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8.1.13

domingo é dia de brunch em la boulangerie by stef

[Fachada da LBBS (foto de nuno santos editada por jms)]

Ano novo, post novo. E já não era sem tempo. Os meus afazeres como coordenador editorial da revista Volta ao Mundo complicaram a minha rotina nos últimos meses de 2012, mas, entrado 2013, prometo maior disciplina e assiduidade por aqui :)

Recuando aos últimos dias de 2012, precisamente, cumpri por duas vezes um ritual que aprecio bastante: o do brunch.

Às vésperas do Natal, incauto, achei por bem aproveitar o começo frio de uma tarde de sábado para ir finalmente conhecer o brunch do Pão de Canela, ponto assente na Praça das Flores, ao Príncipe Real.

Assumo que não terá sido a melhor altura para o fazer — lotação esgotada nos dois primeiros turnos, mesas e mais mesas de grupos e famílias que ali quiseram brincar ao amigo oculto; uma ideia simpática, não fosse o facto de atravancaram tudo e de se tornarem para os demais clientes "amigos de Peniche" —, mas não fiquei convencido. O preço é realmente interessante (não chega aos 14 euros por pessoa), com direito a repetir o que se quiser no buffet, mas, embora farto, a qualidade da maioria dos produtos é sofrível, o serviço pouco atento. Resumindo: senti falta de algo mais artesanal e personalizado. Entendo que muitos elogiem a sua relação qualidade-preço, mas, por mim, prefiro pagar um pouco mais e comer um pouco menos, mas melhor. 

Uma questão de escolha (e de gosto).

[A mesa mais disputada junto à janela (foto de nuno santos editada por jms)]

E foi assim que, no domingo seguinte, em vésperas de Réveillon, aportei em La Boulangerie by Stef, numa esquina providencial da Baixa Lisboeta, na rua da Madalena.

[Atmosfera vintage na Baixa lisboeta (foto de nuno santos editada por jms)]

Aberta há pouco mais de um ano, esta padaria com ares parisienses mas sem tiques de grandeza (uma mania que tomou conta de outras suas congéneres espalhadas pela capital), não é uma novidade-novidade. Quer dizer, ainda o é para muito boa gente, mas para muitos tornou-se, por mérito próprio, um porto seguro. Daqueles onde, consoante a hora, pode não ser fácil conseguir uma mesa porque quem chegou antes simplesmente não tem pressa em partir (e nem a isso se sente obrigado).

[À janela, num domingo em que não era tarde nem cedo (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Conhecia a casa — e a fama dos seus croissants, provavelmente (digo eu e não serei o único) dos melhores de Lisboa e arredores, nada "massudos" —, mas não conhecia o brunch, servido apenas aos domingos (das 11.00 às 16.15) e nos feriados (das 10.30 às 19.30).

[Em dia de brunch, melhor reservar mesa (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Para grandes males, pequenos remédios. Telefonei na véspera para marcar e foi a própria Stef (Stephanie Alves) quem me atendeu. Manda a regra que se façam apenas reservas para grupos a partir das quatro pessoas, mas em LBBS, e tratando-se da simpática Stef, isso pode ser um recurso de circunstância. Mesmo estando a dois, não só me fez marcação para a uma da tarde (hora de ponta, portanto), como me perguntou se queria a mesa junto à janela. Claro que queria! Escusado será dizer que me conquistou de supetão. E antes que se apressem a tirar conclusões, esclareço: na altura, a Stef estava longe de me saber jornalista; tão-pouco interessado em escrever sobre ela e a sua LBBS. Isso foi só depois.

[Dandy, mas sem mania das grandezas (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)

Antes, a preocupação era a de não chegar atrasado e desmerecer tanto cuidado. Parisiense, mas radicada no nosso país, Stef deixou-se levar por um sentimento bem conhecido dos portugueses: a saudade. No seu caso, a saudade de comer uns bons croissants e pain au chocolat. Da cidade de Lille, onde estagiou numa das maiores padarias, trouxe o conhecimento e o traquejo que precisava não para meter a mão na massa mas para saber exigir e manter o padrão de qualidade dos pães e dos doces de LBBS —  entretanto essa mesma exigência e saber-fazer fez que, falhada a tentativa de ter um padeiro português à altura da missão, Stef passasse a assumir também a confeção.

