28.2.12

o novo "astral" da avenida da liberdade | fotoblog


Não sei se já deram conta, mas a principal avenida da cidade, a da Liberdade, está diferente.


Dir-me-ão que, com esta Primavera temporã, está mais florida e que acrescentou a Gucci ao seu lote de lojas de luxo, mas não é disso que estou a falar.


Já repararam nos pilaretes?


Nos bancos de jardim? Nos Candeeiros?


E, já agora, nos mupis?


Confesso, quando li a respeito, estava à espera de algo que desse mais no olho e quase temi isso.


Mas não.


É preciso prestar atenção para não passar batido.


A iniciativa conta-se em poucas linhas e outras tantas fotos: a Avenida da Liberdade aderiu ao Feng Shui e coloriu-se.


Happy Liberdade é um projeto conjunto da Câmara Municipal de Lisboa e a Dyrup (tintas, decoração e arquitetura).


Seguindo os ensinamentos milenares do Feng Shui, a avenida passou a estar dividida em oito áreas energéticas, com zonas propícias às mais diversas atividades.


A Dyrup criou e afinou tonalidades para estimular, ao máximo, sensações em cada uma das oito áreas energéticas.

Entre bancos, gradeamentos, pilaretes e candeeiros, a Dyrup recuperou e reparou mais de 2000 peças de mobiliário urbano, que depois foram pintadas e decoradas segundo a sua respetiva área energética.


No final de 2012, a avenida voltará à sua cor original, também pelas mãos da Dyrup.


16.2.12

de castro elias, porque às vezes tudo o que nos apetece é petiscar (e simplificar)

[Miguel Castro e Silva, o chef portuense, há uns tempos em Lisboa, é o consultor do De Castro Elias (foto de divulgação)]


Já passa das nove. 

R., volta e meia minha cúmplice nestas coisas dos prazeres da mesa, está atrasada.

Ataco o couvert e aceito a sugestão de abrir oficialmente a noite com um vinho verde minhoto de Gil Vaz Avesso (€3,20). Médio.

Há tempos que estou para escrever sobre o De Castro Elias, mas, por não ser mais uma novidade e por ter outras prioridades, venho adiando...

[Branco mais branco não há (foto de divulgação)]

... até que hoje, a pretexto do meu último jantar ali, me decidi. Primeiro, nunca foi minha intenção falar apenas de coisas novas; segundo, é provável que, tal como R., muitas outras pessoas ainda não conheçam este espaço.

[À entrada, as mesas altas lembram mais um bar (foto de divulgação)]

No trecho final da Elias Garcia, quase colado à rua Marquês de Sá Bandeira, o De Castro Elias foi buscar o nome à avenida e ao chef portuense Miguel Castro e Silva, que, a par do seu restaurante Largo (Chiado, Lisboa), faz aqui as vezes de consultor.

[O couvert (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Projeto idealizado por quatro sócios, o De Castro Elias não tem pretensões a ser mais do que é: petiscaria moderna, com apenas 36 lugares, onde servem vários pratos do receituário tradicional português, revisitados e a bom preço.

[A ementa (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Assim mesmo, sem tirar nem pôr.

Existem vários outros espaços em Lisboa que seguem uma filosofia idêntica, mas, sem alardes ou modismos exagerados, o De Castro Elias possui freguesia cativa e é, na minha opinião, dos que se podem gabar de ter uma ótima relação qualidade-preço.

[A cavala fumada, um peixe muito subestimado e relegado para segundo plano, que os chefs começam agora a recuperar. Esta estava deliciosa e eu nem sou apreciador! (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A área útil não é muito grande, mas está bem aproveitada, tanto que acrescentaram, digamos, um cantinho onde funcionam igualmente como loja gourmet. Para comer, ou nos sentamos nas mesas altas, de um vermelho vivo, à entrada, ou nos instalamos nas mesas mais recuadas, onde o branco é quem mais ordena. São um espaço só, mas a primeira lembra mais um bar e a segunda um restaurante.

[Ainda nos quentes, mexilhões e morcela com maçã. Nham! (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Na ementa, curta, há vinho a copo (entre €2,50 e €5,60), pratos do dia (de segunda a sexta, preço médio de €9,60) e um menu para duas pessoas a €34 (Requeijão com compota de abóbora, Maionese de camarão com ovo, Pipis de fígado de frango, Iscas de cachaço de bacalhau, Empadinha de frango e cogumelos, Rojões de porco com milhos de tomate).

