[Os dois ambientes do Solar do Vinho do Porto, ao Bairro Alto, depois da intervenção do designer Paulo Lobo (fotos D.R.)] |
Quando moramos numa cidade, é comum acabarmos por deixar de fora lugares e actividades que, com ou sem razão, rotulamos de "coisa para turista". Comigo não foi, não é, excepção, mas o facto de ter vários amigos de fora que me visitam com alguma regularidade obriga-me, de quando em vez, a repensar certas escolhas e a considerar programas que, de outra forma, jamais faria. Foi assim que, há uns bons anos, descobri o Solar do Vinho do Porto, ao Bairro Alto, cuja entrada se faz pelo Palácio do Ludovice, mesmo em frente ao Elevador da Glória e ao miradouro de São Pedro de Alcântara, dois outros pontos turísticos que já perdi a conta de ter mostrado.
Na época, sempre achei o ambiente "cavernoso" do solar algo soturno e pesado, mas em mais nenhum lugar da cidade se conseguia provar a copo, e por preços muito aceitáveis, praticamente todos os tipos e categorias de vinho do Porto e do Douro.
A verdade é que, passado um certo tempo, nem mesmo os meus amigos gringos foram mais pretexto para incursões esporádicas ao solar. Fui deixando de ir até que, inevitavelmente, me esqueci dele.
Não devo ter sido o único. Tudo bem, a clientela nacional nunca foi o forte desta casa, que conta com 85% de frequência estrangeira, mas o espaço tinha potencial para mais e os responsáveis acabaram por rever a sua filosofia. E eis que, com 65 anos recém-completados, o Solar do Vinho do Porto, mais do que virar a página, se repaginou e me fez ali voltar sem sequer precisar — detalhe importante — da desculpa de estar a fazer as vezes de cicerone.
Reaberto no começo do ano, o solar diz-se agora um "bar de luxo" e recorreu ao designer Paulo Lobo — com loja própria no Porto, onde assina alguns dos restaurantes mais emblemáticos da Invicta — para ficar à altura das intenções. Na sala principal, o mobiliário original foi restaurado e mantiveram os tectos abobadados e com vigas, mas a decoração é assumidamente contemporânea e salta à vista o verde-inglês aplicado nas novas garrafeiras que revestem praticamente todas as paredes do espaço (além de bar, o solar também é loja). Mais escondida, mas muito impactante, a sala de provas mistura, do chão às paredes, diferentes tons de azul, pois o designer tomou como mote os bonitos azulejos do século XVIII ali existentes.
Voltando ao salão principal, que acaba por ser a sala de visitas, devo dizer que, ao vivo e a cores, não é tão bem conseguido como as fotos nos levam a supor, mas a mudança foi, sem dúvida, para muito melhor. A lista de vinhos disponíveis ascende aos cerca de 300 rótulos (estando representadas 60 empresas da região), com preços que vão de €1,50 a €26,20 por cálice. Para acompanhar, produtos de fumeiro (€6-€16) ou queijos (€4,50-€8) tipicamente portugueses.
Por mim, elejo doravante o solar para uma happy hour ou começo de noitada no Bairro, pois continuam a não ser muitos os bares onde se consegue beber um Porto Tónico por €2,30 ou uma Caipiporto por €2,50. Mas fica um último reparo: se a ideia é atrair mais locais, talvez seja bom os empregados se absterem de falar entre si, e em voz alta, de assuntos particulares. Informalidade sim; sem noção, nunca.
Rua São Pedro de Alcântara, 45, tel. 213 475 707, de seg. a sex., das 11.00 às 00.00, aos sáb., das 14.00 às 00.00. Encerra aos dom. e feriados.
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