[Compotas biológicas de Azeitão e Nutella à discrição (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A casa é acolhedora. Lembra uma padaria de bairro. Muita madeira, movéis antigos recuperados, candeeiros das décadas de 1940 e 1970, louça em grés da Costa Nova, bules em ferro, revistas para ler, apontamentos rústicos mas cheios de charme, bem como algumas soluções simples, mas inspiradas. A classe está lá, em pequenas doses, mas sem complicações e sem se armar ao pingarelho.

E são simpáticos.

[Brunch na mesa, parte I (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A ementa do dia é escrita na ardósia e costuma haver tartines, hambúrgueres, saladas, vinhos e pães, claro. A manteiga usada na produção dos pães (duas fornadas por dia) vem de França; o chocolate (70% de cacau) do pain au chocolat da Bélgica. Detalhes que fazem a diferença. Mas também há coisas portuguesas, como os frascos de compota biológica de Azeitão (que estão sempre à disposição nas mesas, bem como a Nutella).

[Brunch na mesa, parte II (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

entre os 15 e os 17 euros por pessoa, a fórmula de brunch dá direito a uma cesta de pães, uma bebida quente (café, chás, galão ou cappuccino), um copo de sumo de laranja (a minha única ressalva: achei que em vez de um copo por pessoa poderiam dar um pequeno jarro para duas pessoas e colocar menos água no sumo...), um croissant ou um pain au chocolat (são enormes, um e outro) e um prato a eleger entre cinco opções de saladas que se combinam, caso a caso, com diferentes tipos de queijos, ovos mexidos, salmão, quiche e charcutaria — a última novidade a chegar foi a Salada com toasts e ovo cocotte com foie gras.

Por volta das duas e pouco da tarde, as mesas estavam já todas praticamente ocupadas. E nunca, em momento algum, me senti coagido a deixar livre o meu poiso privilegiado à janela. Ponto para a Stef. E para nós, lisboetas e não lisboetas, que ganhámos um cheirinho bom a Paris num dos trechos mais castiços da cidade.


Rua da Madalena, 57, tel. 936 155 742, de ter. a sex., entre as 09.00 e as 20.00; ao sáb., entre as 10.00 e as 20.00; ao dom., entre as 11.00 e as 17.00

4.2.12

O brunch de domingo do the decadente restaurante & bar

[O bar que antecede o restaurante The Decadente (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Estive uns dias ausente de Lisboa, mas antes disso encontrei tempo (e disposição) para ir finalmente experimentar (e conhecer) o brunch de domingo do The Decadente Restaurante & Bar, um dos mais recentes a aportar por estas bandas.



Do brunch, propriamente dito, ouvi uma coisa ali, outra acolá. Nada de muito sólido, ou conclusivo, para criar (demasiadas) expectativas.

[É preciso atravessar a entrada do albergue para ir ao restaurante, nas traseiras (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)

Já enquanto restaurante, The Decadente (suponho que a intenção do nome seja por-nos a gaguejar, em modo repeat, no "de de") tem gerado um certo sururu, com muito boa gente a queixar-se da dificuldade em conseguir uma mesa para jantar nas noites mais concorridas.

[Ante-câmara do The Decadente (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)] 

Não deixa de ser um feito apreciável. Sem acesso direto à rua, para ir ao "De'Decadente" é preciso entrar e atravessar o mais novo albergue de Lisboa — à velocidade vertiginosa com que abrem hostels-geração-Ikea na capital (e não só, o Porto já vai pelo mesmo caminho), arrisco-me a pecar por desatualização... —, que responde pelo igualmente sugestivo nome de The Independente Hostel & Suites.

[A "esplanada", aberta mesmo em pleno Inverno (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Instalado de mala e cuia num palacete antigo, com o Bairro Alto a dar-se ares de Príncipe Real, o albergue fica virado para o mirador de São Pedro de Alcântara. Já o restaurante abancou nas traseiras do edifício, mas tira proveito do facto de possuir um pequeno quintal, entre prédios, ideal para os dias de Sol mesmo em pleno Inverno.

