17.6.11

lost in

[A esplanada é o grande chamariz do Lost In, ao Príncipe Real, mas as salas interiores também são cheias de detalhes, como se vê na foto; abaixo: opções de menu ao almoço (fotos de divulgação)]

Achei e depois perdi-me. 

Tratando-se do Lost In, eu sei, é um trocadilho fácil. Mas eu nem sempre resisto a trocadilhos fáceis. Muito menos a observações óbvias com o que seu quê de cinematográfico. Por isso, tratando-se do Lost In, poderia também falar em Passagem para a Índia.

Bom, uma espécie de Índia. Uma Índia meets Marrocos meets Lisboa.

[Logo à chegada, vislumbra-se a vista digna de um miradouro (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Confesso-me aqui. Ainda não tinha ido ao Lost In e foi preciso a minha irmã insistir, e mandar-me um mail com o link e tudo — como quem diz, vê lá, que é mesmo giro —, para eu meter pés ao caminho.


[A clientela do Lost In mistura diversos tipos de públicos, com idades, posturas e propósitos diferentes, o que resulta numa combinação interessante (©joão miguel simões, todos os direitos )]

E nem foi preciso andar muito. O Lost In, para quem, como eu, não deu por ele, fica na D. Pedro V, a meio caminho entre o miradouro de São Pedro de Alcântara e a praça do Príncipe Real. E não é uma coisa de agora. Como loja homónima existe desde 2009; como esplanada-bar-miradouro desde 2010.

[As camas de frente para a balaustrada são as primeiras a serem ocupadas (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Chegados ao número 56, sem precisar contar, avista-se um túnel e é ai que a coisa se dá. A passagem. Não para a outra margem, mas para um mundo supostamente melhor, shianti shianti (ou seja, só sorrisos e boa onda)debruçado sobre meia Lisboa, da Liberdade à Graça.

[Cores alegres, camas de ferro, mesas de verga e lanternas dão o toque exótico ao Lost In (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Mas a vista só vem depois. Ainda no túnel, a primeira coisa que se vê é a loja de acessórios e decoração made in India. A esplanada e o bar possuem, mais à frente, uma entrada própria. É como entrar num quintal meio à socapa.

[Há quem também prefira os poufs e as mesas mais baixas (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Acontece que só muito poucos quintais se podem gabar de possuir um panorama quase tão desafogado quanto o do miradouro vizinho e os que têm, por regra, não se encontram abertos ao público.  Ganha Lisboa e ganhamos nós, locais e forasteiros.

[Pelo palco do Lost In, com o graffiti da deusa hindu como pano de fundo, passam vários animadores, de músicos a dançarinas do ventre ou ilusionistas, conforme os dias (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A frequência do Lost In assenta precisamente nessa mescla, em doses muito equilibradas, de lisboetas e estrangeiros. À entrada, floreiras de bambus, chapéus de pano multicolores — que imediatamente associamos aos cortejos indianos —, camas de ferro forjado pintadas de vermelho-vivo, mesinhas em verga e almofadões dão o mote. 


[A clientela mais branchée prefere ficar no pátio e não enjeita as mantas quando o sol se esconde (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


Logo à entrada, noto uma separação de águas curiosa. A clientela mais jovem e freak, porventura atraída pela promessa de um Shangri-la lisboeta, prefere o despojamento das camas viradas de frente para a balaustrada, ao passo que os mais "velhos" e branchés  se distribuem, sobretudo, pelas mesas e cadeiras de ferro, tingidas de rosa, lilás e verde, e por outros recantos do pátio mais amplo, à sombra das árvores e sob a protecção do graffiti da deusa hindu que assinala o palco (a programação é devidamente anunciada no Facebook).


[No pátio, para além das mesas e cadeiras de ferro coloridas, alguns recantos mais intimistas (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


Existem três salas interiores, igualmente coloridas, divididas pelos dois andares da casa, mas estas têm mais procura no Inverno ou nas noites mais frescas. Quando o tempo o permite, é na esplanada que todos querem ficar, nem que para isso seja preciso recorrer às mantas da praxe quando o sol se vai.


