braseada com os "miúdos" e perna assada e desfiada; bochechas de porco preto com tomilho sobre papas secas de milho. Nem carne, nem peixe, uma opção de risotto com espargos verdes, beringela assada e Parmesão.

[A sobremesa: bolinho de amêndoa, pêssego rosa e gelatina de "Amarguinha" (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Para rematar, quatro sobremesas a escolher entre bolinho de amêndoa, pêssego rosa e gelatina de "Amarguinha"; "famoso cocktail" de coco em bolo e ananás em creme; morangos frescos com gelado de champanhe; e, d'Além Mar, chocolate, banana e maracujá. Elegida a primeira opção, poderia facilmente ter descambado para algo pesado e indigesto, mas Lello soube transformá-la numa sinfonia de sabores e texturas subtis e perfumados (reforçado pela flor comestível).

[Um pequeno "mimo" para os convidados do primeiro almoço de degustação: biscoitos no lanche (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Bairro Alto Hotel, Pç. Luís de Camões, 2, tel. 213 408 252, almoços, entre as 12.30 e as 15.00; jantares, de dom. a qua., entre as 19.30 e as 22.30, de qui. a sáb., entre as 19.30  e as 23.30. Menus fixos a partir de €21 por pessoa
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