[Ambiente retro, mas não muito (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A cozinha está entregue a uma equipa jovem, comandada pelo chef Nuno Bandeira de Lima e o sous-chef Thomas Manchini (que coloca no currículo Alain Ducasse e a Tasca da Esquina de Vítor Sobral), mas isso acaba por não ter grande peso no serviço domingueiro de brunch.

[Clientela jovem, mas não só, no brunch domingueiro (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Aproveitei a largueza de horário, entre as 12 e as 17 horas, para chegar um pouco depois das três da tarde. Salas compostas (são duas, mais umas quantas mesas e bancos corridos de madeira no tal quintal), Pop como barulhinho de fundo e uma clientela urbana e informal, na faixa dos 20 e 30, sobretudo (mas não só, contei uns quantos pais acompanhados de filhos adolescentes ou já adultos).

[O brunch tornou-se um ponto de encontro de Lisboa aos domingos (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Base neutra, cadeiras desirmanadas, luminárias de diferentes estilos ao pendurão sobre as mesas de fórmica e toques revivalistas, mas non troppo, remetem-nos para as décadas de 1950, 1960.

[A mesa do bufete (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

De caras, achei a mesa do bufete meio "pobrinha", com cereais, dois tipos de pães (de Mafra e de sementes), queijo, fiambre, compotas, mel, fruta da época, salada, massa fria com frutos secos, bebidas quentes (café e chocolate) e frias (leite, sumo de laranja, limonada e ice tea caseiro com hortelã), duas sobremesas (uma delas não reposta)... Também não fiz vista grossa aos cereais derramados no chão que, enquanto ali estive, nenhum empregado se dignou a apanhar.

[O prato "Americano" (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

O bufete é para todos e depois há que eleger um prato entre três propostas: British (pão de Mafra tostado, bacon, feijões, salsicha, tomate assado e ovo), Americano (pão de Mafra tostado, panqueca de frutos vermelhos com xarope de chá verde e mel, salchicha picante com especiarias, batata com paprika e molho picante, ovo e bacon) e Mediterrânico (pão de Mafra tostado, cogumelo Portobello, tomate assado, ovo, morcela assada e espinafres).

Optei pelo prato Americano e não me arrependi.

Mas também não me entusiasmei. Ao contrário de quem embirra com esta coisa do brunch, que não é carne nem peixe para alguns, eu gosto e cultivo o ritual preguiçoso.

[Arroz doce porque o bolo já tinha acabado... (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Talvez por isso, e porque tenho inúmeros pontos de comparação, achei este, no conjunto, fraco.

Mas ai, na hora de pagar, apresentaram-me uma conta de €14 (e é possível fazê-lo a partir dos €8 por pessoa) e fiquei um pouco desarmado.

Sim, está longe de ser um grande brunch, mas estamos a falar de um albergue e de uma relação qualidade-peço muito razoável.

Por isso, e só por isso, dou-lhe o benefício da dúvida.

Rua de São Pedro de Alcântara, 81, tel. 213461381, aos dom., entre as 12.00 e as 17.00. Serve ainda almoços e jantares

9.1.12

de volta ao darwin's café, num dia ensolarado de inverno


[Mesmo em pleno Inverno, a esplanada do Darwin's mantém-se aberta (foto de divulgação)]


Escrevi há uns tempos sobre o Darwin's Café aqui, mas não resisto a um encore. Não tanto pela comida, que continuo a achar não ser o seu ponto mais forte, mas pelo regalo que é, nos dias de Sol com que este Inverno nos tem brindado, continuar a dispor daquele espaço. De preferência durante a semana, escapando à confusão de quem o elege como "passeio de domingo".

[Final de tarde num dia de Janeiro (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Ainda o Champalimaud Centre For The Unknown não estava totalmente concluído, e já o Darwin’s Café fazia com que muitos lisboetas se deleitassem com um trecho de paisagem ribeirinha até então desconhecido, logo depois do Museu do Combatente, quase a chegar a Algés.