[Bem interessante, e saborosa, esta tiborna de bacalhau faz uma releitura da versão servida com batatas a murro (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

E não é só. 

[Depois da primeira garfada... (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Várias outras sugestões repartidas por três seções: picar, frios e quentes. E também sobremesas, pois então.

[E ainda houve apetite, e curiosidade, para esta raia de alhada (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Eu prefiro sempre partilhar os petiscos e depois, se ainda houver apetite, passar a um dos pratos. 

Ah, nota positiva para a água da torneira, como agora é da praxe, servida numa garrafa de vidro estilizada e sem custos. Faz sentido que assim seja e que quem deseje uma água diferente pague por isso. No final, deu €25 por pessoa, mas dá para fazer por menos.

Av. Elias Garcia, 180-BLisboa, tel. 217 979 214, todos os dias, entre as 12.30 e as 15.00 e entre as 19.30 e as 23.30.

15.2.12

é segredo, mas jamie oliver deve vir a lisboa em outubro ao continente e não é para fazer compras

[Jamie Oliver (direitos reservados)]

Não, o galo da foto, ao colo do Jamie Oliver, ainda não é o de Barcelos, mas quem poderá vir a cantar de galo muito em breve é a cadeia de supermercados Continente, pertencente ao grupo Sonae.

A confirmar-se o que ouvi há dias, em off, o grupo de Belmiro de Azevedo está quase a levar a melhor à rival Jerónimo Martins, que detém o Pingo Doce.

Os dois hipermercados disputam a vinda a Lisboa, em Outubro, do chef britânico Jamie Oliver, conhecido no mundo inteiro pelos seus livros de receitas, pelos programas de televisão e pela proeza de ter revolucionado a cadeia alimentar do sistema de ensino da Grã-Bretanha.

O negócio está a ser ultimado por uma empresa tuga do norte, especializada em comunicação e marketing gastronómico, e envolve valores que rondam os cerca de €140 mil euros. Detalhe: o cachet é para apenas dois dias...

A avaliar pelo que aconteceu durante a passagem recente de Anthony Bourdain, outro chef que ascendeu à categoria de vedeta depois de escrever best-sellers e de estrelar programas de televisão, adivinha-se nova comoção nesta capital à beira-rio plantada.


Post-scriptum: ainda sem confirmar a vida de Oliver a Portugal, que avancei neste post, o Continente tornou, entretanto, pública a sua parceria com o mediático chef britânico. Desde 12 de Março, a rede de hipermercados portuguesa vende em exclusivo, no território nacional, 15 produtos da linha alimentar inspirada em Itália criada por Oliver.

8.2.12

é inverno, mas, no pedro e o lobo tudo, da comida ao décor, parece uma sonata de outono

[Vista geral da sala (foto de divulgação)]


Há males que vêm por bem.


Um acidente, felizmente sem maiores consequências até onde apurei, afastou temporariamente Nuno Bergonse, um dos chefs do restaurante Pedro e o Lobo, e levou a que o menu de Outono se prolongasse pelo mês de Fevereiro.

[Nuno Bergonse e Diogo Noronha de Andrade, os chefs (foto de divulgação)]

Quem conhece este restaurante, na esquina das ruas do Salitre e Nova de São Mamede, sabe que é uma casa para todas as estações (e com cartas sazonais), mas há na antiga galeria dos anos 1950, com as suas linhas retro, tons quentes e layout nórdico, uma elegância que nos remete para o Outono.


Pelo menos, é assim que o vejo e sinto.

[Foto de divulgação]

Aberto há ano e meio, Pedro e o Lobo colocou a fasquia alta e nunca escondeu que tinha por objetivo quase imediato tornar-se um espaço de referência e de moda na cena gastronómica lisboeta.


Ajudou ter entre os seus sócios (são cinco no total) um arquiteto, Luís Baptista que assinou o projeto, e dois jovens chefs, Diogo Noronha de Andrade e Nuno Bergonse, que partilham a cozinha. 


Nada ali foi deixado ao acaso. Da decoração à cozinha, portuguesa e mediterrânica com um toque contemporâneo; das fotografias de Nuno Costa (são quase sempre dele as imagens usadas para divulgação) aos uniformes dos empregados, vestidos pela pluridisciplinar Lidija Kolovrat e pelas marcas Nike e Pepe Jeans.

[Foto de divulgação]


Neste meio tempo, claro que nem tudo correu exatamente como o traçado. Nunca corre.