[Tosta de presunto, servida com salada, e uma imperial. Fim de tarde no Lost In (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


O Lost In não chega a ser esotérico. É mais uma questão estética do que uma opção de vida. A ementa é disso prova. Ao almoço, servido à partir das 12.30, há um menu-tosta (com ou sem sopa do dia, entre €7,50 e €8) e um menu-salada (€9), além de pratos como o Hambúrguer Veggie, o Caril de Gambas e o Bacalhau no Forno. Simples e sem grandes complicações. Ao longo do dia, as tostas e as saladas mantêm-se na lista, mas também há wraps, scones, tartes (como a de alheira), ovos mexidos com farinheira, chás quentes e frios, vinhos, cerveja e alguns cocktails (não muitos). E como o espaço só fecha à meia-noite, também se janta.


A parte de restauração, assumo, não me entusiasma por ai além. A mais-valia do espaço é, parece-me, ser um bar onde também é possível comer umas coisas leves, lanchar e petiscar. Sem pretensões a mais. E nesse sentido, sim, é um achado. Ou melhor, é uma confirmação.


Rua D. Pedro V, 56, tel. 917 759 282, seg., entre as 16.00 e as 00.00, de ter. a sáb., entre as 12.00 e as 00.00

sky bar

[Do Sky Bar, no último andar do Tivoli Lisboa, a vista é esta; abaixo: daiquiri de morango e snack de frutos secos (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Pelo segundo ano consecutivo, o hotel Tivoli Lisboa, em plena Avenida da Liberdade, abre o seu terraço superior ao público e ascende de imediato a um lugar cimeiro entre as esplanadas panorâmicas mais desejadas da capital.


Na verdade, o Sky Bar do Tivoli não é bem uma esplanada. Aliás, duvido mesmo que se apresente como tal. E também não é mais um segredo, mas o facto de estar num hotel cinco estrelas e de ser um fenómeno sazonal, com um tempo de duração limitada entre Maio e Outubro, acaba por impedir a sua excessiva banalização. O que é bom, digo eu.


[O Sky Bar divide-se em dois terraços, nesta foto o inferior, com vários ambientes (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


Longe vai o tempo em que o comum dos mortais se intimidava, não sendo hóspede, a atravessar o lobby de um hotel, a chamar o elevador e a carregar no botão para ser transportado a um domínio que, por regra, estava reservado para usufruto interno. Ainda assim, há quem se acanhe ou resista à ideia.


[Colchões e narguilés, no terraço inferior (foto de divulgação)]


Pois não sabem o que perdem.


[A estrutura do Sky Bar, vista de baixo para cima (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


Não que seja o melhor bar de Lisboa. Tão pouco o conceito é inédito ou a vista muito diferente do que se vê em vários miradouros alfacinhas. Mas, tudo junto, não deixa de causar boa impressão e de ser motivo para regozijo.


[No terraço superior há até uma cama de dia (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


O bar, que vem no prolongamento de um restaurante, divide-se por dois terraços ao ar livre. O inferior é mais desafogado, com vários ambientes divididos por candeeiros de pé alto, floreiras e bambus. Os mais disputados, contudo, costumam ser os colchões e almofadões ao estilo de uma alcova árabe que, equipados de narguilés, permitem um total refastelamento para quem assim o desejar.


[O estilo é descontraído, até na "farda" das empregadas de mesa (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


No terraço superior, uma enfiada de colchões e até uma cama de dia são servidos por um dos bares de apoio e funcionam mais ao final da tarde, quando passamos no Sky para relaxar e esquecermos que lá embaixo, à hora de ponta, a avenida e todas as ruas à voltam fervilham com o trânsito.


Ali em cima não se ouve o barulho dos carros, mas sim o da música (nas noites de sexta e sábado, sobretudo, há mesmo Dj residente), e, a menos que a nossa atenção seja desviada para outros lados — também acontece, que o lugar a isso se presta —, só vamos ter olhos para o rio, o castelo, o arvoredo e para um ou outro mamarracho que não chegam, felizmente, a escangalhar o quadro. 


Na carta há snacks e bebidas várias, com destaque para os daiquiris, os mojitos e as capirinhas (num relance rápido, diria que o preço médio de um cocktail anda nos €9), mas também há, assim a fome aperte, saladas, hambúrgueres ou wraps, entre outros. Aos sábados e domingos, novidade, dizem-me que há brunch entre as 11 e as 16 horas, o que me parece uma excelente ideia (desde €17 por pessoa, com três opções à escolha). Mantém-se, mas não confirmei, o Sky Menu (€25/pax), que oferece entrada, prato principal e sobremesa.