[Com o Tejo aos pés, o forte e a Torre de Belém na mira (©joão miguerl simões, todos os direitos reservados)]

O boca-a-boca correu ligeirinho e não tardou muito para que o seu amplo terraço, virado para o Tejo e com a Torre de Belém na mira, se convertesse no mais novo ai-Jesus das esplanadas estivais de Lisboa. O que muitos não esperavam é que, chegado o Inverno, a mesma pudesse continuar em funcionamento. Caso para agradecer a São Pedro, pelos magníficos dias de Sol, e à gerência do café que, a pedido de muitas famílias, foi adiando, adiando a sua desmontagem… até hoje.

[A fundação Champalimaud já é, por mérito próprio, um ícone arquitetónico da Lisboa ribeirinha (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Não que o Darwin’s, intramuros, não possua outros trunfos dignos de nota. Instalado numa das alas mais promissoras da fundação, que entretanto já figura por direito próprio entre os ícones arquitetónicos da capital, o café, que é também restaurante, possui um layout muito bem trabalhado — marcado por grandes janelas, uma estante de livros trompe-l'oeil e cinco abat-jours de teto gigantes que repetem a estampa de animais de uma tela igualmente XXL alusiva à teoria da evolução de Darwin —, que dá imediatamente no olho.

[Foto de divulgação]

Leonor Beleza, presidente da fundação, não abriu concurso para a concessação do espaço. Admiradora do conceito dos LA Caffés, lançou o desafio ao grupo Lanidor, detentor da marca, que aceitou o repto e o mote de ter Darwin como tema. A partir dessa ideia, o departamento de arquitetura da Lanidor assumiu o projeto e a equipa dos LA Caffés a gestão do restaurante-café.

[Foto de divulgação]

Quem chega não deixa de experimentar uma sensação parecida à que Alice terá vivido quando encolheu e tudo à sua volta, no País das Maravilhas, surgiu sobredimensinado. Nas paredes, aqui e ali, leem-se frases lapidares de Darwin impressas em letras garrafais. E, no entanto, o sentimento maior, e que perdura, é o de aconchego.

[Foto de divulgação]

A cozinha foi confiada, desde a primeira hora, ao chef António Runa, que transitou do LA Caffé da Avenida e chamou a si a missão de criar uma ementa internacional de autor, dividida em almoços e jantares, mas também capaz de dar resposta a quem deseja uma refeição mais leve (sobretudo nos meses de maior calor) ou passa apenas para um lanche, mais ou menos rápido, ao longo do dia.

[Foto de divulgação]

A ideia dos lanches, servidos entre as 16h30 e as 18h30, revelou-se certeira. Durante a semana, há quem venha de propósito e há quem esteja a passeio e não resista a entrar; já aos sábados e domingos, dias de maior movimento e confusão, o difícil é conseguir arranjar uma mesa, tamanha é a procura. Na ementa, scones, bolos à fatia, brownies e cupcakes, mas também opções mais “triviais” como sanduíches, croissants ou torradas a preços entre os três e os seis euros.


Fica o conselho amigo: se puder, fuja dos fins-de-semana; o serviço, por conta de tanta gente, não é tão bom.

[Foto de divulgação]

Das vezes que estive ali, sempre achei o atendimento simpático e informal, mas este precisou ser afinado para melhor servir o público da fundação. O mesmo se passou com o menu. Por norma, o mesmo muda três ou quatro vezes por ano e tenta repetir a fórmula de sucesso LA, só que, com o tempo e prática, perceberam-se algumas nuances fundamentais. 


Por exemplo, ao contrário dos LA Caffés, onde a clientela feminina é dominante, no Darwin’s são os homens, a negócios e/ou em trânsito pela fundação, que estão em maior número e se mostram mais assíduos. Essa constatação óbvia obrigou a criar duas ementas diferentes — uma para almoço e outra para jantar — com maior predominância de carnes e pescados  (mas, sem dramas, as saladas, quiches e companhia lda. continuam a marcar presença, vale?).

[Foto de divulgação]

Nada que atrapalhe António Runa, que, tendo em conta a presença maciça de famílias aos fins-de-semana, pensou ainda num menu infantil disponível aos almoços. Para os mais crescidos, o que inclui o cidadão anómino mas igualmente figuras como o ministro Paulo Portas, as opções mais tentadoras, com a maioria dos pratos principais abaixo dos €20, estão nos risottos, nos Brás de pato ou camarão, nos lombos de carne e peixe e até mesmo no hambúrguer de assinatura do chef (com carne de novilho).