Muita da estratégia de lançamento do Pedro e o Lobo passou por gerar algum burburinho à volta dos currículos dos dois chefs: Diogo trabalhou no Per Se, de Thomas Keller em Nova Iorque; Nuno Bergonse passou pelas cozinhas do Virgula e do Hotel Ritz, ambos em Lisboa. Os dois conheceram-se no restaurante MOO, em Barcelona, propriedade dos célebres irmãos Roca (a quem pertence também El Celler de Can Roca, com três estrelas Michelin e considerado o segundo melhor do mundo pela revista "Restaurant").


A "mensagem" passou, mas acabou também por gerar expectativas acrescidas.

[Foto de divulgação]

Diogo Noronha de Andrade é o primeiro a reconhecer que a crise, por um lado, e a necessidade de adaptação à nossa realidade, por outro, os obrigou a rever certos pressupostos: "Estávamos habituados a outro ritmo de trabalho e a outra dinâmica lá fora, onde as cozinhas têm uma maior rotação."


A clientela fiel ao Pedro e o Lobo, bastante diversificada, também os surpreendeu. De início esperavam que a faixa etária mais jovem (e sensível ao "modismo") fosse dominante, mas desde logo, e até pela zona onde se encontram, os executivos vieram em maior número. Sobretudo ao almoço.

[Foto de divulgação]

Essa constatação não os fez mudar de rumo, nem de abordagem, mas implicou um cuidado extra: "Não é o momento para excentricidades. Temos de dar às pessoas aquilo que elas querem, mas bem executado e com alguma inovação", admite Diogo.


Quer isto dizer que estão a jogar pelo seguro, em vez de arriscar e de inovar?


Fiel à cozinha contemporânea, mas ciente das raízes portuguesas, Diogo é cauteloso na resposta, mas claro: "Sentimos, pelo percurso feito até aqui, que o crescimento do restaurante passa muito pela dinâmica de mudar as cartas, de mudar os ingredientes. Há a preocupação de termos sempre alguns pratos de defesa nas nossas cartas, deixando as coisas mais arriscadas para os menus de degustação. Arriscamos, mas com uma escala e consistência."


Por outro lado, e é um dado curioso, Diogo sente que a presença cada vez mais notada de estrangeiros na sala acaba por desempenhar um papel fundamental de contágio: "Por norma bastante informados, os clientes estrangeiros que chegam aqui aventuram-se mais nos pratos que elegem e nas combinações que fazem. E isso passa para os portugueses."


[Foto de divulgação]

Com menus de almoço que mudam a cada semana (preço médio ronda os €20), além das opções à la carte, é sem dúvida ao jantar, com os menus de degustação, que Pedro e o Lobo dá mais largas à sua vocação. A clientela é sensivelmente a mesma ao almoço e ao jantar, mas o contexto é diferente e faz a diferença.


Com muitos outros chefs e restaurantes do panorama nacional, Pedro e o Lobo luta ainda com uma certa inconstância por parte dos nossos fornecedores, o que pode condicionar certas apostas a médio prazo numa carta, mas, entre outros ingredientes, não abdica do peixe português: "Se pudesse, tinha um restaurante só de peixe", continua Diogo.


Mas, nestas coisas, como noutras, o melhor é mesmo passar à mesa. Nem preciso dizer que fui direto ao menu de degustação da ainda reinante carta de Outono.

[O menu de degustação, só servido aos jantares, €42]

No couvert, a abrir a refeição, seguiu-se a máxima "menos é mais". Nada de "invencionices", apenas um pires com azeite e três tipos de pães saborosos (brioche de azeitona, centeio e foccacia). Não é preciso mais; sobretudo quando está ainda tudo o resto por vir...

[O couvert (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Até onde sei, ou me contaram, houve uma fase inicial em que o menu de degustação não incluía um amuse-bouche. Na verdade, não é obrigatório, mas é algo que nos habituámos a esperar e que, como o nome já indica, se presta a espicaçar o nosso apetite. Pois o mimo "extra" ficou por conta de uma batata marcada, envolta em creme, a obrigar desde logo o palato a reagir ao salgado e ao acidulado. 

[O amuse-bouche (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A entrada, propriamente dita, chegou-me num prato fundo, como uma sopa, sob a forma de ravioli de mexilhões e toucinho de porco preto, sabayon de couve-flor e telha de crustáceos. As diferentes texturas, entre a crocância da telha e o aveludado do creme, são o que salta à vista e perpassa para o paladar. Ah, e, mais uma vez, o contraste entre a acidez e o doce.