Por mim, agrada-me ter o Sky Bar como refúgio ao final da tarde, onde (me) apetece ficar deitado a ler revistas, a ouvir música e a ver a vida passar. Mas são muitas as possibilidades e cada um que as explore como bem lhe der na gana.


Tivoli Lisboa, Av. da Liberdade, 185, tel. 213 198 934, todos os dias, entre as 17.00 e a 01.00, brunch aos sáb. e dom., entre as 11.00 e as 16.00

13.6.11

cervejaria da esquina

[A Cervejaria da Esquina, do chef Vítor Sobral (abaixo), serve o que é suposto, mas vai além no conceito e na decoração (fotos de divulgação)]

Por conta deste blog tem-me acontecido uma coisa engraçada, mas até certo ponto prevista, que é, de quando em vez, pernoitar num hotel de Lisboa e arredores. Por regra, não temos (ainda) o hábito de o fazer na cidade onde vivemos, a menos que a isso sejamos forçados por circunstâncias algo esdrúxulas, mas é uma experiência bastante divertida e reveladora. Recomendo.

[Fica mesmo numa esquina de Campo de Ourique, na casa da antiga Bonina (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Mas nem é esse o assunto deste post. O facto tem apenas relevância, no caso, para explicar que a reboque de uma noite passada num hotel entre a Estrela e Campo de Ourique, dei por mim a ter o pretexto que me faltava para ir, finalmente, conhecer a Cervejaria da Esquina do chef Vítor Sobral.

[Tons claros, design simples, mas agradável e confortável, assinado por Paula Moura (foto de divulgação)]

Gosto do bairro alfacinha de Campo de Ourique e não é de hoje. E Vítor Sobral, pelos vistos, é da mesma opinião. Depois do êxito da Tasca da Esquina, aberta há dois anos certos, o conhecido chef voltou a escolher o local, mas desta feita na rua Correia Teles, para inaugurar, em Abril, a Cervejaria da Esquina.

[Além dos aquários, a Cervejaria da Esquina não abdicou de outros artefactos próprios, mas deu-lhes uma nova imagem (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)[

Muito solicitado, Sobral fez algumas incursões na alta gastronomia que não correram bem. Não porque a sua cozinha não possa estar à altura do desafio, mas porque o mercado é restrito em Portugal para esse tipo de apostas e a sua viabilidade, do ponto de vista da rentabilidade, não são, como sabemos, favas contadas.

[Os potes com temperos e especiarias estão à vista e ajudam a criar "ambiente" (foto de divulgação)]

Por isso mesmo, e sem pruridos, Sobral virou-se nos últimos tempos para espaços mais pequenos, mais comerciais e assumidamente com um conceito clássico de restauração portuguesa. Foi assim com a tasca, tem sido assim com a cervejaria e será assim, porventura, como o mesmo já admitiu, com uma futura taberna ou casa de pasto.

[A maioria do marisco é nacional e vendido ao quilo (foto de divulgação)]

A fórmula parece simples e certeira, mas, como se lê numa das paredes da sua nova casa "ter sorte dá muito trabalho". 

[O couvert e um dos emblemas da casa, a Esquininha (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Cheguei para jantar sem reserva, mas não tive problema em encontrar uma mesa, apesar da casa estar bem composta e de ser quase constante o entra e sai. Numa cervejaria, o português espera encontrar bom marisco, mas também bifes. Na cervejaria da Esquina, quem ali vai espera encontrar isso, mas não só.

[O creme de marisco (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A diferença começa logo na decoração, simples mas actual, com predominância da madeira clara, assinada por Paula Moura, que soube ainda assim integrar elementos tradicionais das cervejarias como os aquários. A ementa aposta forte, claro, nos vários tipos de marisco, a maioria dos quais proveniente da nossa costa, vendidos ao quilo (salvo algumas excepções, como o camarão e as ostras). Não esquece, porém, "clássicos" como o Prego ou o Bife à Casa e permite-se, felizmente, ir mais além ao sugerir uma "cozinha de tacho" que, através de saladas, arrozes, cataplanas, massas, açordas e até caris, acrescenta uma nota gourmet, e de maior sofisticação, à proposta. Afinal,  esta é uma cervejaria, mas não é uma cervejaria qualquer.

