17.5.11

fora de portas: sabores de verão no grande real villa itália (cascais)

[O Grande Real Villa Itália, hoje um hotel cinco estrelas em Cascais, já foi residência dos reis de Itália (foto D.R.)]
Quase no final de uma semana que já lá vai, uma proposta fácil de aceitar sem pensar muito: conhecer a ementa de Verão do La Terraza e do Belvedere, no Grande Real Villa Itália Hotel & Spa, em Cascais. E foi assim que, numa manhã a mais de meio, deixei para trás o Cais do Sodré, enfeitado de jacarandás em flor e a cheirar a morangos maduros, já só com olhos para a marginal. 

É em dias como este, com um gosto a matiné furtiva, que prazeres simples nos sabem melhor. Não que faltem sugestões ribeirinhas igualmente tentadoras no perímetro de Lisboa, mas ter uma costa assim, à mão de semear, é um luxo e um privilégio que, não tão raras vezes como isso, damos por barato. 

O Villa Itália, quase à saída de Cascais para quem segue em direcção ao Guincho, é um cinco estrelas relativamente recente que já serviu, em tempos idos, de residência aos reis de Itália, que, à semelhança de outras famílias reais europeias sem trono, viveram um doce exílio na "riviera" portuguesa. Talvez por isso, o estilo do hotel, ainda que com apontamentos contemporâneos, é mais clássico, mas informal q.b., o que só lhe fica bem quando um dos seus principais trunfos é, precisamente, a fabulosa vista para o mar.

[Terraço do restaurante Belvedere, a funcionar durante o Verão, a partir de Julho (foto D.R.)]

Do hotel e do spa, muito mais haveria a dizer, mas não foi isso que me trouxe aqui desta feita. Com a chegada do bom tempo, o Villa Itália abrirá, a partir de Julho, as portas do seu Belvedere, restaurante com terraço panorâmico; um pretexto mais do que válido para que o chef executivo Paulo Pinto, capitão da selecção olímpica de culinária, criasse um novo menu estival que se estende também, ainda que de outra forma, ao restaurante-bar La Terraza.

Num caso e noutro, o hotel, que se vem desdobrando em várias iniciativas (entre elas, um jantar-arraial que terá lugar na véspera de Santo António), quer ser levado a sério pela sua vertente gastronómica e que quem não está aqui hospedado pense nele como uma alternativa a outros bons restaurantes da Linha.

Não provei o novo cardápio do Belvedere, mas posso adiantar que possui um menu de degustação, às quartas-feiras, por €30/pessoa (sem bebidas, sendo que nos restantes dias, o preço médio é de €50). A proposta passa por ser mais gourmet e refinada, dividida por entradas (como tártaro de bisonte em flor de alcaparra ou carpaccio de vieiras), massas e risottos, pescados (como naco de atum na chapa com citronela), carnes (como carré de borrego assado com alecrim) e sobremesas (a parte mais generosa da carta).

Não é uma incursão na alta gastronomia — tão pouco há pretensões a esse nível, pareceu-me —, mas antes, e uma vez testada a fórmula anterior, uma tentativa de trazer uma maior sofisticação à cozinha de base mediterrânica. Por outras palavras, a ementa continua abordável para a maioria dos paladares, que reconhecem ingredientes e sabores, mas permite-se algumas inovações e um apuro da técnica.

[No topo, da esq. para a dir.: couvert; La Terraza; brusqueta de mozzarela; em cima, da esq. para a dir.: vieiras coradas com puré de ervilha; close-up do guardanapo; pastelinhos de baunilha com sorvete de maçã verde (fotos de JMS)]

No caso do La Terraza, posso falar com maior conhecimento de causa. Como preço médio estima-se um valor de €25 à cabeça (sem bebidas), mas há várias possibilidades, pois a ementa divide-se em couvert (entre €3 e €5), tapas frias (todas a €8), tapas quentes (todas a €12) e sobremesas (todas a €6) — existem outras sugestões, mas esta é a espinha dorsal do menu estival do La Terraza.

No couvert, provei o pão de azeitonas e o queijo de ovelha amanteigado, que é sempre um bom entretém de palato. Seguiu-se, nos frios, uma brusqueta com mozzarela de búfala, rúcula e foie gras, que faz perfeitamente as vezes de um prato ligeiro; e umas vieiras coradas com puré de ervilha e bacon, nos quentes, que achei interessante, mas que não me convenceu por inteiro; a finalizar, nas sobremesas, pastelinhos de baunilha com sorvete de maçã verde e creme de frutos vermelhos, bom de comer, mas não tão bem conseguido visualmente. Aliás, se me é permitida a observação, eu diria que, de uma forma geral, achei o empratamento — porque os olhos também comem — um pouco démodé.  Podem conseguir um efeito melhor, tenho a certeza, se optarem por algo mais clean, sem precisar de ser minimal. 

[Vinhos Senhor d'Adraga, produzidos pela Quinta de Santa Maria, em Colares (fotos D.R.)]

Interessante foi também a parceria iniciada com os vinhos Senhor d'Adraga, produzidos pela Quinta de Santa Maria, em Colares. São vinhos muito jovens ainda, mas que contam com incentivos de peso como a recente medalha de prata conquistada pelo branco de 2010 no Concurso Mundial de Bruxelas, e se revelam particularmente intensos devido à sua forte mineralidade (sente-se a influência marítima). O seu aroma frutado engana um pouco, pois na boca revelam-se ácidos. Não nos conquistam ao primeiro gole, nem perduram muito na boca, mas não nos deixam indiferentes e têm personalidade. Um caso a seguir.

Restaurante-bar La Terraza | Grande Real Villa Itália Hotel & Spa, rua Frei Nicolau de Oliveira, 100, tel. 210 966 000, todos os dias, entre as 12.30 e as 22.30
Restaurante Belvedere | Grande Real Villa Itália Hotel & Spa, rua Frei Nicolau de Oliveira, 100, tel. 210 966 000, de ter. a sáb., entre as 19.30 e as 22.30 (a partir de Julho, durante o Verão)

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