16.1.13

fora de portas: vila joya "pop up" em seteais

[Sala D. João VI, cenário do Vila Joya pop up em Seteais (foto de divulgação editada por jms)]


Vila Joya, o pequeno hotel algarvio que se tornou sinónimo de cozinha de excelência em Portugal, chegou ao final de 2012 com motivos de sobra para celebrar.

[Preparativos na cozinha (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]
[Macarons e madalenas acabadas de montar (©jão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Entre outros feitos, conseguiu manter as suas duas estrelas Michelin na edição de 2013 do guia e entrou para o lote de 50 melhores restaurantes do mundo segundo a revista britânica Restaurant. 

[A equipa de cozinha do Vila Joya em Seteais (foto de divulgação edtada por jms)]
[A equipa de sala do Vila Joya em Seteais (foto de divulgação editada por jms)]

E ainda assim havia algumas decisões importantes para tomar. Durante os últimos anos, janeiro fora sempre o mês escolhido para realizar o Tribute to Claudia (o festival gastronómico mais estrelado do nosso país), mas chegados a esta altura do campeonato — em que a fasquia está cada vez mais alta —, Dieter Koschina, o chef austríaco à frente do restaurante, e os responsáveis do Vila Joya, a proprietária Joy Jung e o seu diretor geral Gebhard Schachermayer, decidiram aproveitar o período de inverno para retemperar forças. 

[Preparativos (foto de divulgação editada por jms)]
[Mesa posta (foto de divulgação editada por jms)]

Foi assim que o festival começou por ser transferido para março (altura em que muitos chefs internacionais de maior gabarito voltam ao trabalho em força), mas acabou por ficar fixado entre 7 e 17 de novembro de 2013 — patrocinadores e concorrência de outros certames a isso obrigaram. 

[Lugar marcado (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]
[Surpresa 1: folha de polenta com um espumante da Bairrada, o Borga Bruto Rosé 2006 (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Mas não se julgue que o Vila Joya tem estado parado. Pelo contrário. Numa iniciativa até agora inédita, ao estilo muito na moda do pop up (designação para algo que tem data certa para começar e acabar), parte da equipa de cozinha e de sala do restaurante algarvio transferiu-se de armas e bagagens para o Tivoli Palácio de Seteais, em Sintra, de 13 de dezembro a 14 de fevereiro. 

[Surpresa 2: macaron de enguia (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]
[Surpresa 4: madalena de chouriço com frutos cristalizados (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A parceria, que apanhou muitos desprevenidos, foi pensada para que as duas partes saíssem a ganhar: o Vila Joya não teve o ónus de uma paragem e o Tivoli de Seteais, mais conhecido pelo seu romantismo histórico do que pela boa cozinha, pôde proporcionar uma nova experiência não só aos seus hóspedes habituais como até atrair um outro público — o primeiro balanço feito revelou uma clientela sobretudo portuguesa, oriunda da região de Lisboa, mas também de pontos mais distantes como o Norte ou até mesmo, por incrível que pareça, o Algarve. 

[Surpresa 5: corneto de salmão com alho preto (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Sendo ambos pequenos hotéis de charme, o Vila Joya e o Tivoli Seteais possuem temperamentos e imperativos diferentes. 

[Surpresa 6: canelloni de carabineiro e açafrão (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

O primeiro desafio a ultrapassar foi a de trazer e instalar boa parte do equipamento de cozinha (digno de um dois estrelas) numa cozinha velha do palácio. Já a sala escolhida para instalar o Vila Joya pop up em Seteais dificilmente poderia ter sido mais feliz; trata-se da Sala D. João VI, íntima e luminosa, virada para os jardins e apoiada por um foyer, onde foram postas apenas cinco mesas com capacidade para um máximo de 20 pessoas. 

[Surpresa 7: ovo com sabayon de sapateira (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)] 

Nem mais, nem menos. 

[Amuse-bouche: ostras Gillardeau com tapioca, salicórnia e espuma (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Até 14 de fevereiro, não por coincidência o Dia de São Valentim (que terá uma ementa especial, não divulgada por enquanto), esta versão pop up terá mudado de menus todas as três semanas, assegurando o serviço de almoço e de jantar de quinta a domingo. 

[As várias manteigas do couvert (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A união entre o cenário de um e o saber-fazer do outro resulta, no mínimo, em algo digno de ser vivido e apreciado. Além do equipamento e da equipa, o Vila Joya trouxe também a sua marca — das toalhas ao serviço de mesa. 

