[Aberto para a rua Barata Salgueiro, o Guilty by Olivier têm em primeiro plano um bar e algumas mesas que tanto servem para refeições como para fazer uma happy hour (foto de divulgação)] |
Há quem siga Olivier Costa para onde quer que ele vá, seguros de que tudo em que ele se mete está fadado a cair bem, a ser falado e a ter sucesso. Há também quem não o suporte e não o leve a sério como chef, preferindo, sem disfarçar o desdém, vê-lo como um homem de negócios, como se isso fosse o pior dos pecados num restaurateur.
Mas Olivier, um provocateur assumido, não faz o perfil de vítima inocente da maledicência alheia. Primeiro porque, goste-se ou não do género, soma e segue, estando os seus restaurantes entre os mais influentes da capital. Segundo porque ele não resiste a espicaçar a concorrência e os seus inúmeros detractores, proferindo, ou melhor, disparando frases do tipo: "Quando ando de Ferrari ficam todos lixados. Eles não percebem como é que eu ganho dinheiro e depois pensam que faço negócio de armas para Angola e o restaurante é apenas uma fachada" (in Rotas & Destinos, Agosto de 2010).
A nova aventura empresarial de Olivier demorou mais do que era suposto — chegou a ser anunciada, ainda sob o nome provisório de Olive Oil, para o final do Verão passado, mas acabou por abrir já só este ano, em Abril —, mas, sim, tudo aponta para que estejamos perante outro retumbante sucesso de público (de crítica é outra história).
Ainda sem esplanada na calçada, mas com as portas escancaradas para a Barata Salgueiro, à Avenida da Liberdade, o Guilty by Olivier não passa despercebido. Cheguei, sem reserva, um pouco antes das 20.30 e, numa terça à noite, a hostess (Helga Barroso, uma cara conhecida pela sua ligação a outros projectos mais ou menos temporários) indicou-me que todas as mesas estavam já reservadas, mas que poderia sentar-me ao balcão.
[Mais uma perspectiva da sala mais recuada, a partir do bar (foto de divulgação)] |
Como estava sozinho não me importei (muito). Afinal, o balcão arredondado, cercado por bancos de pé alto com assento em pele de vaca, funciona como um ponto intermédio entre a entrada e a sala, proporcionando um posto de observação privilegiado.
A sala, em tons de castanho, é escurinha e funda, com uma das paredes revestida a madeira aproveitada das caixas de vinho, sofás de couro, tapetes de pele de vaca no chão e dois enormes fornos a lenha, importados de Itália, onde se assam as pizzas.
Ao contrário dos outros restaurantes de Olivier, este Guilty é suposto ser uma pizzaria e hamburgueria, onde também se servem massas e saladas, com estilo, mas bem mais em conta. Uma primeira consulta da carta confirmou-me o que já suspeitava: tratando-se de Olivier, o "mais em conta" é relativo. Mas, tudo bem, ainda assim preços razoáveis com entradas entre €3 e €8 (há um prato mediterrânico a €15, mas dá para duas pessoas), saladas entre €10 e €16, massas entre €13 e €17, hambúrgueres (200gr picanha Black Angus, importada dos EUA) entre €16 e €22, pizzas entre €11 e €19 (podem ser perfeitamente partilhadas) e, por fim, sobremesas entre €3 e €9.
[Rolinhos Guilty, a entrada de assinatura, servidos com rúcula (foto de divulgação)] |
Fiquei tentado a escolher uma pizza — reparei que todas, e são 12 opções, levam uma selecção especial de queijos o que, por mais que seja uma aposta da casa, não sei se foi bem pensado tendo em conta que MUITA gente não aprecia queijo... Acabei por escolher como entrada um rolinho Guilty (são pedidos à unidade, €5,50/cada), que me chegou no prato acompanhado por rúcula e salpicado por vinagre balsâmico. Feito com massa da pizza, é recheado com a tal selecção de queijos, presunto e pasta de trufa preta. Como aperitivo é agradável.
Para beber, hesitei entre uma cerveja e vinho. Decidi-me por um copo de tinto da casa. A partir das 21, a sala começou a encher e o balcão do bar ficou sem lugares vagos. A clientela, que vem sobretudo aos pares, é uma mistura de novos e não tão novos assim, de gente-que-veio-tal-como-estava e de gente-que-se-produziu-para-a-ocasião, de locais e forasteiros. Sei que uma das pretensões de Olivier com este Guilty foi preencher o vazio na Avenida deixado pela partida do Luca [Manissero], mas, até ver, e mesmo tendo investido mais no décor e estando, porventura, a facturar mais ainda, o ambiente e a clientela não são, pareceu-me, os mesmos — relatos fidedignos asseguram-me, porém, que, na sua vertente de bar e ao som de um Dj residente, o espaço é do mais animado que já se viu alguma vez por estas bandas nos últimos tempos.
[Hambúrguer Guilty, entre outras quatro opções (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)] |
Como prato, opto pelo hambúrguer Guilty (€19), servido em pão aberto com cebola confitada, queijo Cheddar, bacon e ovo estrelado. No prato vem ainda uma tigela de batatas fritas. A carne pode ser Premium, como frisa Olivier, mas dentro da proposta de hamgúrgueres gourmet já comi melhor. Bem melhor. E porque é raro, hoje em dia, comer batatas fritas, quando abro a excepção, gosto que sejam excepcionais — e há batatas fritas excepcionais — e estas eram tão-só razoáveis.
Dispensei a sobremesa — pelo menos duas variedades de pizzas doces, mais umas quatro ou cinco sugestões, incluindo fruta e sorvetes — e pedi um café. Serviço rápido. Paguei €30,50, sendo que pelo copo de vinho tinto da casa, normalíssimo, me cobraram €5. Um exagero.
É possível comer mais barato no Guilty by Olivier, mas só com muita contenção se sairá de lá a pagar menos do que €20-€25 por pessoa. Não é nada de outro mundo, mas por esse preço, em Lisboa, ainda é possível comer e beber melhor (inclusive pizzas). Mas, as pessoas, parece-me, nunca vão a um restaurante do Olivier apenas pela comida. Ou vão?
Rua Barata Salgueiro, 28, tel. 21 191 3590, almoços de seg. a dom., entre as 12.00 e as 15.00; jantares de dom. a qui., entre as 19.00 e as 01.00; jantares de sex. e sáb., entre as 19.00 e as 02.00