[Os pregos chegam assim à mesa, com mostarda de Dijon à parte (foto de divulgação)]

Mas, nestas coisas, nada como nos sentarmos à mesa para ver como se passa da teoria à prática. Dividida a casa em duas salas, acabei por preferir uma mesa na zona de fumadores, embora não fume, que me pareceu mais simpática e recatada junto às cataplanas e aos potes de especiarias. E foi o melhor que fiz, já que durante todo o jantar ninguém me incomodou com o fumo.

Adiante.

[O prego de bife de atum, rosado no interior como deve (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Agrada-me numa cervejaria que tanto se possa gastar até €10, se me apetecer um simples prego no pão e uma cerveja, como pagar uma conta choruda já na ordem dos três dígitos. Digamos, como ponto de referência, que o preço médio de uma refeição aqui rondará os €25-€30 por pessoa, sendo que existem, para lá da carta, duas opções de degustação em que se fica mais ou menos nas mãos do chef (e paga-se, por 3 a 5 pratos, algo entre os €30 e €60, sem bebidas).

[O Caril de camarão, à chegada (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Não ia com ideia de comer marisco, mas olhei a carta do dia, com ostras a €2,90/unid. e lagostins a €126/kg nos extremos da tabela. Pelo meio, amêijoas, lagosta, sapateira, lingueirão, búzios, canilhas, percebes, burriés, camarão tigre e o mais que havia no mercado.

[O caril de camarão já no prato (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Apetecia-me cerveja, mas consultei a lista de vinhos — nada mais fácil quando nos serve de individual —, com opção de espumantes, rosés, tintos, brancos e verdes. Garrafeira com preços razoáveis e uma boa opção de vinhos a copo, entre os €3 (um rosé) e os €10 (um espumante). Aderi ao conceito da "Esquininha", a imperial servida num copo redondo de apenas 15 cl, vendida a €1. Feitas as contas, no final, se calhar bebe-se mais, mas, como no Brasil, faz com que a cerveja não tenha tempo de "amornar" e perder a força.

[A tarte de creme leite (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Da secção "Para começar", deixei ficar o pão, servido numa cesta de borracha, e o prato de paio (os enchidos são outra aposta da casa). Seguiu-se, nos "Clássicos", um Creme de Marisco (€3,60) e um Prego de bife de Atum (€7,60). Sobre o creme, saiu há uns tempos um artigo do Carlos Maribona em que este o descrevia como "bom de sabor, mas demasiado espesso". Sei que Sobral o leu (como todos lêem o que escreve o crítico gastronómico espanhol) e talvez por isso, ou não, o creme chegou-me com uma consistência aveludada, igualmente bom de sabor. Já o atum, muito bom, quase a dispensar a mostarda de Dijon, suculento e rosado no interior. Um dos melhores pregos que já comi.

[Um remate perfeito para um jantar numa cervejaria com "cozinha de tacho" (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Poderia ter ficado por ali, e gasto menos. Mas queria provar mais coisas. Pedi, na secção dos "Caris", um de camarão (€17,50), que me chegou à mesa num tacho com arroz Basmati à parte. Muito bem executado, com uma nota acidulada bem-vinda dada pela erva-limão, que lhe deu mais do que apenas aroma.

As doses satisfazem plenamente, mas, ponto a favor, não empanturram. Por isso, consegui ainda ter espaço para a sobremesa. E eu queria mesmo provar as sobremesas, por conta de ter ouvido imensa gente a elogiar este capítulo na Cervejaria da Esquina.

Ao que parece — esqueci-me de confirmar — são executadas por Teresa Garcia e já deixam meia Lisboa aguada com a sua tarte de creme leite ou crocante de amêndoa. Há mais coisas, como gelado de cerveja ou queijo com marmelada, mas eu não resisti à tarte (€3,50), que me chegou, para rematar o respasto, com um café servido num mini púcaro esmaltado.