[Lavagante do Atlântico com maçã e bergamota (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Para os almoços pensaram numa ementa de três pratos (a 95 euros por pessoa) e para os jantares numa outra com seis (a 165 euros por pessoa), sendo que num caso e outro se tem à disposição duas opções de maridagem com vinhos (uma a 55 euros e outra a 85 euros por pessoa). 

[Entre-pratos: Crème brûlée de Roquefort com espuma de Brie e ananás (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Koschina não está presente em Seteais, mas a equipa de cozinheiros sabe, na sua ausência, honrar aquilo que se espera do Vila Joya, em Albufeira ou em Seteais: uma cozinha muito equilibrada, em que vários produtos locais (sobretudo o nosso peixe e marisco, mas também os vinhos e espumantes), a par de outros ingredientes incontornáveis como o foie gras, a carne Wagyu, as trufas pretas ou a Alcachofra de Jerusalém, se submetem a uma técnica centro-europeia. 

[Wagyu com caviar, almôndegas de tutano...]
[... e vários vegetais miniatura como a cebola Perla (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

E porque há um lado lúdico a não esquecer, cada vez mais parte da experiência de se comer num restaurante deste nível, a par dos pratos e dos vinhos, o que mais encanta são as constantes surpresas que, ainda antes do sempre esperado amuse-bouche, nos entretém os sentidos — chegam sob a forma de cones, de macarons, de chips, de madalenas ou até dentro de ovos (como o sabayon de sapateira), com combinações inusitadas (enguia fumada com bacon e ameixa, por exemplo), uma riqueza de detalhes digna de ourives e comem-se à mão. 

[Sobremesa: framboesas e chocolate servidos com um Taittinger Brut Réserve (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Afinal, um casamento não tem de durar para sempre. Deve durar o tempo certo para nos fazer felizes. Como é o caso.  

Vila Joya pop up em Seteais Tivoli Palácio de Seteais | Rua Barbosa du Bocage, 8, Sintra , reserva pelo tel. 219 233 200; almoços e jantares de quinta a domingo (até 14 de fevereiro) 

8.1.13

domingo é dia de brunch em la boulangerie by stef

[Fachada da LBBS (foto de nuno santos editada por jms)]

Ano novo, post novo. E já não era sem tempo. Os meus afazeres como coordenador editorial da revista Volta ao Mundo complicaram a minha rotina nos últimos meses de 2012, mas, entrado 2013, prometo maior disciplina e assiduidade por aqui :)

Recuando aos últimos dias de 2012, precisamente, cumpri por duas vezes um ritual que aprecio bastante: o do brunch.

Às vésperas do Natal, incauto, achei por bem aproveitar o começo frio de uma tarde de sábado para ir finalmente conhecer o brunch do Pão de Canela, ponto assente na Praça das Flores, ao Príncipe Real.

Assumo que não terá sido a melhor altura para o fazer — lotação esgotada nos dois primeiros turnos, mesas e mais mesas de grupos e famílias que ali quiseram brincar ao amigo oculto; uma ideia simpática, não fosse o facto de atravancaram tudo e de se tornarem para os demais clientes "amigos de Peniche" —, mas não fiquei convencido. O preço é realmente interessante (não chega aos 14 euros por pessoa), com direito a repetir o que se quiser no buffet, mas, embora farto, a qualidade da maioria dos produtos é sofrível, o serviço pouco atento. Resumindo: senti falta de algo mais artesanal e personalizado. Entendo que muitos elogiem a sua relação qualidade-preço, mas, por mim, prefiro pagar um pouco mais e comer um pouco menos, mas melhor. 

Uma questão de escolha (e de gosto).

[A mesa mais disputada junto à janela (foto de nuno santos editada por jms)]

E foi assim que, no domingo seguinte, em vésperas de Réveillon, aportei em La Boulangerie by Stef, numa esquina providencial da Baixa Lisboeta, na rua da Madalena.

[Atmosfera vintage na Baixa lisboeta (foto de nuno santos editada por jms)]

Aberta há pouco mais de um ano, esta padaria com ares parisienses mas sem tiques de grandeza (uma mania que tomou conta de outras suas congéneres espalhadas pela capital), não é uma novidade-novidade. Quer dizer, ainda o é para muito boa gente, mas para muitos tornou-se, por mérito próprio, um porto seguro. Daqueles onde, consoante a hora, pode não ser fácil conseguir uma mesa porque quem chegou antes simplesmente não tem pressa em partir (e nem a isso se sente obrigado).

