28.2.11

a padaria portuguesa areeiro


[Bolas de Berlim, interior da loja do Areeiro (foto de Joaquim Gromicho), e pães-de-Deus, fotos D.R.]




Haja alguma coisa que corra bem e gente com motivos para estar contente nestes dias de famigerado desânimo nacional. O mapa da mina, para quem ainda não descobriu ou não ouviu falar — o que começa ser difícil, tamanha é a leva de comentários e artigos abonatórios —, fica na avenida João XXI, a meio caminho entre as praças do Areeiro e de Londres.
A Padaria Portuguesa abriu "apenas" em Novembro de 2010, mas o sucesso é tanto que já abriu caminho para uma réplica em Vila Franca de Xira. E não vai ficar por aqui. O conceito é simples: uma padaria de bairro que faz a ponte entre o melhor de uma padaria francesa e o melhor que recordamos (quem tem memória, é claro) das antigas leitarias portuguesas. A ideia é tão boa que até custa a acreditar que ninguém se tenha lembrado antes de a pôr em prática. O mérito fica, por isso, por conta de Nuno Carvalho, que largou o seu trabalho como gestor na rede de supermercados Pingo Doce para abrir este negócio.
Com a chegada da Primavera, é possível que a esplanada, instalada na calçada, seja cada vez mais disputada, mas as cestas de pães apetitosos na montra são um chamariz mais do que eficaz, atrever-me-ia a dizer, para continuar a atrair, como um íman, quem passa ao seu interior. Lá dentro, não se sentam mais do que 20 pessoas, mas, a par dos pormenores que nos remetem propositadamente para uma certa portugalidade — o mosaico hidráulico, as cestas de vime, os provérbios, a foto da ceifeira, as ardósias negras... —, a nossa atenção depressa se fixa nos dois balcões onde se alternam as fornadas de mais de trinta tipos diferentes de pães — saídos directamente do forno, as variedades vão desde os enfarinhados até às broas de milho, os com sementes e por ai fora — e a linha própria de pastelaria (produzida numa fábrica de Samora Correia) que inclui croissants (em massa de brioche ou estaladiços), caracóis, pastéis de nata, bolas de Berlim, pãezinhos de leite, pães-de-Deus (um dos cartões de visita da casa) ou as queijadas, mas também bolos médios (em quatro sabores) ou grandes (como a tarte de limão merengada) vendidos à fatia.
A qualquer hora do dia, A Padaria Portuguesa quer ser uma alternativa, por isso, e além das compotas que vende a €3 o frasco, criou fórmulas a bom preço para o pequeno-almoço (€2,50), o almoço (€4,90 com sopa, sumo natural, dois salgados e uma sanduíche ou quiche) e o lanche (€2,50 com chá, torrada e um bolo médio). Por €2,90 é igualmente possível provar dois bolos. Enfim, várias combinações e possibilidades que enchem a casa, esgotam diariamente muitos produtos e não dão descanso aos quatro empregados que atendem ao balcão.
À hora tardia a que fui já se lia em algumas travessas vazias "Era tão bom que acabou". Para rematar, apetece-me acrescentar: esta padaria é tão boa e faz já tão parte da vida deste bairro que nem parece que nasceu só ontem.

Avenida João XXI, 9, todos os dias, das 8.00 às 20.00

17.2.11

citycakes (encerrou)


[Interior da loja, em Campo de Ourique, fotos D.R.]