Paguei um total de €37,50 e saí regalado. Porque o espaço e o conceito cumprem perfeitamente aquilo a que se propõem. E voltarei mais vezes. Com ou sem o pretexto de estar de passagem para os lados de Campo de Ourique.


Rua Correia Teles, 56, tel. 213 874 644, de ter. a dom., almoços entre as 12.30 e as 15.30, jantares entre as 19.30 e as 23.30

9.6.11

as quintas, sextas e sábados do terreiro do paço

[Os finais de tarde de sexta e sábado e as noites de quinta da Praça do Comércio estão mais animadas graças ao Terreiro do Paço (fotos de divulgação)

Não sei se serei só eu — acho que não —, mas sempre que passo pela Praça do Comércio continuo com a sensação de que ainda falta ali qualquer coisa. Qualquer coisa que lhe faça maior justiça e que a encha de vida à imagem e semelhança do que acontece praticamente em todas as Plazas Mayor na vizinha Espanha.

A inauguração do Pátio da Galé, de que já falei aqui, trouxe-lhe, bem sei, eventos como a Moda Lisboa ou o Peixe em Lisboa, além de restaurantes e esplanadas, também sei; mas, ainda assim, falta-lhe qualquer coisa. Insisto.

Isto não quer dizer, no entanto, que não reconheça mérito a algumas das coisas boas que aconteceram à praça nos últimos meses. Aliás, uma elas foi, precisamente, a reabertura do restaurante Terreiro do Paço.

[A sala de refeições do Terreiro do Paço com o seu mapa-mundo formado por postais (foto de divulgação)]

Espero, de verdade, que desta vez seja para valer. Aquele espaço merece. O Grupo Lágrimas, que começou nos hotéis antes de se lançar na restauração, é da mesma opinião, tanto que, lograda uma experiência anterior com Vítor Sobral no comando, não desistiu. 

[A decoração, despretensiosa, brinca com a ideia do "Portuguese Kitsch" (foto de divulgação)]

Manteve-se a intenção, mas, felizmente, alterou-se o conceito e a forma de estar. Porventura, perceberam, e bem, que não faz sentido ter num local eminentemente turístico e comercial um restaurante de alta gastronomia.

[O Terreiro do Paço divide-se em cinco ambientes distintos, nesta foto a sala de refeições, mais casual, e o mezanino, mais formal (foto de divulgação)]

Mas, como já outros provaram e vêm provando, um restaurante com os pés na terra não precisa ser pior. Nem menos inspirado (e inspirador, já agora). Nem lhe caem os parentes na lama por assumir uma veia mais popular, que não tem nada a ver com ser popularucho.

[A zona do bar, mais irreverente, a provar que pode haver vida nocturna na Baixa Pombalina (foto de divulgação)]

Este Terreiro do Paço assume que está num ponto turístico de Lisboa e, como tal, resolveu brincar com vários chavões associados a isso do "very typical" e do "é uma casa portuguesa, com certeza". Daí o chão branco e preto, as toalhas de plástico com padrões castiços, os copos de água das mais variadas procedências trazidos pelos funcionários do grupo — mas que fazem conjunto com os Schott Zwiesel, os copos que misturam cristal e titânio e são, pela sua resistência, o último grito para a hotelaria —, os mapas-mundo do tempo da outra senhora a contrastar com um outro gigante que se formou na parede, a pedido de Miguel Júdice, CEO do grupo, utilizando os postais trazidos pela sua avó de inúmeras viagens. 


É assim o novo Terreiro do Paço, onde se misturam ainda frigoríficos retro da Smeg, peças contemporâneas exclusivas escolhidas a dedo na Vandoma Design, caso das mesas do bar, ou que levam a assinatura de designers ilustres como os irmãos brasileiros Campana, de quem são os candeeiros (para a Skitsch).


[É no mezanino, onde só há serviço à la carte, que mais se sente o peso da história desta construção, integrada no Pátio da Galé, outrora arsenal da Marinha (foto de divulgação)]

A ementa é, também ela, uma miscelânea. Mas não uma miscelânea qualquer, bem entendido. Em vez de um chef, o grupo recorreu aos vários chefs das suas outras casas — Albano Lourenço do Arcadas da Capela, em Coimbra, Luís Casinhas da Cantina da Estrela, Miguel Oliveira dos restaurantes do Casino, sem esquecer Joachim Koerper do Eleven, todos em Lisboa — e pediu-lhes as suas melhores contribuições para criar uma carta de "Comfort Food" de inspiração lusa digna de uma tasca fina, com clássicos, releituras e algumas novidades. 

