[Bolas de Berlim, interior da loja do Areeiro (foto de Joaquim Gromicho), e pães-de-Deus, fotos D.R.]
Haja alguma coisa que corra bem e gente com motivos para estar contente nestes dias de famigerado desânimo nacional. O mapa da mina, para quem ainda não descobriu ou não ouviu falar — o que começa ser difícil, tamanha é a leva de comentários e artigos abonatórios —, fica na avenida João XXI, a meio caminho entre as praças do Areeiro e de Londres.
A Padaria Portuguesa abriu "apenas" em Novembro de 2010, mas o sucesso é tanto que já abriu caminho para uma réplica em Vila Franca de Xira. E não vai ficar por aqui. O conceito é simples: uma padaria de bairro que faz a ponte entre o melhor de uma padaria francesa e o melhor que recordamos (quem tem memória, é claro) das antigas leitarias portuguesas. A ideia é tão boa que até custa a acreditar que ninguém se tenha lembrado antes de a pôr em prática. O mérito fica, por isso, por conta de Nuno Carvalho, que largou o seu trabalho como gestor na rede de supermercados Pingo Doce para abrir este negócio.
Com a chegada da Primavera, é possível que a esplanada, instalada na calçada, seja cada vez mais disputada, mas as cestas de pães apetitosos na montra são um chamariz mais do que eficaz, atrever-me-ia a dizer, para continuar a atrair, como um íman, quem passa ao seu interior. Lá dentro, não se sentam mais do que 20 pessoas, mas, a par dos pormenores que nos remetem propositadamente para uma certa portugalidade — o mosaico hidráulico, as cestas de vime, os provérbios, a foto da ceifeira, as ardósias negras... —, a nossa atenção depressa se fixa nos dois balcões onde se alternam as fornadas de mais de trinta tipos diferentes de pães — saídos directamente do forno, as variedades vão desde os enfarinhados até às broas de milho, os com sementes e por ai fora — e a linha própria de pastelaria (produzida numa fábrica de Samora Correia) que inclui croissants (em massa de brioche ou estaladiços), caracóis, pastéis de nata, bolas de Berlim, pãezinhos de leite, pães-de-Deus (um dos cartões de visita da casa) ou as queijadas, mas também bolos médios (em quatro sabores) ou grandes (como a tarte de limão merengada) vendidos à fatia.
A qualquer hora do dia, A Padaria Portuguesa quer ser uma alternativa, por isso, e além das compotas que vende a €3 o frasco, criou fórmulas a bom preço para o pequeno-almoço (€2,50), o almoço (€4,90 com sopa, sumo natural, dois salgados e uma sanduíche ou quiche) e o lanche (€2,50 com chá, torrada e um bolo médio). Por €2,90 é igualmente possível provar dois bolos. Enfim, várias combinações e possibilidades que enchem a casa, esgotam diariamente muitos produtos e não dão descanso aos quatro empregados que atendem ao balcão.
À hora tardia a que fui já se lia em algumas travessas vazias "Era tão bom que acabou". Para rematar, apetece-me acrescentar: esta padaria é tão boa e faz já tão parte da vida deste bairro que nem parece que nasceu só ontem.
Avenida João XXI, 9, todos os dias, das 8.00 às 20.00