27.6.11

estrela, parte 2 | a cantina

[A Cantina, o restaurante do Hotel da Estrela, alinha pelo mesmo espírito escolar, mas os alunos da Escola de Hotelaria estão ainda mais presentes (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


Apresentado o hotel, é chegado agora o momento de passar à mesa.

Quem leu o post anterior — e quem não o fez, é fácil, bastar clicar aqui —, não vai ficar surpreso se começar por dizer que o nome escolhido, Cantina da Estrela, não é apenas um mero exercício de retórica ou de estilo.

No hotel a temática escolar está omnipresente, para onde quer que nos viremos; no restaurante, situado no piso -2 e com entrada directa pela rua através do jardim e da esplanada, a decoração não destoa, mas é — acertadamente, a meu ver — mais subtil nas referências. Ainda assim, os apontamentos, escolhidos a dedo, não enganam: numa mesa central, ladeada de cadeiras Eames, lá estão a máquina de escrever Royal, os mapas, as réguas, os esquadros...

Num universo escolástico, sejamos sinceros, a palavra cantina nem sempre nos traz boas recordações. Não, pelo menos, no que diz respeito à qualidade da comida. Pois bem, quanto a isso, e já à laia de salvaguarda, não há o que temer.

[A Cantina da Estrela mistura, como o hotel, elementos tradicionais das décadas 1940 e 1950 com peças de design contemporâneo criadas por Panton ou Eames (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A Cantina da Estrela, com capacidade para 60 pessoas, quer ser um restaurante de bairro, o que, por outras palavras, equivale a dizer ambiente familiar, despretensioso — mas moderno, funcional — e uma cozinha saborosa, de raiz mediterrânica, à base de produtos frescos. É um restaurante "à séria", mas divertido e com o seu quê de experimental — mas calma, não se precipite ao ver nisso um sinal de fraqueza ou excentricidade.

(É assim a mesa posta na Cantina da Estrela (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Explico melhor.

A ementa foi criada e é supervisionada pelo chef Luís Casinhas, mas a equipa que a executa e que serve às mesas é sobretudo constituída pelos alunos da Escola de Hotelaria de Lisboa, honrando assim o protocolo estabelecido.

Este facto desperta a curiosidade, mas será que, por outro lado, também não levanta suspeitas a um público por norma mais conservador que, sem saber exactamente ao que vai, pode julgar que o querem tomar por cobaia para aprendizes de feiticeiro?

Nada disso.

Na verdade, o mais provável é até que se abstraia do facto de estar a ser servido por alunos e que só se lembre do conceito pelo facto de a ementa ser, ela também, algo sui generis.

Não, a comida é sagrada e quanto a isso não há brincadeiras. A "novidade" tem a ver com o processo de pagamento, pois cada item do cardápio tem um valor mínimo e um valor máximo, pelo que cabe ao comensal, mediante o seu grau de satisfação, optar por um ou por outro.

E, da mesma forma, no final, o cliente é também chamado a pronunciar-se sobre o serviço, cabendo-lhe decidir se quer deixar uma "gorjeta" de €2 (mínimo) ou de €4 (máximo). Não há intervalos de valor, é mesmo para eleger entre o mínimo e o máximo. Como numa prova, o pessoal da Cantina da Estrela quer ser constantemente avaliado.

Confuso? Talvez fique mais claro se passarmos à parte prática.

[©joão miguel simões, todos os direitos reservados]

Comecemos pelo couvert, que, tal como as bebidas, é uma excepção à regra, pois tem um preço fixo de €2. É constituído por pão, manteiga e o que houver no dia (no meu caso foi azeitonas e uma salada bem temperada).

[©joão miguel simões, todos os direitos reservados]

Nas entradas, que na foto aparece junto ao pão do couvert (detalhe, vem numa vasilha), optei por uma sopa fria de rúcula, polvilhada de pinhões, pela qual poderia pagar €3 ou €6. Outras opções: carpaccio de bacalhau com picadinho alentejano, creme de alho francês e amêndoa ou pissaladière (base de massa folhada, muito fina).

[©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Como prato principal, elegi o que me parece ser um dos cartões de visita da casa: o risotto de citrinos com vieiras, servido num belo tacho, pelo qual se pode pagar €7 ou €14.

[©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Existe, claro, mais por onde escolher. Linguini nas massas; polvo, bacalhau ou salmão no peixe; hambúrguer, cachaço de porco preto, borrego, bochecha de vaca ou bife do lombo nas carnes. Variam entre os €7 e os €20.

[©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Nas sobremesas ("mas só para os meninos que comeram a papa toda", como se lê na bem-humorada ementa), não resisti a provar a versão de ovo d'O Melhor Pão-de-ló do Universo (já falei da versão de chocolate, a minha preferida, aqui), polvilhado com canela (hummm!), entre €3,50 e €7.

[©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Quem quiser pode antes optar pelo leite creme com gelado de tomilho, par de crumbles, sopa fria de morango, gelado de salame de chocolate, gelados Artisani e fruta da época. Entre €2 e €6.

[O estilista Manuel Alves no dia em que foi conhecer a Cantina da Estrela ©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Na hora de tomar o café, para encerrar a experiência com chave de ouro, nada como agarrar no dito e ir para a esplanada, agora que o tempo a isso convida. Aliás, o bar e a esplanada, durante a happy hour, servem bebidas por metade do preço. Para anotar.

Rua Saraiva de Carvalho, 35, tel. 211 900 100, de ter. a sáb, almoços entre as 12.30 e as 15.00; jantares entre as 19.30 e as 22.30

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