[A vista a partir do mezanino (foto de divulgação)]

Os preços, detalhe importante, são acessíveis. Dividido nas áreas de bar, mezanino, sala de refeições e duas esplanadas (uma virada para o Pátio da Galé e outra para a Praça do Comércio), o Terreiro do Paço contempla diferentes opções. Ao almoço, há serviço à la carte no mezanino e buffet (a €12) na sala de refeições; aos jantares, só há serviço à la carte; nas esplanadas e bar, além de beber, pode-se igualmente comer e petiscar durante todo o dia.

Fica, desde já, prometido para um outro post maiores detalhes sobre a ementa. Isto porque, o meu propósito é agora outro.

Apresentado o Terreiro do Paço, interessa neste momento dizer que o restaurante-bar, que já possui desde o início a presença de um Dj nas noites de fim-de-semana, se associou à ideia de elevar o fado à categoria de Património da Humanidade, criando para o efeito, todas as quintas-feitas do mês de Junho, a partir das 21 horas, uma noite temática.

[Durante o mês de Junho, as noites de quinta vão ter a fadista Cláudia Picado, acompanhada à guitarra e à viola, ao jantar (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Por 35 euros por pessoa, nesses dias, ou melhor, nessas noites de quinta, o menu inclui de entrada uma pissaladière (uma tarte de massa folhada, mas muito fina, típica da França) de pesto com salada e queijo parmesão; como prato principal ou polvo com migas de batata e broa ou lombinho de porco com puré de cogumelos e legumes salteados; e a finalizar, na sobremesa, o emblemático leite creme da Quinta das Lágrimas. As bebidas estão incluídas, além da actuação, ao vivo, da fadista Cláudia Picado, acompanhada à guitarra e à viola, como manda a tradição.

[Pissaladière de pesto com salada (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Às sextas e sábados, a partir de amanhã, dia 10, a novidade é outra e vai durar até 30 de Setembro. Rui Pregal da Cunha, ex-Heróis do Mar, é o responsável pela programação da iniciativa "Sunsets-Paço Música". 

[Polvo com migas de batata e broa (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Traduzido por miúdos, isto quer dizer que, entre as 18 e as 21 horas, às sextas e sábados, repito, vão passar pela Praça do Comércio vários músicos já confirmados como Maria Liz com Tiago Pais Dias (Amor Electro), Armando Teixeira, Gomo, Nuno Mendes (Foge Foge Bandido), João Branco Kyron com Bernard Sushi (Hipnótica), Miguel Angelo ou Lengedary Tigerman com Rita Redshoes.
 A iniciativa conta ainda com o apoio do Licor Beirão, que vai servir a bebida oficial do evento (o Morangão, pois então), e a ideia é que, após os concertos, as pessoas possam jantar no Terreiro do Paço. 

Pátio da Galé, Praça do Comércio, tel. 210 995 679, de seg. a sáb., almoços entre as 12.oo e as 15.30 (a esplanada funciona todo o dia); jantares entre as 20.00 e as  00.00 (das 00.00 às 02.00 com uma carta especial)

7.6.11

o melhor bolo de chocolate do mundo vs. o melhor pão-de-ló do universo

[Quem é melhor: o bolo de chocolate (à esq.) ou o pão-de-ló (à dir.)? (fotos de divulgação)]

Presunção e água benta...

O ditado é antigo, mas, como me disse alguém dias atrás, nesta coisa de superlativos nem sempre temos de levar pelo lado da arrogância e do umbiguismo. Pode ser uma demonstração saudável, e já agora bem-humorada, de confiança naquilo que se está a vender.

Foi, e é, parece-me, o caso de O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo. E será também agora, estou certo, o caso de O Melhor Pão-de-ló do Universo.

O primeiro é um exemplo de sucesso luso incontestável, que galgou fronteiras, estando já, como marca registada, em São Paulo, Rio de Janeiro, Madrid e Nova Iorque (se não me falha nenhuma). Nada mau para quem começou, há uns anos, numa pequena loja do bairro de Campo de Ourique.

