4.8.10

supercalifragilistic

[Ambiente de uma das salas do SuperCalifragilistic, com o bar ao fundo, D.R.]


No espaço de um mês, mais coisa menos coisa, já fui por duas vezes, em dias diferentes, com amigos diferentes, mas sempre ao jantar, pois o SuperCalifragilistic - a tal palavra mágica que Mary Poppins conseguia dizer sem entaramelar a língua, coisa de que, infelizmente, não me posso gabar... mas também desconfio não ser o único -, aberto de terça a sábado, não serve almoços.
Da primeira vez - que, em rigor, foi à segunda tentativa -, escolhi um sábado, o que me obrigou a reserva com um mínimo de dois dias de antecedência, já que este "tasco atípico", como desde logo se rotulou, caiu no goto dos que não gostam de se ficar pelo óbvio e confiam na propaganda eficaz do boca-a-boca - sem grande estardalhaço, o restaurante-bar tem marcado presença nas revistas da especialidade e aprendeu a usar o Facebook a seu favor.
Situado numa rua curvilínea de Alfama, um bairro que tenta desde há algum tempo, nem sempre com grande sucesso é certo, diversificar a sua oferta para lá das sardinhas assadas e das folias juninas, o SuperCalifragilistic dá-se ao luxo de não precisar de se anunciar com parangonas. Se não souber ao que vai, o mais certo é mesmo passar a porta sem sequer dar por ela. E, no entanto, aos fins-de-semana, as mesas, distribuídas por duas salas acanhadas - tenho ouvido falar numa esplanada, mas não a vi em funcionamento nas vezes em que ali estive -, não chegam para as encomendas.
Ao fundo, o balcão do bar, onde aviam cocktails em vez de copos de três, assanhado no seu padrão de tigresse, é a pièce de resistance da casa, mas, aos poucos, o tasco já afinou a sua decoração e disposição, com algumas trocas, mas mantendo-se sempre fiel ao espírito feira-da-ladra-meets-sala de jantar da avó. Não são os primeiros a apostar na receita, mas a sensação deste Verão explica-se mais pelo serviço/gestão informal da dupla Alexandra Sumares e Sofia Garrido e por uma cozinha despretensiosa e em conta que, sem se armar aos cucos, tem sabido renovar-se e surpreender - nalguns casos melhor, noutros nem por isso, mas sempre com boa vontade.
A ementa, de que também faz parte uma pequena carta de vinhos, é composta por um núcleo mais ou menos fixo de petiscos - como a sardinha explosiva, o vulcão de morcela, os bombons de farinheira, sem contar inúmeras variações montadas sobre pão ou ainda saladas -, dois ou três pratos do dia itinerantes e outras tantas sobremesas à escolha. No final, a conta raramente ultrapassa os €20 por pessoa. Nada mau.
O menos bom fica pela moda que agora pegou em certos meios de não disponibilizar pagamento por multibanco - como se o aluguer de €25 por mês fizesse assim tanta diferença no orçamento de quem se mete nesta empreitada - e pelo ambiente abafado que ali suportei numa das noites mais quentes de Julho, o que não serve de desculpa. Quem quiser ir à vontade, experimente os dias de semana, mas foi o que fiz da segunda vez e, sinceramente, acho que o tasco tem muito mais piada com a casa cheia. Uma questão de gosto, mas que pode fazer a diferença.

post scriptum: informei-me melhor e descobri que, para além do aluguer mensal, o uso do multibanco acarreta taxas para o estabelecimento por cada operação realizada.

Rua dos Remédios, 98, tm. 93 331 1969/91 250 6755, de ter. a sáb., das 18.00 às 02.00

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