[À janela, num domingo em que não era tarde nem cedo (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Conhecia a casa — e a fama dos seus croissants, provavelmente (digo eu e não serei o único) dos melhores de Lisboa e arredores, nada "massudos" —, mas não conhecia o brunch, servido apenas aos domingos (das 11.00 às 16.15) e nos feriados (das 10.30 às 19.30).

[Em dia de brunch, melhor reservar mesa (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Para grandes males, pequenos remédios. Telefonei na véspera para marcar e foi a própria Stef (Stephanie Alves) quem me atendeu. Manda a regra que se façam apenas reservas para grupos a partir das quatro pessoas, mas em LBBS, e tratando-se da simpática Stef, isso pode ser um recurso de circunstância. Mesmo estando a dois, não só me fez marcação para a uma da tarde (hora de ponta, portanto), como me perguntou se queria a mesa junto à janela. Claro que queria! Escusado será dizer que me conquistou de supetão. E antes que se apressem a tirar conclusões, esclareço: na altura, a Stef estava longe de me saber jornalista; tão-pouco interessado em escrever sobre ela e a sua LBBS. Isso foi só depois.

[Dandy, mas sem mania das grandezas (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)

Antes, a preocupação era a de não chegar atrasado e desmerecer tanto cuidado. Parisiense, mas radicada no nosso país, Stef deixou-se levar por um sentimento bem conhecido dos portugueses: a saudade. No seu caso, a saudade de comer uns bons croissants e pain au chocolat. Da cidade de Lille, onde estagiou numa das maiores padarias, trouxe o conhecimento e o traquejo que precisava não para meter a mão na massa mas para saber exigir e manter o padrão de qualidade dos pães e dos doces de LBBS —  entretanto essa mesma exigência e saber-fazer fez que, falhada a tentativa de ter um padeiro português à altura da missão, Stef passasse a assumir também a confeção.

[Compotas biológicas de Azeitão e Nutella à discrição (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A casa é acolhedora. Lembra uma padaria de bairro. Muita madeira, movéis antigos recuperados, candeeiros das décadas de 1940 e 1970, louça em grés da Costa Nova, bules em ferro, revistas para ler, apontamentos rústicos mas cheios de charme, bem como algumas soluções simples, mas inspiradas. A classe está lá, em pequenas doses, mas sem complicações e sem se armar ao pingarelho.

E são simpáticos.

[Brunch na mesa, parte I (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A ementa do dia é escrita na ardósia e costuma haver tartines, hambúrgueres, saladas, vinhos e pães, claro. A manteiga usada na produção dos pães (duas fornadas por dia) vem de França; o chocolate (70% de cacau) do pain au chocolat da Bélgica. Detalhes que fazem a diferença. Mas também há coisas portuguesas, como os frascos de compota biológica de Azeitão (que estão sempre à disposição nas mesas, bem como a Nutella).

[Brunch na mesa, parte II (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

entre os 15 e os 17 euros por pessoa, a fórmula de brunch dá direito a uma cesta de pães, uma bebida quente (café, chás, galão ou cappuccino), um copo de sumo de laranja (a minha única ressalva: achei que em vez de um copo por pessoa poderiam dar um pequeno jarro para duas pessoas e colocar menos água no sumo...), um croissant ou um pain au chocolat (são enormes, um e outro) e um prato a eleger entre cinco opções de saladas que se combinam, caso a caso, com diferentes tipos de queijos, ovos mexidos, salmão, quiche e charcutaria — a última novidade a chegar foi a Salada com toasts e ovo cocotte com foie gras.

Por volta das duas e pouco da tarde, as mesas estavam já todas praticamente ocupadas. E nunca, em momento algum, me senti coagido a deixar livre o meu poiso privilegiado à janela. Ponto para a Stef. E para nós, lisboetas e não lisboetas, que ganhámos um cheirinho bom a Paris num dos trechos mais castiços da cidade.


Rua da Madalena, 57, tel. 936 155 742, de ter. a sex., entre as 09.00 e as 20.00; ao sáb., entre as 10.00 e as 20.00; ao dom., entre as 11.00 e as 17.00
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