O segundo é mais recente e, ou muito me engano, ainda há muito boa gente que não deu por ele. É, assumidamente, uma provocação bem-disposta ao Melhor Bolo de Chocolate; mas não tem nada de leviano ou de inconsequente, pois num país com tantos — e bons — pão-de-lós, por certo que o Grupo Lágrimas Hotels não iria cair no erro de associar o seu nome a um produto em que não estivesse 100% confiante.

Mas, e quem é melhor, o bolo de chocolate ou o pão-de-ló?

Para o tira-teimas ser mais justo, esclareço desde já que O Melhor Pão-de-ló do Universo existe na versão pura (só com ovos) ou de chocolate, mas eu optei pela última para ficar com uma ideia mais aproximada.

[A fatia de O Melhor Bolo de Chocolate que me chegou à mesa não estava tão cremosa como esta (foto de divulgação)]

Abro as hostilidades com o bolo de chocolate. Hoje, além dos pontos de venda própria (em Campo de Ourique e agora também num dos novos quiosques da Avenida da Liberdade, como contei aqui), são vários os locais do país autorizados a comercializá-lo. Foi na avenida, mais à mão de semear, que voltei a saboreá-lo. Chegou-me à mesa numa fatia magra e sem calda de chocolate por cima, para além da cobertura. Como já não é segredo para ninguém, esta receita alterna camadas de mousse de chocolate com outras de merengue de chocolate, o que o torna menos compacto, e mais leve e untuoso. 

[A primeira garfada já mostra bem como a mousse de chocolate alterna com o merengue de chocolate (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Ainda que cremoso, achei-o mais seco do que me lembrava... Aliás, a última vez que comera o Melhor Bolo de Chocolate remonta a uma passagem por São Paulo, onde, quem sabe movido pela saudade, me atraquei a uma fatia que, na altura, me soube muito melhor. Detalhe, que talvez não seja um mero pormenor: no Brasil, para além da receita tradicional (com 53% de cacau), comercializam também uma versão meio-amarga (com 70% de cacau).

[A fatia de o Melhor Pão-de-ló chegou-me assim à mesa (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Respirei fundo, antes de passar à segunda prova. Para aliviar a culpa das calorias ingeridas, fiz a pé o percurso até um dos pontos de venda de o Melhor Pão-de-ló — a saber, são três: Terreiro do Paço, Cantina da Estrela e Ca Fé, todos explorados pelo Grupo Lágrimas. Como me sentei na esplanada do Terreiro do Paço, estranhei não ver na lista o pão-de-ló, mas foi só perguntar pelo dito e não tardaram (muito) a trazer-me uma generosa fatia, polvilhada ao de leve com açúcar em pó.

[À primeira garfada, o seu interior revelou-se mal cozido no ponto certo (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Aspecto irregular, massa fofa e muito leve, como convém, que, à primeira garfada, revelou um interior esponjoso e pegajoso, mas com a consistência adequada — mal cozido e não cru. O creme de chocolate (na versão tradicional é de ovo) vem q.b., só para dar um toque, sem ser demasiado intrusivo, o que acabaria por desvirtuar a ideia. Ao fim, e ao cabo, é um pão-de-ló e não outra coisa. Achei francamente agradável, até por poder ser servido ligeiramente fresco.

Quem levou a melhor? Acho que vou deixar essa decisão para quem a quiser, ou for capaz de a tomar com maior propriedade. Direi apenas que, quem desejar m-e-s-m-o um bolo a saber a chocolate, o primeiro leva óbvia vantagem, mas achei o segundo, por incrível que pareça, menos seco e, não tão surpreendente assim, mais leve. A optar por um ou por outro, acho que, nos próximos tempos, me inclinarei mais a repetir o pão-de-ló, a quem aponto apenas um contra: a fatia sai por €5, enquanto a do Melhor Bolo de Chocolate fica pela metade. Não se justifica uma diferença tão grande de preço.

Pontos de venda de O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo aqui (pode também encomendar um bolo inteiro) 
Pontos de venda de O Melhor Pão-de-ló do Universo aqui (pode também encomendar um bolo inteiro, a €22)
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