[Fachada da LBBS (foto de nuno santos editada por jms)] |
Ano novo, post novo. E já não era sem tempo. Os meus afazeres como coordenador editorial da revista Volta ao Mundo complicaram a minha rotina nos últimos meses de 2012, mas, entrado 2013, prometo maior disciplina e assiduidade por aqui :)
Recuando aos últimos dias de 2012, precisamente, cumpri por duas vezes um ritual que aprecio bastante: o do brunch.
Às vésperas do Natal, incauto, achei por bem aproveitar o começo frio de uma tarde de sábado para ir finalmente conhecer o brunch do Pão de Canela, ponto assente na Praça das Flores, ao Príncipe Real.
Assumo que não terá sido a melhor altura para o fazer — lotação esgotada nos dois primeiros turnos, mesas e mais mesas de grupos e famílias que ali quiseram brincar ao amigo oculto; uma ideia simpática, não fosse o facto de atravancaram tudo e de se tornarem para os demais clientes "amigos de Peniche" —, mas não fiquei convencido. O preço é realmente interessante (não chega aos 14 euros por pessoa), com direito a repetir o que se quiser no buffet, mas, embora farto, a qualidade da maioria dos produtos é sofrível, o serviço pouco atento. Resumindo: senti falta de algo mais artesanal e personalizado. Entendo que muitos elogiem a sua relação qualidade-preço, mas, por mim, prefiro pagar um pouco mais e comer um pouco menos, mas melhor.
Uma questão de escolha (e de gosto).
E foi assim que, no domingo seguinte, em vésperas de Réveillon, aportei em La Boulangerie by Stef, numa esquina providencial da Baixa Lisboeta, na rua da Madalena.
Aberta há pouco mais de um ano, esta padaria com ares parisienses mas sem tiques de grandeza (uma mania que tomou conta de outras suas congéneres espalhadas pela capital), não é uma novidade-novidade. Quer dizer, ainda o é para muito boa gente, mas para muitos tornou-se, por mérito próprio, um porto seguro. Daqueles onde, consoante a hora, pode não ser fácil conseguir uma mesa porque quem chegou antes simplesmente não tem pressa em partir (e nem a isso se sente obrigado).
[À janela, num domingo em que não era tarde nem cedo (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)] |
Conhecia a casa — e a fama dos seus croissants, provavelmente (digo eu e não serei o único) dos melhores de Lisboa e arredores, nada "massudos" —, mas não conhecia o brunch, servido apenas aos domingos (das 11.00 às 16.15) e nos feriados (das 10.30 às 19.30).
Para grandes males, pequenos remédios. Telefonei na véspera para marcar e foi a própria Stef (Stephanie Alves) quem me atendeu. Manda a regra que se façam apenas reservas para grupos a partir das quatro pessoas, mas em LBBS, e tratando-se da simpática Stef, isso pode ser um recurso de circunstância. Mesmo estando a dois, não só me fez marcação para a uma da tarde (hora de ponta, portanto), como me perguntou se queria a mesa junto à janela. Claro que queria! Escusado será dizer que me conquistou de supetão. E antes que se apressem a tirar conclusões, esclareço: na altura, a Stef estava longe de me saber jornalista; tão-pouco interessado em escrever sobre ela e a sua LBBS. Isso foi só depois.
Antes, a preocupação era a de não chegar atrasado e desmerecer tanto cuidado. Parisiense, mas radicada no nosso país, Stef deixou-se levar por um sentimento bem conhecido dos portugueses: a saudade. No seu caso, a saudade de comer uns bons croissants e pain au chocolat. Da cidade de Lille, onde estagiou numa das maiores padarias, trouxe o conhecimento e o traquejo que precisava não para meter a mão na massa mas para saber exigir e manter o padrão de qualidade dos pães e dos doces de LBBS — entretanto essa mesma exigência e saber-fazer fez que, falhada a tentativa de ter um padeiro português à altura da missão, Stef passasse a assumir também a confeção.
[Compotas biológicas de Azeitão e Nutella à discrição (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)] |
A casa é acolhedora. Lembra uma padaria de bairro. Muita madeira, movéis antigos recuperados, candeeiros das décadas de 1940 e 1970, louça em grés da Costa Nova, bules em ferro, revistas para ler, apontamentos rústicos mas cheios de charme, bem como algumas soluções simples, mas inspiradas. A classe está lá, em pequenas doses, mas sem complicações e sem se armar ao pingarelho.
E são simpáticos.
A ementa do dia é escrita na ardósia e costuma haver tartines, hambúrgueres, saladas, vinhos e pães, claro. A manteiga usada na produção dos pães (duas fornadas por dia) vem de França; o chocolate (70% de cacau) do pain au chocolat da Bélgica. Detalhes que fazem a diferença. Mas também há coisas portuguesas, como os frascos de compota biológica de Azeitão (que estão sempre à disposição nas mesas, bem como a Nutella).
entre os 15 e os 17 euros por pessoa, a fórmula de brunch dá direito a uma cesta de pães, uma bebida quente (café, chás, galão ou cappuccino), um copo de sumo de laranja (a minha única ressalva: achei que em vez de um copo por pessoa poderiam dar um pequeno jarro para duas pessoas e colocar menos água no sumo...), um croissant ou um pain au chocolat (são enormes, um e outro) e um prato a eleger entre cinco opções de saladas que se combinam, caso a caso, com diferentes tipos de queijos, ovos mexidos, salmão, quiche e charcutaria — a última novidade a chegar foi a Salada com toasts e ovo cocotte com foie gras.
Por volta das duas e pouco da tarde, as mesas estavam já todas praticamente ocupadas. E nunca, em momento algum, me senti coagido a deixar livre o meu poiso privilegiado à janela. Ponto para a Stef. E para nós, lisboetas e não lisboetas, que ganhámos um cheirinho bom a Paris num dos trechos mais castiços da cidade.
1 comentário:
Eu adoro ir a esta Boulangerie. O melhor sitio de Lisboa para um croissant e para o Brunch!!
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