[O ravioli (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Está aberto o caminho para a segunda entrada, mais intensa no tipo de sensações que provoca. Cogumelos de temporada salteados e confitados, esfera de shoyu, ervilha torta e amêndoas tostadas, um prato que a maioria dos vegetarianos aprovaria (não por acaso, Diogo passou por um restaurante vegetariano em Nova Iorque e isso, de uma forma ou de outra,  nota-se quase sempre num ou noutro apontamento), e que para mim teve como ponto alto o momento em que rompi a "âmpola" de soja e esta se somou aos demais elementos. 

[Os cogumelos salteados (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Primeiro prato, de peixe como manda a etiqueta. Bacalhau suado, arroz de gengibre e açafrão em três texturas, “esparregado” de wakame (uma macroalga), folha de ostra e nozes. Visualmente, muito bonito, a lembrar um bosque (decididamente, a moda pegou entre os chefs de todo o mundo, sendo os bosques "animados" e as hortas comestíveis uma tendência que marcou as cartas de Outono e de Inverno). Como me confidenciaria mais tarde o Diogo, este bacalhau, a par do salmonete, da perdiz e do naco de novilho, é dos que mais sai e agrada.

[O bacalhau suado (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Pois foi esse mesmo naco que se seguiu e, feito o balanço, o prato que mais me agradou em toda a degustação. Servido sobre xisto, o redondo de novilho, cozinhado a baixa temperatura (o que faz com que a carne fique firme e macia ao mesmo tempo), apresentou-se com puré de castanha e funcho, couve de bruxelas, diospiro e emulsão de manteiga. Boa ligação entre todos os elementos e um contraste mais suave — o que preferi, sou sincero — entre entre a acidez e o adoçicado.

[O naco de novilho (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Para passar à etapa seguinte, era preciso limpar o palato. Foi o que fez a pré-sobremesa, uma mini tarte de abóbora com pedacinhos de pistácio.

[A pré-sobremesa (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

O grand finale anunciou-se como mousse densa de chocolate, gratin de banana, dacquoise e gelado de avelã. Neste tipo de degustações, mais longas, a sobremesa tem, na maior parte dos casos, uma tarefa ingrata, pois chega num momento em que o bom senso (e mesmo a impossibilidade física) nos pede uma trégua. Felizmente, esta revelou-se equilibrada e nada enjoativa.

[A sobremesa (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Para rematar, um café. Sem açúcar e sem mignardises.

[O café (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Excecionalmente, este menu de degustação foi-me servido ao almoço (por regra, está apenas disponível ao jantar). Por isso, abdiquei da maridagem prato a prato e fiquei-me pela água e por um copo do tinto Roquette & Cazes. Minto; aceitei ainda a sugestão de um Blandy's Bual (vinho da Madeira) para acompanhar a sobremesa. 

A carta de vinhos não é muito extensa, por opção dos chefs (embora eu não me importasse que tivesse um pouco mais de escolha), e apresenta vinhos e espumantes a copo entre os €3,50 e os €12 e garrafas a partir dos €16.


[A ementa criada de propósito para o jantar de São Valentim]


Uma nota final para dois eventos que vão fugir à "rotina" habitual do restaurante. O primeiro diz respeito ao Dia de São Valentim, no próximo dia 14 de Fevereiro, a pretexto do qual Pedro e o Lobo irá preparar um jantar especial, com um preço de €60 por pessoa (ementa reproduzida acima).


[O menu que irá assinalar a passagem dos dois chefs pelo Algarve no dia 25 de Fevereiro]


Já no dia 25 de Fevereiro, quer o Diogo, quer o Nuno vão trocar a sua cozinha pela do Martinhal Beach Resort & Hotel na vila de Sagres, a sul. Cada vez mais uma prática comum, este tipo de "intercâmbios" são uma boa forma dos chefs darem a conhecer o seu trabalho a outros públicos e de abrirem o seu leque de influências.

Rua do Salitre, 169, tel. 211 933 719, de seg. a sex., almoços entre as 13.00 e as 15.00; jantares entre as 20.00 e as 23.00; encerra sáb., ao almoço, e domingo, todo o dia

4.2.12

O brunch de domingo do the decadente restaurante & bar

[O bar que antecede o restaurante The Decadente (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Estive uns dias ausente de Lisboa, mas antes disso encontrei tempo (e disposição) para ir finalmente experimentar (e conhecer) o brunch de domingo do The Decadente Restaurante & Bar, um dos mais recentes a aportar por estas bandas.