[As ementas (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Sobremesas várias completam a oferta, mas nada adoça mais a boca do que aquela vista que, sem pedir licença, vem do terraço e inunda a sala. Se for num dia de sol, em pleno Inverno, melhor ainda.

[©joão miguel simões, todos os direitos reservados]

Champalimaud Centre For The Unknown, Av. Brasília, Ala B, tel. 210 480 222, abertos todos os dias para almoços, lanches e jantares (exceto às segundas, quando encerra às 16h00) 

6.1.12

eric kayser, a propósito do dia de reis e de outras coisas boas

[A entrada da loja Eric Kayser em Lisboa, às Amoreiras (foto de divulgação)]

Não morro de amores pela localização da primeira loja Eric Kayser, mas ainda assim dei por mim, nos últimos tempos, a ir lá de propósito mais de uma vez.

Isso deve querer dizer alguma coisa, não?

Na verdade, não é que a localização seja má. Apenas não sou muito fã do conceito do Amoreiras Plaza, mas, menos mal, a Eric Kayser versão lisboeta encontra-se acessível a partir da rua, bem em frente a uma das entradas laterais do vizinho centro comercial das Amoreiras.

[A loja, com um espaço para refeições à retaguarda (foto de divulgação)]

Esclarecida a geografia, passo ao que realmente interessa.

[Moderna e ampla, assim é a primeira loja Eric Kayser em Lisboa (foto de divulgação)]

Temos muito bom pão e a nossa doçaria, pese algum exagero nas doses de açúcar e ovos, é de mão cheia, mas falta à tradição portuguesa um certo refinamento em que os franceses, justiça lhes seja feita, são mestres.

[Quando o tempo permite, há mesas na calçada (foto de divulgação)]

Por isso mesmo, e sem desprimor para os nossos produtos, têm-se sucedido em Portugal, sobretudo em Lisboa, novos endereços que procuram recriar, com a devida distância, as padarias e as pastelarias finas que o nosso imaginário associa a Paris.

[Uma das muitas coisas boas à disposição na Eric Kayser (foto de divulgação)]

Já falei de alguns casos mais recentes, como a Quinoa ou a Poison d'Amour, mas a primeira incursão da Eric Kayser em território nacional parece-me, até prova em contrário, a mais bem sucedida no seu conjunto.

[Eric Kayser, o francês que fez da padaria fina um bom negócio (foto de divulgação)]

Eric Kayser ainda se diz um artesão e um artista, mas a verdade é que a sua Maison Kayser se tornou, há muito, uma marca muito apetecível do ponto de vista dos negócios, pelo que o seu nome e conceito se estendem agora de Paris a Moscovo.

[A par dos pães, os doces são a grande perdição da Eric Kayser (foto de divulgação)]

A chegada a Lisboa deu-se pelas mãos dos sócios Laurent d'Orey, luso-francês dono da cadeia Monceau Fleurs, e do francês Lucien Letartre e tem corrido tão bem que, segundo me confidenciou o primeiro, já pensam em abrir, ainda durante o primeiro trimestre deste ano, uma segunda loja em Lisboa (endereço a anunciar).

[Os diferentes tipos de baguettes (foto de divulgação)]

A razão do sucesso está à vista. De manhã e ao final da tarde, sobretudo, é ver a fila que se forma para levar para casa muitos dos pães que não aquecem o lugar nas prateleiras. Entre as variedades mais apetecidas, vários tipos de baguettes (das rústicas às de cereais ou com sementes de papoila) e os pães de figo, nozes, frutos silvestres, queijo ou azeitona.

[O pão de nozes, uma das especialidades (foto de divulgação)]

Esta é uma padaria artesanal, pelo que vieram de Paris dois padeiros munidos das técnicas necessárias. Veio também um pasteleiro, outro dos trunfos desta casa, que enche o balcão envidraçado de guloseimas de arregalar os olhos como tartelettes, financiers, madalenas, mil-folhas, brownies, éclairs, mi-cuit de chocolat... e por ai vai, só para citar os mais evidentes, sem esquecer, claro, os macarons que saem à unidade (€1,1) ou à caixa.

