29.7.11

tascarepública

[Velharias e peças desencontradas, é esta a nota dominante da TasCaRepública, para os lados de São Bento (fotos de divulgação)]

Há quem nunca lhes tenha virado as costas, mas esses, provavelmente, não são  hoje os clientes que frequentam as novas tascas e tabernas de Lisboa. 


A cada dia que passa, a moda alastra e não deve parar tão cedo, mesmo em tempos de alardeada crise.

[A entrada, assumidamente kitsch (foto de divulgação)

Grosso modo, a fórmula parece simples e não difere muito de caso para caso, o que não quer dizer que sejam favas contadas. Às tascas e tabernas de agora, para lá do estilo garagem-sotão-arrecadação-meets-feira-da-ladra que se tornou quase um uniforme corporativo, não podem faltar bons petiscos à portuguesa (mas com um toque de novidade), uma lista de vinhos marcadamente nacional e alma convivial, essa subtileza intangível, mas determinante, para que um lugar caia no goto e outro não.

[A colecção de relógios de parede, com e sem cuco, da TasCa (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A TasCaRepública (é assim mesmo que se escreve, tudo ao molho, para induzir ao duplo sentido sempre tão apreciado pelo humor tuga), a meio caminho entre o Rato e São Bento, conseguiu-o e vive em estado de graça desde finais de 2010, altura em que abriu as portas, em vésperas das comemorações do Centenário da República.

[foto de divulgação]

Francisco e Maria Adelaide Completo, o casal de proprietários, testaram o conceito na sua primeira tasca, a do Urso que fica para os lados do Príncipe Real, mas esta, pela sua localização, ganhou desde logo uma clientela muito especial aos almoços. Claro que ajuda ter um menu a €10 com escolha de pratos portugueses, mas não é (só) por isso que a Assembleia da República, em peso, pára ali para almoçar. O ambiente conta muito. A discrição, no melhor género as paredes-podem-ter-ouvidos-mas-fica-tudo-aqui, também.

[A ementa ao jantar (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Aos jantares, a coisa muda de figura. Mas nem por isso é menos concorrida. Durante meses a fio, sempre que eu ou algum amigo se lembrava, à última da hora, de querer ir experimentar, dávamos, em bom português, com os burros na água. Lotada.

[A louça antiga e o couvert com broa e tremoços (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Por fim, numa destas noites mais sossegadas, em que meia Lisboa se pira para outras paragens de veraneio, eis que eu e uma cúmplice habitual nestas incursões gastronómicas conseguimos o nosso intento. Aleluia.

[Tiborna de presunto (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Com duas salas, a TasCa não é grande, mas está cheia de detalhes, alguns dos quais de gosto assumidamente duvidoso. Acho graça ao diner luminoso à entrada, a fazer pandan com um carrinho de bebé que serve de bar. Nas mesas, há cadeiras desencontradas, naperons de plástico e pratos desirmanados.

[Alheira transmontana com queijo Chèvre e geleia de tomate (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Na carta dos jantares, já dei a entender, os petiscos são quem mais ordena, havendo apenas 4 opções de pratos de faca e garfo. A lista é grande, mas têm muita saída as tirbornas de presunto, a alheira transmontana com chèvre e geleia de tomate (frita no ponto, e não a desfazer-se), os peixinhos da horta, as pataniscas de bacalhau com molho de iogurte, os cogumelos recheados com queijo e ervas, e por ai vai.

[Espera-Maridos, a sobremesa a que os mais gulosos não resistem (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A Carta de vinhos dá maior destaque aos tintos, com preços médios. Não era o caso naquela noite, mas acho que numa legítima tasca nunca é demais ter igualmente boas opções de vinho a copo. Se havia, não dei por elas.

No couvert, gostei do detalhe da broa, entre mais um ou dois tipos de pão, num cesto com pano bordado e dos tremoços. Típico e oportuno.

Nas sobremesas, quem lá conseguir chegar depois dos entreténs de palato, a mousse de lima é boa (mas seria ainda melhor se estivesse mais fria) e o Espera-Maridos não desilude quem aprecia doces portentosos. 

Quase 30 euros à cabeça (com vinho e uma caipirinha de aperitivo) e o sentimento de dever cumprido.

Rua de São Bento, 312, tel. 213 951 583, almoços, de seg. a sáb.,  entre as 12.00 e as 15.00; jantares, de ter. a sáb., entre as 18.30 e as 02.00

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