Do brunch, propriamente dito, ouvi uma coisa ali, outra acolá. Nada de muito sólido, ou conclusivo, para criar (demasiadas) expectativas.

[É preciso atravessar a entrada do albergue para ir ao restaurante, nas traseiras (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)

Já enquanto restaurante, The Decadente (suponho que a intenção do nome seja por-nos a gaguejar, em modo repeat, no "de de") tem gerado um certo sururu, com muito boa gente a queixar-se da dificuldade em conseguir uma mesa para jantar nas noites mais concorridas.

[Ante-câmara do The Decadente (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)] 

Não deixa de ser um feito apreciável. Sem acesso direto à rua, para ir ao "De'Decadente" é preciso entrar e atravessar o mais novo albergue de Lisboa — à velocidade vertiginosa com que abrem hostels-geração-Ikea na capital (e não só, o Porto já vai pelo mesmo caminho), arrisco-me a pecar por desatualização... —, que responde pelo igualmente sugestivo nome de The Independente Hostel & Suites.

[A "esplanada", aberta mesmo em pleno Inverno (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Instalado de mala e cuia num palacete antigo, com o Bairro Alto a dar-se ares de Príncipe Real, o albergue fica virado para o mirador de São Pedro de Alcântara. Já o restaurante abancou nas traseiras do edifício, mas tira proveito do facto de possuir um pequeno quintal, entre prédios, ideal para os dias de Sol mesmo em pleno Inverno.

[Ambiente retro, mas não muito (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A cozinha está entregue a uma equipa jovem, comandada pelo chef Nuno Bandeira de Lima e o sous-chef Thomas Manchini (que coloca no currículo Alain Ducasse e a Tasca da Esquina de Vítor Sobral), mas isso acaba por não ter grande peso no serviço domingueiro de brunch.

[Clientela jovem, mas não só, no brunch domingueiro (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Aproveitei a largueza de horário, entre as 12 e as 17 horas, para chegar um pouco depois das três da tarde. Salas compostas (são duas, mais umas quantas mesas e bancos corridos de madeira no tal quintal), Pop como barulhinho de fundo e uma clientela urbana e informal, na faixa dos 20 e 30, sobretudo (mas não só, contei uns quantos pais acompanhados de filhos adolescentes ou já adultos).

[O brunch tornou-se um ponto de encontro de Lisboa aos domingos (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Base neutra, cadeiras desirmanadas, luminárias de diferentes estilos ao pendurão sobre as mesas de fórmica e toques revivalistas, mas non troppo, remetem-nos para as décadas de 1950, 1960.

[A mesa do bufete (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

De caras, achei a mesa do bufete meio "pobrinha", com cereais, dois tipos de pães (de Mafra e de sementes), queijo, fiambre, compotas, mel, fruta da época, salada, massa fria com frutos secos, bebidas quentes (café e chocolate) e frias (leite, sumo de laranja, limonada e ice tea caseiro com hortelã), duas sobremesas (uma delas não reposta)... Também não fiz vista grossa aos cereais derramados no chão que, enquanto ali estive, nenhum empregado se dignou a apanhar.

[O prato "Americano" (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

O bufete é para todos e depois há que eleger um prato entre três propostas: British (pão de Mafra tostado, bacon, feijões, salsicha, tomate assado e ovo), Americano (pão de Mafra tostado, panqueca de frutos vermelhos com xarope de chá verde e mel, salchicha picante com especiarias, batata com paprika e molho picante, ovo e bacon) e Mediterrânico (pão de Mafra tostado, cogumelo Portobello, tomate assado, ovo, morcela assada e espinafres).

Optei pelo prato Americano e não me arrependi.

Mas também não me entusiasmei. Ao contrário de quem embirra com esta coisa do brunch, que não é carne nem peixe para alguns, eu gosto e cultivo o ritual preguiçoso.

[Arroz doce porque o bolo já tinha acabado... (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Talvez por isso, e porque tenho inúmeros pontos de comparação, achei este, no conjunto, fraco.

Mas ai, na hora de pagar, apresentaram-me uma conta de €14 (e é possível fazê-lo a partir dos €8 por pessoa) e fiquei um pouco desarmado.

Sim, está longe de ser um grande brunch, mas estamos a falar de um albergue e de uma relação qualidade-peço muito razoável.

Por isso, e só por isso, dou-lhe o benefício da dúvida.

Rua de São Pedro de Alcântara, 81, tel. 213461381, aos dom., entre as 12.00 e as 17.00. Serve ainda almoços e jantares
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