[Os macarons à la Kayser (foto de divulgação (foto de divulgação)]

Os olhos comem, mas nem sempre os demais sentidos acompanham tamanho entusiasmo. Ciente dessa usual "armadilha", já provei ali, em diferentes ocasiões, croissants, pains au chocolat e diversos outros doces. Gostei particularmente do mi-cuit de chocolat (€1,80 a unid.) e do croissant, com uma massa tão fina e estaladiça que, sim, cumpria o preceito de se desfazer na boca. Já o pain au chocolat (€1,20 a unid.) saldou-se por uma vitória e um revés: num dia estava delicioso, massa e recheio de chocolate no ponto certo; numa outra vez, encontrei-o emaçarocado e o chocolate duro. Preciso de um tira-teimas.

[O Pain au Chocolat (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Outra coisa boa na Eric Kayser lisboeta, além dos preços razoáveis, é a sua opção de pequenos-almoços (ou de brunch aos fins-de-semana) — sai por €5 com direito a meia baguette, croissant ou pain au chocolat, compota de mel, manteiga, sumo natural de laranja e chá ou café — e de comidas ligeiras como sanduíches, quiches ou saladas.

[A tartelette de limão (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

O espaço também privilegia a praticidade, sem grandes frescuras. Não é um salão de chá rococó, é uma loja multifunções, moderna, com uma boa área à retaguarda — ponto para as mesas de madeira conjugadas com cadeiras brancas de Charles e Ray Eames — destinada a quem se quer demorar um pouco.

[O Bolo Rei da Eric Kayser (foto de divulgação)]

E já que estamos em Dia de Reis, a encerrar o período de festas que já vai longo, digo a quem (ainda) não sabe que a Eric Kayser, entre outros mimos da quadra, possui uma linha própria de Bolo Rei e, para quem prefere os frutos secos às frutas cristalizadas, de Bolo Rainha. Vêm embrulhados comme il faut e o seu preço ronda os €17 a unidade.

[O Bolo Rainha da Eric Kayser (foto de divulgação)]

Amoreiras Plaza, rua Silva Carvalho, 321-lj C, tel.: 211 927 894, de seg. a dom., entre as 07.30 e as 20.30

29.11.11

poison d'amour

[Maria Antonieta é uma das imagens de marca associadas à Poison d'Amour, a mais nova pastelaria fina do Príncipe Real; abaixo: a fachada (foto de divulgação)]
Antes que alguém diga que já vou tarde para falar da Poison d'Amour, eu adianto-me e explico.

Eu sei que a Poison d'Amour abriu em Agosto, mas quando isso aconteceu eu estava em vésperas de passar uma longa temporada fora de Lisboa e, tout court (e o francês neste caso calha bem), não deu tempo.

[A primeira coisa que vemos, mesmo antes de entrar, é o balcão das guloseimas (foto de divulgação)]

Enfim, mais vale tarde do que nunca, não é mesmo? Para mais, quero acreditar que, tal como foi para mim, a Poison d'Amour ainda seja não digo uma novidade, mas pelo menos um lugar a descobrir para muito boa gente.

[Barroco, mas não muito... (foto de divulgação)]

Quem escreve por último arrisca-se a não acrescentar nada de verdadeiramente novo ao que já foi dito, mas a vantagem é que, esfriado o entusiasmo, podemos também ser mais objetivos e menos passionais.

[Tons claros, paredes quase nuas para que sobressaia o que realmente interessa e também o que não interessa, como o extintor (foto de divulgação)]

Serve isto para dizer, a propósito da mais nova pastelaria-salão de chá-cafetaria do Príncipe Real, num dos trechos mais disputados da rua da Escola Politécnica, que tenho lido coisas maravilhosas e rasgados elogios. É, a fazer fé nos relatos praticamente unânimes, um pedacinho do céu de Paris em Lisboa.

[Outra perspetiva do salão principal (foto de divulgação)]

Mas ai, não sei bem porquê, eu só me consigo lembrar daquele fado de Amália em que ela, como ninguém, cantava "Lisboa não sejas francesa/ Com toda a certeza / Não vais ser feliz / (...) / Lisboa não sejas francesa / Tu és portuguesa".