Tenho um amigo brasileiro que, com humor e um timing dignos de registo, definiu os cupcakes como "uma espécie de muffin afrescalhado", o que, traduzido para o nosso português, dá algo como "queque amaricado".
Brincadeiras à parte, os cupcakes, que já deixaram de ser novidade faz tempo, continuam a despertar a atenção por cá e a motivar empresários de primeira água a arriscarem a sua sorte neste negócio.
Foi o que aconteceu agora com três amigos — a Sofia, a Carla e o Duarte, como se pode ler na página do Facebook — que, inspirados pelo conceito e pela marca existentes em cidades como Nova Iorque ou Londres, abriram a primeira loja CityCakes em Campo de Ourique, na Ferreira Borges, quase na esquina com a Coelho da Rocha.
Quando vi as primeiras imagens do espaço, gostei do layout (arquitectura de Marco Nascimento e design de Miguel Trindade), mas achei um pouco frio e despedido. In loco, a impressão não se alterou. A localização é boa e Campo de Ourique possui, à partida, moradores e frequentadores com gosto e poder económico para justificar este tipo de comércio menos óbvio, mas o certo é que — seja por ainda se estarem a ambientar e/ou a apalpar terreno — encontrei, a meio da tarde, a CityCakes vazia de clientes e com poucas opções.
Pelo que apurei, a oferta não se limita aos cupcakes — o destaque de hoje, para além de "clássicos" como o red velvet, era o de chocolate com manteiga de amendoim, sendo que, conforme o dia ou as datas festivas, vão alternando criações como champanhe ou brigadeiro, entre outros —, havendo igualmente brownies, shortcakes e bolos maiores à fatia. Tudo produzido ali e confeccionado com ingredientes frescos, dizem, mas a sensação que me ficou foi a de ter pouco por onde escolher— o que é sempre desmotivador para quem chega pela primeira vez —, por um lado, e a de que não não me senti à-vontade (nem com vontade) para ficar a saborear o meu bolo acompanhado por um café, por outro lado. Para tal, o ambiente teria de ser outro e a opção de bebidas maior para além das únicas cápsulas de café (Nespresso?) que vi sobre o balcão.
Entendo que a logística seja complicada e respeito a aposta em querer fazer da CityCakes, antes de mais, um espaço de take-away (aliás, uma vertente importante do negócio é a encomenda de bolos personalizados à vontade do freguês), mas, arrisco-me a sugerir, não seria mal pensado mudar um pouco a filosofia de atendimento, tornar o espaço mais acolhedor (sem comprometer a imagem de marca, claro) e, importante, investir em outros complementos (como bons sumos naturais e chás, só para citar o óbvio, mas sempre apreciado) que possam funcionar também como chamariz. Porque, é sabido, uma coisa leva a outra e assim como está, pode até funcionar para quem encomenda, mas não vai cativar quem está de passagem.
Posto isto, resta-me acrescentar que pedi um red velvet para levar, pelo qual paguei €2, e que degustei minutos depois, sentado num banco da Ferreira Borges. E não fiquei convencido. Não ainda, pelo menos.

Rua Ferreira Borges, 30, tm. 91 307 2257, todos os dias (excepto domingos), das 10.30 às 20.30

11.2.11

noori chiado

[Interior da Noori Chiado, rolo de salmão, em cima, e temaki crocante de atum, em baixo, fotos de JMS]


Quem espreitar boa parte das revistas de lifestyle que está agora nas bancas vai ficar com a impressão de que os temakis — para quem não sabe: cones, mas também rolos, de alga nori crocante com arroz e uma combinação quase infinita de recheios salgados ou doces — são uma novidade absoluta em Lisboa. Pois não são; apenas ainda não viraram moda e, como tal, muito boa gente não deu por eles.
A Noori, a cadeia pioneira do género em Portugal, abriu a sua primeira temakeria em 2009 — isso mesmo: 2009 — na rua do Crucifixo, à Baixa, e já conseguiu fidelizar clientela suficiente para se aventurar em mais outros três endereços (a saber: no Monumental, ao Saldanha, no Centro das Amoreiras e no Cascais Shopping). A loja-matriz da Baixa é, na verdadeira acepção da palavra, um cochicho. Mas a localização, ainda que se possa passar distraidamente por ela sem dar por isso, é boa, entre a saída do metro e a entrada traseira dos Armazéns do Chiado.
O conceito destas casas não vem do Japão, mas sim do Brasil, não sendo de estranhar que a parceria por trás da Noori seja luso-brasileira. Mais simples de comer, já que dispensam os pauzinhos (mas vão à mesma muito bem com os molhos de soja, wasabi ou teriyaki), os temakis e os rolls da Noori prestam-se muito à ideia de take-away (até ver, não se vê gente na rua a trincar um temaki enquanto caminha; lá chegaremos, quem sabe), mas, mesmo acanhado, há balcões e bancos para quem quiser comer in loco. Foi o que fiz hoje, com pouco tempo para almoçar e pouco disposto a gastar muito. Os "nooris" são vendidos à unidade (a partir de €3,25, €3,50), mas existem opções de combinados (com bebida) que nos permitem comer por um preço médio de €7.
Frios ou quentes, simples ou especiais, em rolo ou em cone, salgados ou doces (neste caso, em vez de alga utilizam bolacha e no recheio vai fruta e/ou chocolate), os mais comuns levam alga por fora e por dentro arroz combinado com salmão, atum e queijo-creme Filadélfia, mas existem versões crocantes, mais picantes, vegetarianas, light sem arroz (substituído por rúcula) e até de tempura de gambas. Confesso que já comi melhor — precisamente no Brasil, onde a variedade é maior —, mas, além de achar prático, sobrou-me vontade para fazer novas incursões e experimentar outras combinações.

Rua do Crucifixo, 87, todos os dias, das 11.00 às 22.00 (a loja do Saldanha fica aberta até às 23.00 e a das Amoreiras e do Cascais Shopping até às 00.00)
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