[Arquitetura do atelier Alma Quadros e design de interiores de Susana Camelo (foto de divulgação)] 

A Poison d'Amour inspirou-se nas mais finas pâtisseries parisienses e não o esconde. Pelo contrário, faz gala nisso.


[O pátio traseiro, para os dias de sol, rodeado pelo Jardim Botânico (foto de divulgação)]


A fachada rosa, com largos janelões rasgados de cima a baixo, dá logo o mote e ninguém entra ali ao engano, até porque pela montra já dá para ir espreitando os macarons, os brioches, as tartelettes, as bavaroises, os pains aux raisins, entre outras coisas igualmente boas.


Ponto para a forma como as várias guloseimas estão expostas, num longo balcão com tampo de vidro, sem outros artifícios para nos desviarem a atenção do que realmente interessa. Os olhos não comem, mas são eles que nos fazem morder a isca.


Achei igualmente interessante a solução das paredes praticamente nuas, e brancas, em contraponto com o chão e o teto negros. À vista, arcos de pedra preservados e apontamentos barrocos.


[As tartelettes são as criações que mais dão nas vistas (©enric vives-rubio/público, todos os direitos reservados)]


É óbvia a intenção da decoradora de serviço — Susana Camelo — de não fazer da Poison d'Amour uma caricatura barroca. As referências estão lá, como o grande retrato da desafortunada rainha Maria Antonieta — incontornável patrone, sobretudo depois do filme de Sofia Coppola com o alto beneplácito da Ladurée —, os espelhos, as banquetas capitonadas, os lustres ou as cadeiras estilo Luís XVI, mas não são mais do que detalhes. 

Acho que resulta (só) até certo ponto. Como em tudo, há coisas mais bem conseguidas do que outras — divertido, por exemplo, o pormenor dos tabuleiros antropomórficos, na parede, com animais em poses reais —, mas, para começar, teria pensado numa outra solução para o extintor. Sei que é um "mal" necessário, imposto por lei inclusive, mas colocá-lo, à vista desarmada, num ponto estratégico do salão principal, nah, não me conformo.


[Doces tentações (©enric vives-rubio/público, todos os direitos reservados)]


Com o Inverno à porta, é provável que não se dê muito uso à esplanada nas traseiras, com direito ao entorno bucólico do Jardim Botânico, mas, tratando-se de Lisboa, é sempre bom tê-la à mão para uma eventualidade. No resto, as duas salas interiores servem lindamente.

Por falar em servir, a Poison d'Amour abre para o pequeno-almoço, quer ser uma alternativa para o brunch de sábado e aos almoços tem, pelo menos, duas opções de saladas muito fiáveis (e com uma boa relação qualidade-preço).


[Maria Antonieta, a patrone da Poison d'Amour lisboeta (©enric vives-rubio/público, todos os direitos reservados)]


Mas vou falar apenas do que sei. Fui ali, a uma hora do fecho, para lanchar. Hesitei, fiquei tentado a experimentar os macarons — mas lembrei-me que não tenho sido muito feliz nesse quesito em Lisboa; talvez o problema seja meu... —, acabando por me decidir por um clássico da pâtisserie française: uma tartelette de morangos (€3,80). 

Linda por fora, pareceu-me a escolha perfeita para acompanhar um chá Frais Fruite (€2,30), servido em porcelana azul. Tiro ao lado. Massa muito dura e um creme algo desenxabido. Melhor sorte teve um amigo, cuja bavaroise de ananás estava, essa sim, de comer e chorar por mais.


[Os macarons da Poison d'Amour (©enric vives-rubio/público, todos os direitos reservados)]



Um empate, pois então. 

Na verdade, não me custará dar o benefício da dúvida à Poison d'Amour. Pedro Pouseiro, o dono, regressou a Lisboa depois de viver em Paris. Com fabrico próprio, a casa segue à risca o receituário de doçaria francesa, pelo que, quer o chefe pasteleiro, quer todo o material, vieram de França.


Para a próxima, vou escolher melhor. Quem sabe, não será dessa que me vou render aos macarons made in lisboa?

Rua da Escola Politécnica, 32, tel. 213 476 032, de seg. a sex., entre as 10.00 e as 20.00; ao sáb., entre as 09.00 e as 20.00. Encerra ao dom.
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